Publicado em 20 de junho de 2025 às 18:39
Você pode achá-los fofos, feios ou simplesmente esquisitos — mas é bem provável que já tenha ouvido falar dos bonecos peludos que viraram uma sensação global: os Labubu.>
Nascido como um monstro, a criatura de aparência élfica criada pela fabricante chinesa Pop Mart virou febre na internet. E conta com uma legião de fãs célebres: Rihanna, Dua Lipa, Kim Kardashian e Lisa, do grupo musical sul-coreano Blackpink. >
Mas o fascínio não se limita às celebridades — de Xangai a Londres, as longas filas para comprar os bonecos viraram notícia, e em alguns casos até resultaram em brigas.>
"Você sente uma enorme sensação de vitória quando consegue comprar um, no meio de tanta concorrência", diz a fã declarada Fiona Zhang.>
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O fascínio mundial pelos Labubu quase triplicou os lucros da Pop Mart no último ano — e, segundo alguns analistas, deu novo fôlego ao soft power chinês, desgastado pela pandemia e pelo tensionamento das relações com o Ocidente.>
Mas como tudo isso começou?>
Essa ainda é uma pergunta sem resposta para muita gente — e mesmo quem sabe a origem do personagem nem sempre consegue explicar o fenômeno.>
Labubu é, ao mesmo tempo, um personagem fictício e uma marca. A palavra em si não tem significado. É o nome de um dos personagens da série de brinquedos The Monsters, criada pelo artista nascido em Hong Kong, Kasing Lung.>
Os rostos de vinil são acoplados a corpos de pelúcia, com um visual característico: orelhas pontudas, olhos grandes e um sorriso travesso exibindo exatamente nove dentes. A internet, dividida e curiosa, não consegue decidir se são fofos ou apenas bizarros.>
De acordo com o site oficial da Pop Mart, Labubu é "bondoso e sempre quer ajudar, mas frequentemente acaba fazendo o oposto por acidente".>
Os bonecos Labubu já apareceram em diversas séries de The Monsters, como Big into Energy, Have a Seat, Exciting Macaron e Fall in Wild.>
O universo Labubu também inclui outros personagens que inspiraram seus próprios bonecos de sucesso — como a líder da tribo, Zimomo, seu namorado Tycoco e a amiga Mokoko.>
Aos olhos de quem não conhece, alguns desses bonecos são difíceis de diferenciar. >
Os especialistas sabem reconhecer, mas a fama dos Labubu acabou se espalhando — e outros membros da "família" também estão sumindo das prateleiras.>
Por alguns anos, grande parte das vendas da Pop Mart se concentrava nas chamadas blind boxes — caixas-surpresa, em que o comprador só descobre qual boneco adquiriu ao abrir o pacote. Foi nesse formato que a empresa firmou parceria com o artista Kasing Lung e obteve os direitos da marca Labubu.>
Isso aconteceu em 2019, quase dez anos depois de o empresário Wang Ning fundar a Pop Mart, em Pequim, como uma loja de variedades, no estilo "tudo por 1 yuan". >
Quando as blind boxes começaram a fazer sucesso, a Pop Mart lançou sua primeira série em 2016, com os bonecos Molly — figuras infantis criadas pelo artista de Hong Kong Kenny Wong.>
Mas foram as vendas dos Labubu que impulsionaram o crescimento da Pop Mart. >
Em dezembro de 2020, a empresa passou a negociar ações na bolsa de valores de Hong Kong — e os papéis valorizaram mais de 500% no último ano.>
Hoje, a Pop Mart é uma gigante do varejo. Opera mais de 2 mil máquinas automáticas, conhecidas como "roboshops", ao redor do mundo. >
Os bonecos Labubu já são vendidos em lojas físicas e virtuais de mais de 30 países — dos Estados Unidos e Reino Unido à Austrália e Singapura — embora, em alguns lugares, as vendas tenham sido suspensas temporariamente por causa da demanda altíssima. >
Em 2024, as vendas fora da China continental representaram quase 40% do faturamento total da empresa.>
Um sinal claro da popularidade: autoridades alfandegárias chinesas informaram, nesta semana, que apreenderam mais de 70 mil bonecos Labubu falsificados nos últimos dias.>
Mas essa demanda não surgiu da noite para o dia. Foram necessários alguns anos para que os monstrinhos élficos conquistassem o mundo.>
Antes de ganhar o mundo, Labubu era uma febre local na China. >
