Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 10:44
Georgia Barrington acabou de ser mãe. Mas não foi ela quem deu à luz sua filha.>
Este momento, na verdade, pertenceu à sua melhor amiga, Daisy Hope. Ela carregou o bebê para ela na gravidez, após uma promessa feita quando elas eram adolescentes.>
As duas mulheres eram inseparáveis a vida inteira. Elas cresceram juntas porque seus pais são melhores amigos e se definem como "irmãs de alma".>
A proximidade na infância se tornaria a base de um ato de generosidade que mudaria a vida das duas amigas.>
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Aos 15 anos de idade, Barrington soube de algo que nenhuma jovem esperaria ouvir. Ela nasceu sem útero e nunca poderia engravidar.>
Ela foi diagnosticada com a síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser (MRKH), que afeta uma a cada 5 mil mulheres. Foi como se o seu futuro fosse reescrito em um único momento.>
"Foi devastador, meu mundo caiu totalmente em pedaços", relembra ela.>
"Cresci a vida inteira pensando que seria mãe e aquilo me foi tirado. Todos os meus sonhos desapareceram.">
Naquela época, Hope não era particularmente maternal. Ela se lembra claramente do diagnóstico e de como pareceu "injusto" que sua amiga, que sempre quis ter uma criança, não poderia engravidar.>
"Eu quis que ela se sentisse bem e, para dar um pouco de esperança, mostrando que aquilo não era o fim do mundo, eu disse que carregaria um bebê para ela algum dia", contou ela ao podcast da BBC Ready to Talk with Emma Barnett.>
"Acho que eu não compreendia o que estava dizendo, mas sempre soube que isso era algo que eu iria fazer para Georgia.">
Mais de uma década depois, Daisy cumpriu a promessa e, em 2023, as duas mulheres começaram o processo de fertilização in vitro.>
Georgia estudou para ser parteira, mergulhando naquele mundo do qual ela receava nunca conseguir fazer parte.>
"Certa vez, me perguntaram se esta seria a profissão certa para mim", ela conta. "Mas, na verdade, aquilo me ajudou a me curar. No fundo, eu sabia que teria um filho, de uma forma ou de outra.">
Anos depois, Daisy teve sua primeira filha, com Georgia como parteira. Ser mãe fortaleceu sua convicção para cumprir a promessa feita à amiga.>
"O amor que senti pela minha bebê era incrível e achei que todos deveriam ter direito àquele sentimento", ela conta.>
Daisy reconhece que, no princípio, foi "um pouco ingênua". Ela teve uma gravidez tranquila com sua filha e, por isso, imaginou que "tudo sairia novamente sem percalços".>
Daisy ficou grávida com o primeiro embrião. Tudo parecia progredir normalmente e as duas mulheres começaram a acreditar que o futuro que elas imaginaram, finalmente, estava se tornando realidade.>
Mas um exame de imagem após sete semanas mostrou um útero vazio.>
Georgia relembra o momento em que a enfermeira disse que não conseguia ver nada na imagem.,>
"Tive aquela sensação de afundar e toda a esperança simplesmente desapareceu", ela conta.>
Uma semana depois, ficou confirmado que o embrião não havia gerado um bebê. "Acho que foi tudo minha culpa", lamenta Daisy.>
Para ela, o luto foi insuportável. Seu sentimento era de ter decepcionado a amiga, enquanto Georgia enfrentava a percepção de que até a sua tentativa mais promissora havia fracassado.>
Mas elas tentaram novamente e, na segunda vez, algo parecia estar diferente.>
"Quando descobri que estava grávida outra vez, pensei que o mundo não poderia ser tão cruel duas vezes", relembra Daisy.>
Seis semanas depois, a dupla estava sentada em um quarto no hospital em suspense, quando um leve batimento cardíaco apareceu na tela. Mas, naquele mesmo dia, Daisy começou a apresentar forte sangramento.>
"Achei que tudo estivesse acontecendo de novo e fiquei apavorada", relembra ela.>
Ela sangrou por seis horas e estava certa de que havia perdido o bebê. Mas, quando os médicos a examinaram, o batimento cardíaco ainda estava presente e a gravidez prosseguiu até o final.>
Daisy entrou em trabalho de parto um pouco antes do esperado e, alguns meses atrás, deu à luz uma menina.>
Georgia ficou tão emocionada na hora do parto que se esqueceu de verificar o sexo da bebê. "Assim que vi a cabeça dela, simplesmente me perdi e começamos todas a chorar juntas.">
Ela conta que ainda não acredita que realmente teve uma filha — e que gostaria de "pegar aquele momento e entregar para mim mesma, quando tinha 15 anos de idade e estava sentada naquele consultório".>
Quando Georgia comenta sua "sorte e gratidão", Daisy afirma que sempre soube que poderia ajudar sua melhor amiga da melhor forma possível.>
"Temos essa conexão que ninguém nunca terá com seus amigos, por termos passado por algo tão pessoal.">
Ouça aqui o episódio do podcast da BBC Ready to Talk with Emma Barnett (em inglês), que deu origem a esta reportagem.>
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