"A alternativa kirchnerista não tem credibilidade no mundo, o kirchnerismo isola a Argentina do mundo. Seus eleitores precisam entender isso", afirmou Mauricio Macri em entrevista coletiva concedida na tarde desta segunda-feira (12), na Casa Rosada, em Buenos Aires, Argentina.
O presidente, com olhos marejados e demonstrando irritabilidade, reagiu à derrota nas primárias argentinas realizadas neste domingo (11), vencidas com 15 pontos de vantagem pelo candidato de oposição Alberto Fernández, que forma chapa com a ex-presidente Cristina Kirchner como vice.
Macri disse que, na última sexta-feira (09), "a Argentina estava mais rica, havia euforia no mercado internacional" devido às projeções das pesquisas que davam ao atual mandatário bons resultados. "Hoje já tivemos um dia muito ruim, menos investidores se animam a investir aqui e estamos mais pobres do que antes das primárias."
Com o resultado surpreendente, o dólar teve alta de 30% nesta segunda-feira, a 58,85 pesos por dólar, máxima histórica. A Bolsa do país despencava 28,3%, por volta das 12h14.
As chamadas "paso" (primárias abertas, simultâneas e obrigatórias) foram criadas em 2009, com a intenção de diminuir o número de candidaturas que concorriam na eleição.
As chapas que obtêm menos de 1,5% dos votos nessa etapa não podem concorrer no primeiro turno, marcado para 27 de outubro. Já o segundo turno, se necessário, será em 24 de novembro.
As primárias funcionam, assim, como uma prévia, mostrando quanto de apoio cada candidato tem. Caso os números se repitam na eleição de fato, no fim de outubro, Fernández seria eleito em primeiro turno -para isso, ele precisa ter mais de 45% dos votos ou mais de 40% e no mínimo 10 pontos percentuais de vantagem para o segundo colocado.
De acordo com os dados oficiais, o comparecimento foi alto, com a participação de 75% dos eleitores -o voto é obrigatório no país.
Macri acrescentou que "ouviu a voz das urnas" e que os eleitores que não votaram nele o fizeram "por raiva devido à situação econômica", que atribui à "herança tão difícil do governo anterior", referindo-se à ex-presidente Cristina Kirchner.
"Nós recebemos o país nas piores condições possíveis. Entendo a bronca com a economia, mas isso não se melhora tão rápido."
O desemprego na Argentina está em 9,1%, com a taxa de emprego informal beirando os 40% -eram 34% no início da gestão Macri. Segundo o Indec, o IBGE argentino, hoje 32% da população está abaixo da linha de pobreza, e 6,7% são considerados indigentes.
Questionado sobre a alta do dólar nesta segunda-feira, Macri disse que o responsável "é a candidatura de Alberto Fernández". "Eles é que estão colocando a credibilidade do país em risco. O mercado internacional não confia no kirchnerismo. Assusta-se com eles."
O presidente se mostrou irritado com a pergunta sobre a possibilidade de adiantar eleições e limitar seu mandato, como ocorreu no final da gestão de Raúl Alfonsín (1983-1989), obrigado a entregar o cargo antecipadamente, pressionado pela hiperinflação.
"Essa possibilidade não está contemplada porque ainda não houve eleição", disse, franzindo o cenho.
Do lado de fora da Casa Rosada, a polícia cercou as entradas da sede de governo com barreiras metálicas. No início da tarde, militantes kirchneristas se reuniram na Praça de Maio e gritaram insultos ao presidente.
Assim como na noite de domingo, após a divulgação dos resultados das primárias, gritos de "tchau, Mauricio" e "vamos voltar" foram escutados, enquanto Macri se reunia, na Casa Rosada, com seu ministério.
A polícia estendeu o cerco para as entradas da praça, impedindo o tráfico de carros e pessoas, enquanto ocorriam a reunião de gabinete e a entrevista coletiva.
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