Publicado em 1 de abril de 2025 às 11:39
Em uma era em que as telas dominam nossa vida cotidiana, uma epidemia silenciosa se espalha pelo mundo.>
A fadiga ocular digital, antes considerada uma condição marginal entre as preocupações com a saúde ocupacional, tornou-se um grande problema de saúde pública, que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo.>
À medida que nossa dependência de dispositivos digitais para trabalho, educação e interação social só aumenta, há mais riscos à saúde de nossos olhos.>
Estudos recentes apresentam um quadro sombrio. Até 50% dos usuários de computador podem desenvolver a chamada fadiga ocular digital.>
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Essa condição, caracterizada por uma variedade de sintomas oculares e visuais, como secura, lacrimejamento, coceira, queimação e visão turva ou até dupla, não é apenas um incômodo. >
Ela pode indicar problemas potencialmente crônicos que afetam significativamente a qualidade de vida e a produtividade de um indivíduo.>
A pandemia da covid-19 exacerbou essa tendência. Afinal, os lockdowns e as medidas de distanciamento social aumentaram o tempo de tela numa escala sem precedentes.>
Um aumento acentuado no uso de dispositivos digitais durante esse período está correlacionado a um crescimento das doenças na superfície ocular, distúrbios visuais e fadiga ocular digital.>
Mas o que exatamente acontece com nossos olhos quando olhamos para telas por longos períodos?>
A resposta está na biologia complexa do nosso sistema visual. Ao focar em telas digitais, nossa taxa de piscadas diminui e nossos olhos se esforçam demais para focar em objetos próximos por longos períodos.>
Piscar menos e manter o foco próximo desencadeia uma série de problemas oculares, desde irritação leve até ressecamento crônico.>
Os sintomas da fadiga ocular digital são diversos e muitas vezes insidiosos. Eles variam desde sinais imediatamente perceptíveis, como fadiga ocular, secura e visão turva, até pistas mais sutis, como dores de cabeça e no pescoço.>
Embora geralmente temporários, esses sintomas podem se tornar persistentes e debilitantes, se não forem tratados.>
Ao contrário da crença popular, a luz azul emitida pelas telas não é a principal causa da vista cansada.>
Embora a luz azul possa contribuir para a fadiga ocular e interromper os padrões de sono, não há evidências conclusivas de que ela cause danos oculares permanentes.>
Os verdadeiros vilões são a ergonomia ruim, o trabalho por um tempo prolongado com foco próximo e a redução das piscadas.>
Mas como podemos proteger a visão neste mundo centrado nas telas?>
A solução está em uma abordagem multifacetada, que combina mudanças comportamentais, ajustes ambientais e, quando necessário, intervenções médicas.>
A regra 20-20 é uma estratégia simples, mas eficaz, para proteger seus olhos da fadiga visual provocada pelos meios digitais.>
A cada 20 minutos, faça uma pausa de 20 segundos para se concentrar em algo que esteja a 6 metros de distância.>
Essa pequena pausa permite que os músculos oculares relaxem e reduz a tensão associada ao trabalho constante de foco próximo.>
Embora amplamente recomendada, é importante ressaltar que a eficácia dessa regra específica não foi rigorosamente estudada. Mas o princípio de fazer pausas frequentes é algo sólido e lógico.>
Fatores ambientais desempenham um papel fundamental na manutenção do conforto dos olhos durante o uso de telas.>
Iluminação adequada, umidade e boa qualidade do ar podem influenciar significativamente na saúde dos olhos.>
Use lâmpadas ajustáveis para direcionar a luz para longe dos seus olhos. Use um umidificador para manter os níveis de umidade adequados. E considere um purificador de ar para remover partículas irritantes do ar.>
Ajustes ergonômicos são igualmente importantes. Posicione a tela na distância do braço e um pouco abaixo do nível dos olhos, para reduzir a tensão no pescoço.>
Aumente o tamanho da fonte para minimizar o esforço de apertar os olhos e certifique-se de que sua cadeira ofereça apoio adequado para as costas.>
E para aqueles que apresentam sintomas persistentes de irritação visual, buscar a ajuda de um profissional de saúde é algo muito importante.>
Os profissionais que cuidam da saúde ocular podem realizar exames abrangentes para identificar problemas subjacentes, como erros de refração — doenças oculares comuns em que o formato do olho impede que a luz se concentre corretamente na retina, o que gera uma visão turva — ou doença do olho seco.>
Especialistas em visão podem prescrever tratamentos específicos, desde óculos especiais até medicamentos que tratam problemas específicos.>
Além disso, terapias emergentes oferecem esperança para um gerenciamento mais eficaz da vista cansada relacionada às telas.>
Medicamentos chamados agonistas do TRPM8 são promissores no alívio do desconforto do olho seco ao ativar receptores de resfriamento na superfície ocular.>
Enquanto isso, há o desenvolvimento de biossensores vestíveis que podem ser usados sob os olhos ou acoplados a lentes de contato para monitorar biomarcadores do fluido lacrimal em tempo real.>
As lágrimas podem refletir a saúde da superfície ocular e, potencialmente, de todo o corpo. Então essa inovação tecnológica pode transformar o diagnóstico e o tratamento de doenças da superfície ocular no futuro.>
Na era digital, é importante tomar medidas para proteger nossa visão. Ao reconhecer os sinais de fadiga visual, vale implementar estratégias de proteção e buscar atendimento profissional em tempo hábil. Assim, é possível reduzir os riscos associados ao nosso estilo de vida dependente de telas.>
O desafio da fadiga visual relacionada ao mundo digital não é intransponível. Com conscientização, educação e compromisso, podemos continuar a colher os benefícios da tecnologia — sem comprometer a visão.>
Ao olhar para o futuro, a integração de tecnologias mais amigáveis aos olhos e designs ergonômicos dos dispositivos digitais podem oferecer camadas adicionais de proteção.>
Enquanto isso, lembre-se de fazer pausas e piscar com frequência. E não hesite em procurar ajuda profissional se sentir sintomas persistentes.>
Ao fazer isso, você está no caminho certo para garantir uma visão clara e confortável.>
* Daniela Oehring é professora associada de optometria na Universidade de Plymouth, Inglaterra. >
** Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation e republicado aqui sob a licença Creative Commons. Você pode ler a versão original em inglês aqui.>
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