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Pesquisa revela que nenhuma droga é eficiente no combate ao coronavírus

Pesquisa revela que nenhuma droga é eficiente no combate ao coronavírus

O estudo feito por cientistas da Universidade do Texas analisou remédios que se encontram em uso

Publicado em 16 de abril de 2020 às 10:32

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Cientistas estudam o novo coronavírus
Cientistas estudam o novo coronavírus. (Polina Tankilevitch/ Pexels)

Um levantamento realizado por cientistas da Universidade do Texas, nos EUA,  analisou mais de 100 testes clínicos de medicamentos para combater o novo coronavírus. Segundo o estudo, "nenhuma terapia se mostrou efetiva até agora". As informações foram divulgadas pelo jornal O Globo. 

A pesquisa foi encomendada pela Associação Médica Americana (AMA), que já lista muitas iniciativas fracassadas. Algumas geram dúvidas nos cientistas e eles não conseguem esconder a frustração com a falta de evidência para as drogas.

O trabalho publicado no jornal  acadêmico da AMA, o JAMA, fez uma varredura na literatura médica publicada até 25 de março, com o registro de 350 testes clínicos relacionados ao novo coronavírus. No entanto, muitos testes eram sobre vacinas (não fármacos) ou pacientes pediátricos, não sendo esse o objetivo da análise.  Dessa forma, sobraram 109 testes clínicos, além de mais 1.000 estudos, os quais abrangem casos isolados do vírus.

Uma droga deixada de lado é o Tamiflu (oseltamivir). O remédio contra a gripe, foi usado em pacientes com Covid-19 que não tinham recebido diagnóstico adequado. Médicos avaliaram que o medicamento não funcionava bem. O uso de corticoides também foi outra droga que se mostrou ineficiente.

TESTES

Um medicamento que nutre um pouco de esperança encontra-se no antiviral remdesivir, criado originalmente para combater o ebola, mas que ainda não foi aprovado para comercialização em diversos países. De acordo com um teste que reuniu dados de 53 pacientes nos EUA, Itália, Japão e Canadá, foi possível observar uma melhorar em 36 pessoas (68%) que usaram a droga. 

Contudo, um artigo publicado sexta-feira (10) no New England Journal of Medicine informou que os próprios autores do trabalho reconhecem a falta da evidência de eficácia do antiviral remdesivir, uma vez que que os voluntários não foram comparados a pessoas recebendo placebo ou outros tratamentos.

O programa Solidarity, da Organização Mundial da Saúde (OMS), busca conseguir evidências melhores da eficácia de algumas drogas, por isso, está organizando um teste em grupos maiores em vários países. Um dos fármacos que serão utilizados no projeto é o remdesivir, além dele há também o anti-HIV Kaletra (combinação dos fármacos lopinavir e ritonavir), o interferon-beta, usado para atrite reumatóide, e a variação cloroquina/hidroxicloroquina, usada contra malária.

No entanto, até o momento, nenhum dos tratamentos escolhidos obteve resultados.

HIDROXICLOROQUINA

A hidroxicloroquina não provocou muita animação nos os autores da revisão do JAMA, liderados pelo farmacólogo James Sanders.  O farmacólogo afirma que  testes com resultados promissores na França eram em grupos pequenos e, portanto,  não calcularam voluntários excluídos do teste por problemas de adaptação à terapia. Na China foi realizado um teste parecido, com um grupo mais adequado para comparação, porém, não notou benefícios da cloroquina.

KALETRA

Apesar de ter se mostrado como promissor no início da epidemia, o Kaletra não apresentou resultados positivos, de acordo com um teste com 199 pacientes hospitalizados por Covid-19 na China, publicado em março no New England Journal of Medicine.  Para os cientistas, há a possibilidade dos efeitos serem perceptíveis apenas para pacientes graves.

ESPERANÇA

Aprovado na Rússia e na China para tratamento de gripes severas, o Arbidol reduziu um pouco a taxa de mortalidade num teste com 67 pacientes chineses. 

Além desse medicamento, o mesilato de camostat, uma droga japonesa aprovada para pancreatite, mostrou boa eficácia em testes de tubo de ensaio contra o coronavírus. O farmacólogo James Sanders e seus coautores informam que é importante ter calma e manter o padrão de segurança das pesquisa.

O ribavirin, droga que foi testada contra a SARS e a MERS, doença causadas por outros coronavírus agressivos, está sendo reconsiderado. Entretanto, o medicamento apresenta um histórico complicado de efeitos colaterais.

"O ribavirin causa toxicidade hematológica severa", relatam os pesquisadores. "As altas doses usadas nos testes para SARS resultaram em anemia hemolítica para mais de 60% dos pacientes. Num teste similar com a MERS, em combinação com interferon, 40% dos pacientes acabaram precisando de transfusões de sangue."

CIÊNCIA

O virologista do Instituto de Ciências Biomédicas da USP Paolo Zanotto, leu o artigo do JAMA e disse que o considera "excelente", mas afirma que o ritmo da produção de pesquisas sobre a Covid-19 já o torna um tanto obsoleto.

"Essa é uma revisão extensiva e seminal, mas não inclui estudos mais recentes ou drogas como a ivermectina, que está parecendo muito promissora, e o uso de heparina", pronunciou Zanotto.

Zanotto disse ainda que defende a hidroxicloroquina e que os resultados mais robustos ainda estão por vir.

"Estamos acompanhando um estudo onde deram ao pacientes a escolha de optar ou não pela terapia. A maioria da centena que optou por receber concentrava aqueles com maior risco, devido a comorbidades (doenças preexistentes). O grupo que foi tratado com hidroxicloroquina e azitromicina na fase ambulatorial teve um quinto da taxa de hospitalização" comunicou.

DESAFIO

Para Sanders e seus autores no estudo de JAMA, há o reconhecimento do desafio do trabalho que está sendo realizado. O Brasil é um dos países que estão contribuindo, ainda que de forma modesta, com protocolos de pesquisa.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está testando a combinação atazanavir/ritonavir, e o Hospital Sírio Libanês de São Paulo tem pacientes recebendo cloroquina. Um estudo do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo, está usando medicamentos anticoagulantes para pacientes graves.

"O ritmo frenético da literatura médica publicada sobre a Covid-19 significa que as recomendações e descobertas estão evoluindo constantemente com as novas evidências", escreveu Sanders. "O que foi publicado até agora deriva exclusivamente de dados observacionais ou de testes clínicos pequenos, nenhum com mais de 250 pacientes, e isso introduz um risco maior de viés ou imprecisão."

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