Publicado em 11 de junho de 2025 às 08:40
As tensões explodiram na região de Los Angeles, no Estado americano da Califórnia, no último fim de semana (7 e 8 de junho).>
Uma semana de batidas contra a imigração gerou violentos protestos contra o governo Trump e o Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês).>
A decisão do presidente Donald Trump, de enviar 700 fuzileiros navais e 4 mil soldados da Guarda Nacional para a região, em apoio à resposta federal aos distúrbios, abriu um capítulo polêmico na sua campanha de deportação em massa.>
Los Angeles, onde ocorreram as batidas e os protestos subsequentes, é uma cidade de tendência liberal, em um Estado controlado pelos democratas. E este local também ofereceu à Casa Branca um cenário público ideal para demonstrar seu progresso na retirada de imigrantes sem documentos, sob o argumento de estabelecer a lei e a ordem.>
>
O governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, é um notório crítico do presidente. Ele escreveu no X (antigo Twitter) que o envio de tropas é uma "fantasia tresloucada de um presidente ditatorial".>
As batidas na segunda maior cidade dos Estados Unidos ocorrem sobre o pano de fundo de uma tentativa agressiva de aumentar os números de prisões e deportações, por um governo decepcionado com a velocidade atual do processo.>
O ICE intensificou suas ações nas últimas semanas, frente às pressões para mostrar avanços em relação à emblemática política de imigração de Donald Trump.>
A agência prendeu 2,2 mil pessoas no dia 4 de junho, segundo a rede de TV americana NBC News – um recorde, para um único dia.>
A rede noticiou que centenas das pessoas presas estavam inscritas em um programa chamado Alternativa à Detenção, que permite a liberação e monitoramento de indivíduos que não são considerados uma ameaça imediata.>
O vice-chefe de Gabinete da Casa Branca, Stephen Miller, é considerado o arquiteto intelectual da política de deportação. Ele afirmou repetidamente que a Casa Branca espera que o ICE possa atingir 3 mil prisões por dia.>
Este número representa uma escalada em relação às cerca de 660 detenções diárias, verificadas durante os primeiros 100 dias de Trump no seu segundo mandato.>
"O presidente Trump continuará buscando aumentar este número todos os dias", declarou Miller à rede de TV Fox News, no final de maio.>
O governo Trump também não atingiu seus objetivos em termos de deportações em massa.>
Durante os 100 primeiros dias de governo, as deportações ficaram no mesmo nível registrado no último ano do governo Joe Biden – e, às vezes, até abaixo, segundo a comparação anual dos dados públicos disponíveis.>
É difícil saber o índice exato das deportações diárias, já que a Casa Branca suspendeu a publicação dos números no início de 2020, durante o primeiro mandato de Donald Trump.>
"Não estou satisfeito com os números", declarou aos repórteres na Casa Branca, no final de maio, o "czar da fronteira" do governo, Tom Homan. "Precisamos aumentar.">
Homan destacou que o governo Trump "aumentou muito as equipes" e "espera rápido crescimento do número de prisões".>
Diversos altos funcionários do ICE deixaram seus cargos nos últimos meses. >
As demissões incluíram Kenneth Genalo, a principal autoridade da agência em questões de deportação.>
Em fevereiro, o ICE também removeu dois importantes supervisores de deportações, além do diretor em exercício da agência, Caleb Vitello.>
Na época do último remanejamento, a agência definiu a mudança como um realinhamento organizacional, que "ajudará o ICE a cumprir a ordem do presidente Trump e do povo americano, de prender e deportar estrangeiros ilegais, aumentando a segurança das comunidades americanas".>
O Departamento de Segurança Doméstica dos Estados Unidos afirmou, em comunicado à imprensa, que os imigrantes detidos nas recentes batidas em Los Angeles incluíram indivíduos condenados por crimes sexuais, roubos e acusações relativas a drogas, entre outros delitos.>
