Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 09:44
A família de Alejandro Carranza, colombiano que supostamente foi morto durante um ataque dos Estados Unidos contra uma embarcação no Caribe, apresentou uma denúncia à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em Washington D.C (capital americana).>
O jornal britânico The Guardian divulgou a informação, confirmada pela BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) por meio do advogado e ativista Daniel Kovalik, representante legal da família e do presidente colombiano, Gustavo Petro, crítico das políticas de seu colega americano, Donald Trump.>
"Em 15 de setembro de 2025, militares dos EUA bombardearam o barco de Alejandro Carranza Medina (…) que navegava no Caribe vindo da costa da Colômbia. Carranza morreu durante o bombardeio", afirma a denúncia apresentada.>
Ao menos 83 pessoas morreram desde setembro em ataques ordenados pelo governo Trump contra embarcações no Caribe e no Pacífico sul supostamente carregadas de drogas, como parte de uma campanha contra o narcotráfico.>
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O governo dos EUA justifica a campanha militar como necessária para salvar vidas americanas ao impedir a entrada de drogas no país.>
Especialistas, porém, afirmam que os ataques podem ter violado o direito internacional.>
Por semanas, o presidente colombiano e a família de Carranza denunciaram publicamente o desaparecimento dele e atribuíram o caso às ações dos EUA, embora seu corpo não tenha sido encontrado e as evidências sejam limitadas.>
O caso de Carranza, junto com o do colombiano Jeison Obando Pérez e do equatoriano Andrés Fernando Tufiño Chila, sobreviventes de outro ataque ocorrido em 16 de outubro, são os únicos em que vieram a público os nomes de supostas vítimas dos ataques.>
O advogado da família de Carranza espera que sua petição abra caminho para que mais famílias se manifestem e que novas evidências sobre seu desaparecimento venham a público.>
Carranza, 42, se despediu da família na manhã de 14/09 antes de zarpar com seu barco, como fazia normalmente, segundo declarou à imprensa estatal colombiana seu primo Audenis Manjarres.>
De acordo com esse relato, Carranza saiu do departamento colombiano de La Guajira, na fronteira com a Venezuela, no Caribe.>
No dia seguinte, Trump anunciou um ataque em águas internacionais contra uma embarcação que havia saído da Venezuela e afirmou que os três tripulantes haviam morrido.>
Desde então, a sobrinha de Carranza, Lizbeth Pérez, não tem notícias do tio.>
Pérez disse à BBC que os cinco filhos de Carranza sentem falta do pai e que a família espera ansiosa por respostas, sem saber sequer se o colombiano estava de fato na embarcação durante o ataque.>
"A verdade é que não sabemos se era ele. Não temos provas de que era ele, além do que vimos nas notícias", afirmou Pérez.>
Em meados de setembro, Petro, presidente da Colômbia, denunciou que ao menos um dos diversos ataques dos EUA no Caribe havia atingido uma embarcação colombiana com cidadãos do país a bordo.>
Petro inicialmente se baseou em "indícios", sem dar mais detalhes, e até agora o governo não apresentou evidências, apesar do pedido enviado pela BBC News Mundo.>
Em 18/10, uma reportagem do veículo estatal RTVC afirmou que Carranza, identificado como pescador, estava em um dos barcos atacados.>
Petro reforçou suas denúncias após a publicação da reportagem e acusou os EUA de violar a soberania da Colômbia e cometer um assassinato.>
Trump respondeu suspendendo pagamentos e subsídios para a Colômbia e, dias depois, sancionando Petro por supostos vínculos com o narcotráfico.>
Pérez (sobrinha de Carranza) disse à BBC que Carranza "era um homem amável, uma boa pessoa, um amigo; um bom pai, tio e filho".>
"Ele era uma pessoa alegre. Amava seu trabalho e a pesca", acrescentou a sobrinha da suposta vítima.>
A família de Carranza é numerosa. Cerca de 20 parentes vivem em uma pequena casa no vilarejo pesqueiro de Gaira.>
Depois de identificá-lo inicialmente como pescador, Petro afirmou no início de novembro que Carranza queria ajudar a filha a ingressar na universidade e, por isso, aceitou o pagamento de um narcotraficante para transportar drogas até uma ilha.>
Foi então que a embarcação dele foi atingida, segundo o presidente da Colômbia.>
"Não sabemos se ele transportava peixe ou cocaína, mas (…) ele não estava sob pena de morte e não tinham por que tê-lo assassinado", disse Petro.>
A imprensa colombiana noticiou o suposto passado criminal de Carranza, que incluiria o roubo de armas da polícia nove anos atrás.>
A família nega essas informações e disse que sofre ao vê-lo retratado como narcotraficante.>
Segundo Kovalik, advogado da família, embora o governo Trump defenda que os ataques miram narcotraficantes, "isso não dá o direito de realizar execuções extrajudiciais".>
"São barcos pequenos... se realmente acreditam que essas pessoas estão fazendo algo errado, elas deveriam ser presas, processadas em um tribunal, consideradas culpadas e sentenciadas", acrescentou o advogado.>
Kovalik compartilhou com a BBC News Mundo o documento da denúncia.>
O texto aponta Pete Hegseth, secretário de Defesa dos EUA, como o responsável por ordenar bombardeios como o que teria matado Carranza.>
Ao ser questionado sobre provas de que a morte de Carranza ocorreu nas condições descritas, Kovalik citou o depoimento de uma testemunha mencionada na petição à Corte Interamericana de Direitos Humanos, cuja identidade pediu para proteger.>
"Quando a testemunha viu o vídeo do bombardeio, ela teve certeza de que era o tipo de barco que Alejandro usava e de que era Alejandro. Os horários também coincidiam. Obviamente isso não é uma prova definitiva, mas é uma boa evidência", disse Kovalik.>
Kovalik está otimista quanto ao alcance de sua denúncia na Corte Interamericana de Direitos Humanos e acredita que o caso possa encorajar outras famílias a se manifestarem e tornarem públicas os desaparecimentos de seus parentes.>
Enquanto isso, os ataques dos EUA deixam pescadores em águas sul-americanas com medo de serem confundidos com narcotraficantes em alto-mar.>
O governo americano afirma que os EUA estão "ameaçados" por "organizações terroristas" e que as drogas matam milhares de seus cidadãos.>
A agência antidrogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês) informa que as apreensões de cocaína — a droga mais produzida e traficada na América do Sul — aumentaram 18% em 2024 em comparação ao ano anterior.>
O fentanil, porém, é a substância que mais provoca mortes nos EUA e é produzida e enviada ao país a partir do México.>
Muitos na América do Sul não acreditam que o objetivo da operação militar dos EUA no Caribe sejam as supostas "narcolanchas", mas sim pressionar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, a deixar o poder.>
Os EUA acusam Maduro de chefiar uma organização criminosa chamada Cartel de los Soles (Cartel dos Sóis, em espanhol), algo que o venezuelano nega.>
Trump afirmou na terça-feira (02/12) que os EUA vão começar a realizar "ataques por terra", que podem ter como alvo a Venezuela ou qualquer país que considere produtor ou vendedor de drogas ilegais ao território americano.>
O suspense permanece na região diante de um desfecho imprevisível.>
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