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Kim e Trump assinam acordo após encontro em Cingapura

Kim e Trump assinam acordo após encontro em Cingapura

Documento, cuja íntegra não foi divulgada, prevê a desnuclearização completa da Península Coreana

Publicado em 12 de junho de 2018 às 09:29

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O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un (e), e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, posam para fotos no Hotel Capella, na ilha de Sentosa, em Cingapura, antes de dar início a conversas sobre o arsenal nuclear da Coreia do Norte . (Evan Vucci)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, tiveram um encontro histórico em Singapura às 9h04m desta terça-feira (22h04m de segunda, no horário de Brasília). Após almoçarem juntos, Trump e Kim assinaram um documento em que prometeram trabalhar para a desnuclearização completa da Península Coreana, enquanto Washington se comprometeu a fornecer garantias de segurança para seu antigo inimigo.

"O presidente Trump se comprometeu a fornecer garantias de segurança à Coreia do Norte e o presidente Kim Jong-un reafirmou seu firme e inabalável compromisso com a completa desnuclearização da Península Coreana", disse um comunicado conjunto emitido após a histórica cúpula em Singapura.

Trump disse esperar que o processo de desnuclearização comece "muito, muito rapidamente". O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e autoridades norte-coreanas realizariam as negociações de acompanhamento "o mais cedo possível", disse o comunicado.

No entanto, não deu detalhes sobre como a desnuclearização seria alcançada. O documento também não menciona as sanções internacionais que prejudicaram a economia da Coreia do Norte, por perseguir seu programa de armas nucleares.

Também não houve qualquer referência a finalmente assinar um tratado de paz. Os combatentes da Guerra da Coreia de 1950-53 ainda estão tecnicamente em guerra, já que o conflito, no qual milhões de pessoas morreram, foi concluído apenas com uma trégua. Mas a declaração conjunta disse que os dois lados concordaram em recuperar os restos de prisioneiros de guerra e os desaparecidos em ação e repatriá-los.

Antes de assinar o que Trump descreveu como um documento "abrangente", Kim disse que os dois líderes tiveram uma reunião histórica e que decidiu deixar o passado para trás.

— O mundo vai ver uma grande mudança — afirmou.

Trump disse que havia formado um "vínculo muito especial" com Kim e que o relacionamento com a Coreia do Norte seria muito diferente.

— As pessoas ficarão muito impressionadas e ficarão muito felizes. Vamos cuidar de um problema muito perigoso para o mundo — disse Trump.

Trump chamou Kim de "muito inteligente" e um "negociador muito valioso e muito duro".

— Aprendi que ele é um homem muito talentoso. Eu também aprendi que ele ama muito o seu país — disse.

Durante um passeio pós-almoço pelos jardins do hotel de Singapura, onde o encontro foi realizado, Trump disse que a reunião foi "melhor do que qualquer um poderia esperar".

Kim permaneceu em silêncio ao lado, mas o líder norte-coreano já havia descrito sua cúpula como um "bom prelúdio para a paz".

Após um aperto de mão histórico, acompanhado pelo mundo inteiro, os dois líderes apareceram diante das câmeras conversando em tom amigável, com sorrisos, um segundo cumprimento e tapinhas nas costas. Em seguida, Trump sentou-se ao lado de um sorridente Kim na frente de repórteres e disse que estava confiante de que as negociações seriam um "tremendo sucesso". Os dois mostravam-se cordiais, embora Kim estivesse menos efusivo do que no seu recente encontro com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in. Mais uma vez, os dois apertaram as mãos publicamente.

— Nós teremos uma tremenda relação. Eu não tenho dúvida — disse o presidente americano.

Por sua vez, Kim disse que Coreia do Norte e Estados Unidos superaram o obstáculo de uma história difícil a fim de realizar a cúpula:

— O caminho para chegar até aqui não foi fácil — Kim disse, sentando-se à mesa com Trump. — Os velhos preconceitos e práticas funcionaram como obstáculos no nosso caminho, mas superamos todos eles e estamos aqui hoje.

A primeira parte da reunião da cúpula incluiu um encontro apenas entre Trump e Kim, acompanhados dos seus tradutores, com o objetivo de estabelecer um laço de confiança entre os dois líderes — ao longo de meses, eles trocaram ofensas mútuas publicamente, além de fervorosas e aparentemente impetuosas ameaças em tom belicoso, o que gerou preocupações globais de uma possível guerra nuclear entre os dois lados. Em seguida, cerca de 40 minutos depois, os dois líderes reapareceram juntos e se dirigiram a uma mesa para um almoço de trabalho com os seus assessores, que trabalharam intensamente por semanas para possibilitar o encontro — que, em maio, chegou a ser cancelado por Trump numa carta endereçada a Kim.

Do lado de Trump, estavam o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, o chefe de Gabinete, John Kelly, e o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton. Do lado de Kim, a delegação incluiu o general Kim Jong-chol, que tem sido o braço-direito do líder supremo nas negociações.

— Trabalhando juntos nós vamos cuidar disso — disse Trump a Kim no começo da segunda reunião. — Vamos resolver.

Em inglês, Kim disse a Trump:

— Prazer em conhecê-lo, senhor presidente.

Em sua visita a Singapura, Trump almoçara mais cedo com o primeiro-ministro do país, Lee Hsien Loong, enquanto os diplomatas americanos e norte-coreanos se reuniam para discutir o tipo de linguagem que deverá ser utilizada num comunicado conjunto a ser emitido por Trump e Kim após o seu encontro. A Casa Branca já havia anunciado que o presidente americano deixará Singapura poucas horas depois da cúpula, tendo apenas um dia de reunião com Kim. Há especulações de que o chefe da Casa Branca poderia, assim, estar tentando pressionar o líder norte-coreano.

— Muitas pessoas no mundo todo vão pensar que isso aqui é um filme de fantasia ou de ficção científica — comentou Kim ao caminhar com Trump rumo à sala de conferência.

Com dúvidas restando sobre o que a desnuclearização implicaria, autoridades de ambos os lados conversaram por duas horas para avançar com a agenda do encontro antes da reunião de cúpula da terça-feira. Segundo Pompeo, os Estados Unidos estão dispostos a dar à Coreia do Norte "garantias de segurança únicas", diferentes das propostas até agora, em troca de uma desnuclearização "completa, comprovável e irreversível".

A Coreia do Norte, por sua vez, declarou que o encontro representa a possibilidade de "estabelecer uma nova relação" com os Estados Unidos. Em Seul, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, mediador do processo de aproximação que culminou no encontro, disse que será a "cúpula do século". No entanto, ele se mostrou cauteloso quanto a um dos principais temas esperados na reunião, a desnuclearização da Península Coreana, indicando que isso pode resultar em um longo processo para a Coreia do Norte.

QUESTÕES DELICADAS SOBRE A MESA

Segundo a agência estatal de notícias da Coreia do Norte, Kim e Trump discutirão “um mecanismo permanente e duradouro de paz” para a Península Coreana, a desnuclearização da região, e assuntos de interesse mútuo. Mas ainda não se sabe claramente qual é a agenda completa da cúpula. Pode ser que o encontro seja apenas um primeiro contato entre os líderes.

O principal tema em torno da abertura diplomática da Coreia do Norte é desnuclearização. Especialistas apontam para uma divergência entre os dois países a respeito da abrangência do termo. Para Trump, a paz só será selada com a extinção completa, irreversível e verificável das armas nucleares na Coreia do Norte, enquanto Kim tem defendido a desnuclearização da Península Coreana como um todo, o que provavelmente inclui o fim da influência militar americana na região. Os EUA têm cerca de 28.500 soldados em bases militares na Coreia do Sul.

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No entanto, Trump já indicou que poderia aceitar uma desnuclearização em etapas, reconhecendo que talvez não seja possível alcançar a extinção de armas nucleares na Coreia do Norte com apenas uma reunião. Além disso, é possível que Kim faça uma tentativa de acabar com as sanções econômicas impostas contra seu país, mas isso provavelmente estará sujeito a sinais concretos de comprometimento com a desnuclearização.

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