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França e Irlanda ameaçam acordo UE-Mercosul se Amazônia não for protegida

França e Irlanda ameaçam acordo UE-Mercosul se Amazônia não for protegida

O governo francês disse nesta sexta-feira (23) que o presidente Jair Bolsonaro mentiu ao assumir compromissos em defesa do ambiente na cúpula do G20

Publicado em 23 de agosto de 2019 às 16:46

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Acordo entre União Européia e o Mercosul. (Divulgação | Ministério das Relações Exteriores)

O governo francês disse nesta sexta-feira (23) que o presidente Jair Bolsonaro mentiu ao assumir compromissos em defesa do ambiente na cúpula do G20, em junho, e que isso inviabiliza a ratificação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, concluído no mesmo mês.

A Irlanda também afirmou que vai bloquear a implantação do pacto caso o governo brasileiro não atue para combater os incêndios em curso na Amazônia.

"Não há nenhuma chance de votarmos a favor se o Brasil não honrar seus compromissos ambientais", escreveu o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, em comunicado divulgado no fim da noite de quinta-feira (22).

A França foi mais incisiva a respeito do presidente brasileiro: "Dada a atitude do Brasil nas últimas semanas, o presidente da República [ Emmanuel Macron] só pode constatar que o presidente Bolsonaro mentiu para ele na cúpula [do G20] de Osaka", declarou o palácio do Eliseu.

A França disse ainda que Bolsonaro decidiu não respeitar os compromissos climáticos nem se comprometer com a biodiversidade. "Nestas circunstâncias, a França se opõe ao acordo do Mercosul", acrescentou a presidência francesa.

Na Finlândia, o ministro da Economia, Mika Lintila, sugeriu que a União Europeia considerasse urgentemente a possibilidade de banir importações de carne bovina do Brasil.

O primeiro-ministro do país, Antti Rinne, foi mais evasivo: "Temos de descobrir se os europeus têm algo a oferecer ao Brasil para ajudar a prevenir outros incêndios assim."

O governo do Reino Unido declarou-se na sexta "profundamente preocupado" com o aumento das queimadas e com o "impacto da perda trágica destes habitats preciosos", nas palavras de uma porta-voz.

Firmado no fim de junho após 20 anos de negociações, o termo de cooperação comercial entre a União Europeia e o Mercosul prevê eliminar, em um horizonte de 15 anos, mais de 90% das tarifas praticadas hoje nas transações de mercadorias entre os dois blocos.

Além da resistência de produtores agrícolas (sobretudo na França e na Irlanda), a parceria foi alvo de críticas de ambientalistas, que ressaltavam a fragilização dos organismos de monitoramento e combate ao desmatamento sob o governo Jair Bolsonaro.

Horas após a assinatura do pacto, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que obtivera do Brasil a garantia de que o país não deixaria o Acordo de Paris sobre a mudança climática (2015), que fixa metas para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa.

No comunicado de quinta-feira, Varadkar declarou-se "muito preocupado" com a disparada das notificações de queimada na Amazônia (84% a mais de janeiro a 21 de agosto do que no mesmo período de 2018).

"Os esforços do presidente para culpar ONGs de defesa do ambiente pelo fogo são orwellianos", afirmou o primeiro-ministro, aludindo ao escritor inglês George Orwell (1903-50) e à sua denúncia insistente de totalitarismos.

"A declaração dele [Bolsonaro] de que o Brasil permanecerá no acordo do clima 'por enquanto' deixa a Europa de antena ligada."

O pacto Mercosul-UE ainda precisa passar pelo crivo dos chefes de Estado e governo europeus, antes de ser submetido ao Legislativo de cada integrante do bloco e ao Parlamento Europeu. O processo deve levar ao menos mais dois anos.

"Ao longo desse período, vamos monitorar de perto as ações ambientais do Brasil", sinalizou Varadkar.

"Não se pode pedir a fazendeiros irlandeses e europeus para usar menos pesticidas e fertilizantes [...] se não fecharmos acordos comerciais sujeitos a parâmetros decentes nos quesitos ambiental, trabalhista e de normas de produção."

Também na noite de quinta, em uma publicação na internet, Emmanuel Macron classificou como "crise internacional" a situação amazônica e instou os líderes do G7 a discutir "essa emergência" na cúpula a ser realizada de sábado (24) a segunda (26), em Biarritz (sul da França).

"Nossa casa arde. Literalmente. A Amazônia, pulmão do nosso planeta que produz 20% de nosso oxigênio, está em chamas", escreveu ele.

Na sexta, o governo alemão fez coro. Um porta-voz da chanceler Angela Merkel disse que os incêndios na floresta representam uma "situação urgente" que deve ser debatida no encontro deste fim de semana.

"A magnitude das queimadas é preocupante e ameaçadora, não só para o Brasil e outros países afetados, mas para todo o mundo", completou ele.

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