Mas ativistas locais sobre questões de imigração e membros da comunidade afirmam que famílias foram divididas e que foram detidos imigrantes não violentos.>
Durante uma manifestação na segunda-feira (9/6), a vereadora de Los Angeles Ysabel Jurado declarou que a batida ocorrida na sexta-feira (6/6) em um armazém no Distrito da Moda "não se deveu a questões de segurança pública. Foi violência de Estado, guiada pelo medo, destinada a silenciar, intimidar, desaparecer.">
Pesquisas de opinião demonstram que a política de imigração de Donald Trump é popular junto à maior parte dos americanos. Mas alguns dos seus apoiadores expressaram preocupação com a tática empregada.>
A senadora do Estado da Flórida Ileana Garcia, por exemplo, é uma das fundadoras do movimento Latinas por Trump. Ela escreveu no X que "não foi para isso que votamos".>
"Entendo a importância de deportar criminosos estrangeiros, mas o que estamos presenciando são medidas arbitrárias para caçar pessoas que estão cumprindo com suas audiências de imigração – muitas vezes, com justificado temor de perseguição", destacou ela.>
"Tudo isso, guiado pelo desejo de [Stephen] Miller de satisfazer um objetivo de deportação inventado por ele próprio.">
Autoridades federais vêm realizando batidas de imigração com mais frequência em todo o território americano, tanto em Estados democratas quanto republicanos. E alguns Estados controlados pelos republicanos auxiliaram as autoridades federais, como o Tennessee.>
"A Califórnia estava disposta a resistir", segundo John Acevedo, diretor da Faculdade de Direito Emory, que estuda a liberdade de expressão e os protestos nos Estados Unidos.>
As imagens da violência e da resistência nas ruas de Los Angeles ofereceram a Trump a justificativa para o envio da Guarda Nacional.>
"Para sua base, isso representa muito", diz Acevedo. "Mostra que ele fala sério e permite que ele comprove que irá usar todos os meios necessários para executar suas normas [de imigração].">
Los Angeles se considera uma cidade-santuário, que limita sua cooperação com as autoridades federais de imigração. E os manifestantes reprovam o papel que, segundo eles, o governo escolheu para sua cidade.>
"Este é o meu povo, sabe, estou lutando por nós", afirma a mexicano-americana María Gutierrez. Ela protestou por dois dias no bairro de Paramount, em Los Angeles, onde ocorreram manifestações depois que os moradores locais identificaram agentes do ICE na região.>
Houve pilhagem durante os distúrbios em Paramount e pelo menos um carro foi incendiado. As autoridades usaram balas de borracha e gás lacrimogênio.>
Gutierrez afirma que há manifestantes em Los Angeles, incluindo na cidade próxima de Compton, que acreditam estarem protegendo a cidade contra as autoridades de imigração. Eles consideram as ameaças do governo Trump como um desafio a ser enfrentado.>
Gutierrez acredita que os imigrantes sem documentos que cometerem crimes violentos devem ser procurados, mas não os que, segundo ela, trabalham muito e desejam uma vida melhor.>
"Esta é a nossa cidade", declarou ela. "Estamos furiosos, sabemos nos proteger e isso não irá nos assustar.">
Mas a comunidade não está coesa no seu apoio aos protestos que chamaram a atenção do país.>
Juan, que mora perto de Paramount, chegou ilegalmente aos Estados Unidos e adquiriu a nacionalidade americana depois de algum tempo, mas apoia as ações do ICE.>
"Os agentes do ICE têm um trabalho a fazer, como eu e você", afirma Juan. Ele pediu à BBC que não divulgasse seu sobrenome, devido às operações federais na região.>
Juan afirmou que passou anos trabalhando como operário. Mas, agora, ele é cidadão americano e tem quatro filhos que se formaram na faculdade.>
"É difícil", segundo ele. "Tenho familiares que também não têm documentos. Mas, na verdade, você não pode lutar se estiver aqui sem que devesse estar.">
"Um delito é um delito", conclui Juan.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta