Publicado em 4 de agosto de 2025 às 19:25
Com decretação da prisão domiciliar Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (4/8), o Brasil vive a quarta prisão de um ex-presidente da República em sete anos. >
Bolsonaro, presidente entre 2018 e 2022, foi preso após descumprir medidas cautelares estabelecidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.>
Bolsonaro se torna então o quarto ex-presidente brasileiro a ser preso, dos oito líderes que o Brasil teve desde o fim da ditadura militar, em 1985.>
Foram presos, além de Bolsonaro, o atual presidente Lula e os ex-presidentes Michel Temer e Fernando Collor de Melo. >
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Os ex-presidentes José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso nunca foram para a prisão. >
Já a ex-presidente Dilma Rousseff foi presa muito antes de se tornar presidente, pela ditadura militar. Dilma, que era ativista política e membro de grupos de esquerda que combatiam a Ditadura, ficou presa entre 1970 e 1972, submetida a torturas.>
Veja abaixo os motivos que os levaram à prisão dos ex-presidentes, além de Bolsonaro.>
O ex-presidente Jair Bolsonaro está sendo julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Portanto, ele ainda não foi condenado nesse processo.>
A prisão domiciliar determinada nesta segunda pelo ministro Alexandre de Moraes ocorre porque o ex-presidente teria descumprido medidas cautelares estabelecidas anteriormente.>
O ex-presidente foi alvo das medidas em 18 de julho porque, segundo Moraes, haveria indícios de que ele estaria praticando ao menos três crimes: coação no curso de processo legal; obstrução de investigação; e atentado à soberania.>
Entre as determinações impostas pelo STF, estavam o uso de tornozeleira eletrônica, o veto ao uso de redes sociais e a proibição de Bolsonaro sair de casa entre 19h e 6h e durante os fins de semana.>
Moraes avaliou na época Bolsonaro e seu filho Eduardo estariam conduzindo "negociações espúrias" com autoridades dos Estados Unidos para pressionar o STF contra o andamento do julgamento sobre tentativa de golpe de Estado. O ministro também avaliou da percepção de que o ex-presidente poderia fugir do país.>
Em 21 de julho, Moraes exigiu uma explicação de Bolsonaro após o ex-presidente aparecer em um vídeo publicado nas redes sociais de Eduardo Bolsonaro mostrando sua tornozeleira, o que seria um descumprimento das medidas cautelares.>
A defesa do ex-presidente negou que o ex-presidente tivesse descumprido as medidas cautelares que o proíbem de utilizar redes sociais, direta ou indiretamente, e pediu esclarecimentos do alcance das medidas cautelares. >
Diante da resposta, Moraes não determinou a prisão de Bolsonaro, mas esclareceu a proibição de ele aparecer em postagens nas redes.>
Tudo mudou nesta segunda, um dia após atos bolsonaristas reunirem apoiadores do ex-presidente pelo Brasil. >
Ao determinar a prisão, Moraes diz que Bolsonaro agiu ilicitamente ao se dirigir aos manifestantes reunidos em Copacabana, no Rio de Janeiro, "produzindo dolosa e conscientemente material pré-fabricado para seus partidários continuarem a tentar coagir o STF".>
Moraes menciona que um telefonema com Bolsonaro foi publicado das redes de seu filho Flávio. Além disso, o ex-presidente atendeu ligação por chamada de vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).>
"Não há dúvidas de que houve o descumprimento da medida cautelar imposta", escreveu Moraes na decisão. >
"O réu produziu material para publicação nas redes sociais de seus três filhos e de todos os seus seguidores e apoiadores políticos, com claro conteúdo de incentivo e instigação a ataques ao STF." >
Além da prisão domiciliar por descumprimento de medidas cautelares, Bolsonaro seguirá sendo julgado no STF acusado de liderar grupo que tentou dar um golpe de Estado no Brasil.>
Segundo a Procuradoria Geral da República, Bolsonaro teria participado da formulação e edição de minutas do golpe.>
Eles fariam parte do que a Procuradoria-Geral da República (PGR) chamou de "núcleo crucial" de uma trama golpista contra a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022 - que culminou com os atos em 8 de janeiro de 2023.>
O atual presidente Lula ficou 580 dias preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, após ser condenado por corrupção na operação Lava Jato, em 2018. >
O petista havia sido considerado culpado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas o STF mais tarde anulou essas condenações por entender que Lula não teve seus direitos respeitados ao longo dos processos conduzidos pelo então juiz Sergio Moro (hoje senador).>
Previsto na Constituição, o princípio da presunção da inocência diz que toda pessoa é considerada inocente até que se prove o contrário em um julgamento realizado dentro da lei. Dessa forma, com a anulação dos processos contra Lula, ele recuperou seu status de inocente perante a Justiça.>
Durante a Lava Jato, Lula chegou a ser condenado em dois processos: o do tríplex do Guarujá e o do sítio de Atibaia.>
No primeiro, o petista foi acusado de receber uma cobertura no Guarujá, cidade no litoral paulista, do grupo OAS como um suposto acerto por desvios de recursos da Petrobras durante o governo petista.>
No segundo, Lula foi acusado de ser beneficiado por obras realizadas por OAS e Odebrecht em um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, que pertencia a um amigo seu e que o ex-presidente frequentava com sua família. Também nesse caso, a força-tarefa da Lava Jato dizia que essas benfeitorias foram bancadas com dinheiro desviado da estatal.>
