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Mutilação genital afeta 200 milhões de mulheres no mundo, diz ONU

Mutilação genital afeta 200 milhões de mulheres no mundo, diz ONU

Prática é considerada violação flagrante aos direitos humanos

Publicado em 6 de fevereiro de 2018 às 19:15

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Mulher africana. (Foto ilustrativa | Pixabay)

Cerca de 200 milhões de mulheres sofrem com a mutilação genital em todo o mundo. O dado foi divulgado pela Organização das Nações Unidas marcando, nesta terça-feira, o Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina. O problema está presente, sobretudo, em países da África.

Kedija, de 25 anos, teve sua vulva removida e a vagina costurada quando tinha apenas sete dias de idade e enfrentou uma vida de dor. "Não conseguia segurar minha urina por muito tempo", disse em entrevista à Associated Press. "Eu me isolei de qualquer socialização por causa disso. Mais tarde, quando minha menstruação veio, devido à pequena abertura, a dor foi pior do que nunca. E depois que casei foi doloroso ter relação sexual com meu marido", conta ela que após três partos foi diagnosticada com complicações renais quase fatais.

Em Afar, na região do deserto da Etiópia, cerca de nove entre dez mulheres e meninas sofreram mutilação genital, muitas antes do primeiro aniversário. "Mais de 200 milhões de mulheres e meninas ao redor do mundo vivem com os efeitos dessa flagrante violação dos direitos humanos", afirmou o secretário geral da ONU, Antonio Guterres, por meio de um comunicado.

O governo da Etiópia declarou a mutilação genital feminina ilegal, mas, ainda assim, ela continua acontecendo. Addu Abdala Dubba era uma das mulheres que costumava realizar as circuncisões. "Houve momentos que eu executei cortes consecutivos em um único dia com essa faca. Mas, cuidadosamente, esterilizei o instrumento após cada circuncisão colocando-o no fogo ou mergulhando em água quente, a fim de evitar infecção", contou.

Addu Abdala conta que certa vez pensou que o trabalho lhe dava um sensação edificante, achou que estava ajudando mulheres a preservarem sua vingindade e permanecerem fiéis ao casamento - visto como essencial para a honra da família. Mas depois de participar de treinamentos pelo governo e líderes religiosos ela afirma que, agora, não enxerga as coisas dessa forma.

"Agora entendo que essa prática é errada e pode destruir o futuro de uma criança", diz ela, que agora é parteira e ajuda a conscientizar sobre os danos da mutilação genital.

HOSPITAL SOFRE COM FALTA DE RECURSOS

O único hospital primário em Asaita, antiga capital de Afar, luta para cuidar de mulheres que têm complicações decorrentes da mutilação genital, especialmente durante o parto. A falta de fundos forçou o hospital a operar com equipe reduzida durante a maior parte do ano passado.

Saleh Yusuf Imam, diretor médico, afirmou que o serviço de aconselhamento do hospital tem tido algum sucesso na conscientização das pessoas.

"Depois que as mulheres enfrentam dificuldades com a penetração sexual e recebem incisões na vagina para livrar da dor e aconselhamento pós-tratamento, ouvimos da maioria que não deixarão que mais nenhuma mulher que conheçam sofra mutilação genital", relata. 

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Já Kedija afirma que está determinada para impedir que outra geração de meninas sofra como ela. "Sempre que encontro um pai que insiste em praticar mutilação genital feminina, tento convencê-lo do contrário. Mas quando meus esforços não são suficientes para mudar a cabeça deles, então eu sempre denuncio às autoridades de saúde locais para que possam intervir".

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