Eles começaram a bombar justamente quando o país saía do isolamento provocado pela pandemia, no fim de 2022, segundo Ashley Dudarenok, fundadora da consultoria ChoZan, especializada no mercado chinês.>
"No pós-pandemia, muita gente na China queria uma fuga emocional... e o Labubu era uma figura caótica, mas muito carismática", diz ela. "Ele encarnava esse espírito do anti-perfeccionismo.">
A internet chinesa, que é gigantesca e muito competitiva, gera muitas tendências virais que não ultrapassam fronteiras. Mas essa conquistou o Sudeste Asiático rapidamente.>
Fiona, que vive no Canadá, conta que ouviu falar dos Labubu por meio de amigos filipinos, em 2023. A partir daí, começou a colecioná-los — e embora ache os bonecos fofos, diz que o apelo está no fenômeno: "Quanto mais famoso fica, mais eu quero.">
"Meu marido não entende por que alguém de 30 e poucos anos como eu ficaria tão obcecada com isso — tipo me importar com qual cor vou conseguir.">
Além disso, é acessível, Fiona ressalta. Embora a demanda tenha inflacionado os preços no mercado de revenda, Fiona diz que o valor original — entre 25 e 70 dólares canadenses (cerca de R$ 100 a R$ 280) — era "razoável" para a maioria das pessoas que conhece.>
"É o que normalmente se paga por um acessório de bolsa hoje em dia — então muita gente pode comprar", afirma.>
A explosão de popularidade veio em abril de 2024, quando Lisa, estrela tailandesa do K-pop e integrante do Blackpink, começou a postar fotos com bonecos Labubu no Instagram. Depois disso, outros famosos ajudaram a transformar o boneco em um fenômeno global.>
Em fevereiro, Rihanna foi fotografada com um Labubu pendurado na bolsa Louis Vuitton. Em abril, Kim Kardashian mostrou sua coleção de dez bonecos Labubu aos seus seguidores no Instagram. E, em maio, o ex-capitão da seleção inglesa, David Beckham, também postou uma foto com um Labubu, presente da filha.>
Hoje, os bonecos parecem estar em toda parte — não só nas redes sociais, mas nas bolsas de colegas, amigos ou mesmo estranhos na rua.>
Simplificando: ninguém sabe ao certo. Como muitas tendências virais, o apelo dos Labubu é difícil de explicar — resultado de timing, estética e do fator imprevisível da internet.>
Pequim está satisfeita com o fenômeno. A agência estatal Xinhua afirmou que Labubu "demonstra o apelo da criatividade, da qualidade e da cultura chinesa em uma linguagem que o mundo entende", ao mesmo tempo em que permite mostrar "uma China descolada".>
A Xinhua apresenta outros exemplos que mostram como a cultura chinesa está ganhando projeção internacional: o game Black Myth: Wukong e o filme de animação Nezha.>
Alguns analistas se dizem surpresos com o sucesso de empresas chinesas — de montadoras de carros elétricos e desenvolvedores de IA a varejistas — mesmo diante do receio ocidental quanto às ambições de Pequim.>
"BYD, DeepSeek, todas essas empresas têm uma coisa em comum, incluindo Labubu", disse Chris Pereira, fundador e CEO da consultoria iMpact, à BBC News.>
"Elas são tão boas que ninguém se importa com o fato de serem chinesas. Simplesmente não dá para ignorar.">
Enquanto isso, Labubu segue ganhando seguidores nas redes. Milhões assistem a vídeos de novos donos abrindo suas tão aguardadas caixas. >
Um dos mais populares, postado em dezembro, mostra funcionários da segurança de um aeroporto nos EUA se reunindo curiosos em torno de uma caixa fechada, tentando adivinhar qual modelo está dentro.>
Esse elemento surpresa é uma parte importante do apelo, diz Desmond Tan, colecionador veterano, enquanto circula por uma loja da Pop Mart em Cingapura balançando energicamente as blind boxes antes de escolher uma. A cena é comum nas lojas da marca.>
Desmond coleciona personagens raros, os chamados chasers, que fazem parte de séries especiais da Pop Mart, incluindo Labubu. >
Em média, ele diz encontrar um chaser a cada dez caixas — um bom índice, segundo ele, se comparado à média geral de um para cada cem.>
"Conseguir um chaser só de balançar a caixa, aprender a identificar as diferenças…", diz, "é muito gratificante".>
"Se consigo logo na primeira ou segunda tentativa, fico superfeliz!">
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