Publicado em 24 de setembro de 2025 às 05:32
Após a forte reação negativa à chamada PEC da Blindagem, a tentativa de alterar a Constituição para proteger parlamentares de processos criminais pode ser barrada no Senado nesta quarta-feira (24/9).>
A proposta de emenda constitucional (PEC) foi aprovada na semana passada na Câmara, gerando críticas nas redes sociais de amplos setores sociais e protestos liderados pela esquerda nas ruas das capitais do país no domingo (21/9).>
A PEC prevê que processos criminais contra deputados e senadores só possam ser iniciados no Supremo Tribunal Federal (STF) após aval do Senado ou Câmara, em votação secreta.>
Hoje, o STF pode iniciar ações penais livremente, e as casas legislativas têm poder de suspender depois os processos, o que não costuma ocorrer.>
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A maioria do Senado já se manifestou contra a proposta. Segundo uma enquete do jornal O Globo, 55 dos 81 senadores querem a rejeição da PEC.>
Para uma proposta de alteração da Constituição entrar em vigor, tem que ser aprovada com texto idêntico na Câmara e no Senado.>
A previsão é que a proposta seja votada nesta quarta, a partir de 9h, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, onde deve ser barrada. O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), escolhido como relator da PEC, já apresentou um parecer por sua rejeição na noite de terça-feira (23/9).>
"A presente PEC teria o real objetivo de proteger autores de crimes graves, como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o que configura claro desvio de finalidade e, consequentemente, inconstitucionalidade", argumenta o relatório. >
"Não podemos confundir prerrogativas com proteção àquele que comete crimes. A sociedade brasileira grita em sentido diametralmente oposto, ou seja, ela almeja o fim da impunidade, como as amplas manifestações públicas sinalizaram no último domingo", continuou.>
Caso de fato a PEC seja barrada na CCJ, ela ainda pode vir a ser votada no plenário do Senado, mas ainda não está claro se isso vai ocorrer.>
Segundo o regimento interno no Senado, uma proposta barrada na CCJ depois é encaminhada ao presidente da Casa, atualmente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para ser arquivada.>
Após esse arquivamento, há prazo de dois dias para a apresentação de um recurso solicitando que a proposta rejeitada na CCJ seja votada no plenário.>
Esse recurso precisa de apoio de um décimo dos senadores (são 81 no total) para ser apresentado, mas só entra em votação se houver acordo entre os líderes partidários e o presidente do Senado.>
Caso não seja apresentado recurso, a PEC seria enterrada. Uma nova proposta de mesmo teor só poderia ser apresentada no ano seguinte, e teria que ser aprovada tanto no Senado como novamente na Câmara. O mesmo ocorre se for rejeitada no plenário. >
A proposta polêmica ganhou aval da grande maioria dos deputados na semana passada. Foram 353 votos a favor e 134 contra, ou seja, uma boa margem acima dos 308 votos necessários para aprovar uma alteração da Constituição.>
Os partidos que entregaram maiores percentuais de votos contra a proposta foram PSOL, PCdoB, Rede, Novo e PT.>
Ficaram 100% contra as bancadas de PSOL, PCdoB e Rede. Já o Novo, teve 80% de votos contrários, e 20% de deputados que não se manifestaram.>
E o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), teve 76% de votos contra, 18% a favor e 6% que não votaram.>
Do outro lado, partidos da direita bolsonarista e do Centrão foram os que mais apoiaram a proposta. PP, Republicanos e PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), deram mais de 90% dos votos de suas bancadas pela aprovação da PEC.>
Durante a votação, deputados bolsonaristas defenderam a proposta, argumentando que o STF persegue parlamentares e outros políticos de direita. No início de setembro, Bolsonaro foi condenado por tentativa de golpe de Estado.>
"Essa PEC não é a PEC das Prerrogativas, na minha opinião. Essa PEC é a PEC do fim da chantagem, a PEC do fim da perseguição!", disse, exaltado, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO).>
"É a PEC da libertação desse Congresso para que a gente possa votar de acordo com os nossos eleitores e não de acordo com a vontade de alguns não eleitos do Supremo Tribunal Federal", reforçou.>
Além do campo bolsonarista, o Centrão, grupo de partidos conservadores, também votou a favor da PEC na Câmara, em um momento que o STF tem apertado o cerco sobre suspeitas de corrupção envolvendo emendas parlamentares — recursos federais que congressistas podem destinar a seus redutos eleitorais.>
Enquanto o texto aprovado na Câmara caminha para ser rejeitado no Senado, senadores da oposição ao governo Lula tentam aprovar outra versão da chamada PEC da Blindagem.>
Sergio Moro (União Brasil-PR), Ciro Nogueira (PP-PI), Rogério Marinho (PL-RN) e mais dez senadores apresentaram uma emenda para alterar o texto.>
A proposta é que só seja exigido o aval das casas legislativas para abertura de processos envolvendo "crime contra a honra, bem como de qualquer imputação fundada exclusivamente em opiniões, palavras e votos do parlamentar, ressalvado o crime de ameaça".>
Os defensores dessa versão para a PEC dizem que ela busca proteger a liberdade de expressão dos parlamentares, reforçando o artigo 53 da Constituição, que estabelece o seguinte: "os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos".>
No caso dos demais crimes, a proposta prevê que a regra atual seria mantida, ou seja, o Supremo teria liberdade para iniciar processos criminais contra parlamentares, enquanto o Congresso poderia apenas suspender uma ação penal após ela ser iniciada na Corte.>
A proposta liderada por Moro também prevê que as votações para autorizar processos criminais sejam abertas, ou seja, sem voto secreto, como aprovado na Câmara.>
"É por meio da voz dos congressistas que a sociedade se faz presente no Parlamento. Assim, qualquer tentativa de cercear essa manifestação, mediante processos judiciais instaurados de forma precipitada ou movidos por interesses externos, compromete não apenas a atuação do representante eleito, mas também o próprio princípio da representatividade", argumentam os senadores, na justificativa da emenda.>
A proposta é originalmente de 2021 e foi apresentada por Celso Sabino — na época, deputado pelo PSDB-PA e hoje ministro do Turismo, filiado ao União Brasil — após a prisão em flagrante do ex-deputado Daniel Silveira, determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.>
A prisão foi motivada, na época, por vídeo postado por Silveira nas redes sociais, em que ele ofendeu ministros do STF.>
Apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, Silveira foi condenado pelo STF em 2022 à perda do mandato e à prisão. Ele foi punido pelos crimes de ameaça ao Estado Democrático de Direito e coação no curso do processo. Hoje, está em regime semiaberto.>
Ao justificar o projeto, Sabino afirmou que não ignorava a "gravidade dos fatos" perpetrados por Silveira, mas que a imunidade parlamentar precisava ser melhor protegida.>
A proposta foi impulsionada no início de agosto deste ano, na volta do recesso parlamentar, em reação à decisão de Moraes de decretar a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro.>
Na ocasião, parlamentares bolsonaristas bloquearam plenários e sessões exigindo que o Congresso avaliasse pautas caras a esse grupo, como a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 e o impeachment do ministro do STF Alexanrre Moraes. >
O impeachment de ministros da Corte, porém, só pode ser aprovado no Senado e não há perspectiva de que os pedidos sejam pautados pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).>
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