Em ambos os casos, a defesa de Lula argumentou que os dois imóveis jamais pertenceram a Lula.>
As duas condenações determinadas por Moro foram confirmadas depois pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região, antes de serem anuladas pelo STF.>
Em 2018, Lula foi impedido de disputar a eleição contra Bolsonaro por ter se tornado inelegível diante das condenações.>
Lula foi solto em 2019, após uma decisão do STF que vetou a chamada execução antecipada da pena — impedindo que réus fossem presos após julgamento em segunda instância e antes do esgotamento de todos os recursos possíveis.>
Já em 2021, o STF entendeu que processos contra Lula não deveriam ter tramitado na Justiça de Curitiba, mas no Distritio Federal. Pouco depois, a corte decidiu também que Moro não julgou Lula com imparcialidade.>
Com essas duas decisões, as condenações foram consideradas nulas, mas Lula ainda poderia responder às acusações em novos processos, a serem realizados na Justiça de Brasília. No entanto, esse retorno à estaca zero acabou provocando a prescrição da pretensão punitiva - um "prazo de validade" para o poder punitivo do Estado.>
Como Lula voltou a ser considerado inocente perante a Justiça, ele pôde disputar as eleições de 2022 contra Bolsonaro - da qual saiu vencedor.>
Presidente da República entre 2016 (após o impeachment de Dilma Rousseff) e 2018, Michel Temer foi preso duas vezes em 2019, em desdobramento da operação Lava Jato.>
Por determinação do então juiz Marcelo Bretas, Temer foi detido em março enquanto saía de casa, em São Paulo, e levado ao Rio de Janeiro.>
Quatro dias depois, ele foi solto por decisão de um desembargador do Tribunal Regional Federal da 2º Região (TRF-2), após um pedido de habeas corpus.>
Temer voltaria a ser preso em maio, após o habeas corpus ser revogado pelo colegiado do TRF-2. Cinco dias depois, o ex-presidente foi solto novamente, por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ).>
O inquérito que levou à prisão de Temer investigava se licitações para construção da usina nuclear Angra 3 teriam sido fraudadas para favorecer empresas de AF Consult e Argeplan, esta última do coronel João Baptista Lima Filho, amigo de longa data de Temer preso na mesma operação.>
O Ministério Público Federal acusou Temer de fazer parte de organização criminosa que praticou "crimes de cartel, corrupção ativa e passiva, lavagem de capitais e fraudes à licitação".>
Para pedir a prisão, o MPF argumentava que havia um esquema em andamento para dificultar as investigações ligadas ao grupo liderado por Temer, incluindo monitoramento das investigações e dos investigadores.>
Além do caso que levou à sua prisão, Temer foi alvo de mais de dez inquéritos, em casos como o da JBS, quando foi flagrada uma conversa em que ele diz "tem que manter isso aí" ao empresário Joesley Batista, ao falar sobre o ex-deputado Eduardo Cunha.>
Temer continuou respondendo aos processos, mas nunca foi condenado e permanece livre. Muitos dos processos que envolvem o ex-presidente foram arquivados, inclusive o que levou à sua prisão.>
Em 2021, o ministro Alexandre de Moraes anulou duas ações penais no âmbito da operação sobre Angra 3, determinando o envio dos processos para o Distrito Federal.>
Já em Brasília, em 2022, o juiz Marcus Reis Bastos rejeitou a acusação por ser "genérica e sem provas". O Ministério Público Federal recorreu ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília.>
Em 2023, O TRF1 manteve a rejeição da denúncia contra o ex-presidente na investigação sobre obras da usina nuclear Angra 3.>
O ex-presidente Fernando Collor de Mello foi preso em abril de 2025, em Maceió, quando se preparava para viajar a Brasília para se entregar à Polícia Federal.>
A prisão foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes após esgotados os recursos no processo no qual o ex-presidente foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, relacionados a um esquema de fraudes na BR Distribuidora. >
O processo também era decorrente da operação Lava Jato.>
A condenação impõe uma pena de oito anos e dez meses, a ser cumprida inicialmente em regime fechado. Collor foi encaminhado a uma cela individual no presídio Baldomero Cavalcanti de Oliveira, de Maceió.>
Cinco dias depois, porém, Moraes atendeu um pedido da defesa e determinou que Collor cumprisse sua pena em prisão domiciliar.>
A defesa do ex-presidente alegou que Collor sofre de diversas comorbidades, entre elas Parkinson.>
Além de determinar a prisão domiciliar de Collor, Moraes ordenou a suspensão do seu passaporte, o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de visitas, exceto nos casos de familiares, advogados e equipe médica.>
Ao condenar o ex-presidente, a Justiça entendeu que ficou provado que Collor recebeu R$ 20 milhões para viabilizar irregularmente contratos da BR Distribuidora com a UTC Engenharia para a construção de bases de distribuição de combustíveis.>
Com seu poder político, Collor teria influenciado nas indicações à diretoria da BR Distribuidora e facilitado a negociação de contratos.>
Collor foi presidente do Brasil entre 1990 e 1992. Após uma crise econômica e política, foi instaurado um processo de impeachment contra ele.>
Diante da possibilidade de ter seu afastamento confirmado e seus direitos políticos cassados por oito anos, Collor renunciou em dezembro de 1992. Apesar disso, o Senado aprovou o impeachment e cassou seus direitos políticos temporariamente.>
Em 2006, com direitos recuperados, ele voltou à Brasília após ser eleito senador por Alagoas.>
Collor segue preso em seu apartamento, numa área nobre de Maceió.>
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