Publicado em 9 de junho de 2025 às 14:38
Juan e vários amigos se reuniram no estacionamento de uma loja de material de construção perto de Los Angeles, nos Estados Unidos, onde eclodiram protestos contra as políticas de repressão à imigração do presidente americano, Donald Trump.>
Normalmente, suas reuniões incluem dezenas de trabalhadores diaristas, muitos dos quais são imigrantes indocumentados, à procura de trabalho com compradores ou empreiteiros.>
Mas, no domingo (8/6), apenas duas pequenas picapes anunciavam que poderiam ajudar com telhados, reparos ou trabalhos de pintura do lado de fora desta filial da Home Depot no subúrbio de Paramount, cuja população é mais de 82% hispânica.>
Isso foi um dia depois de a loja ter se tornado o centro dos protestos relacionados à imigração, desencadeados por rumores de que os trabalhadores diaristas da região haviam sido encurralados e presos.>
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Muitas pessoas que vivem na comunidade disseram à BBC que viram veículos de agentes de imigração na área.>
Isso causou medo e pânico imediatos. Em seguida, surgiram relatos sobre batidas e prisões de diaristas na Home Depot, local onde muitos imigrantes indocumentados vão para encontrar trabalho nos EUA.>
Os protestos eclodiram nesta cidade de maioria hispânica, e se tornaram violentos com o lançamento de pedras e coquetéis molotov. As autoridades usaram spray de pimenta, balas de borracha e bombas de fumaça para conter a multidão.>
Mas as manifestações em Paramount parecem ter se originado a partir da desinformação.>
Embora dezenas de migrantes tenham sido detidos pelas autoridades em outros locais da região, os rumores de batidas na loja eram desinformação, de acordo com o Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) dos EUA.>
"Apesar dos relatos falsos, não houve nenhuma 'batida' do ICE [sigla em inglês para Serviço de Imigração e Controle Alfandegário] em uma Home Depot em Los Angeles", disse o DHS à BBC.>
"Ninguém sabe realmente o que aconteceu. Todo mundo está com medo", disse Juan, enquanto se apoiava na caçamba de uma pequena picape Toyota com seus dois amigos.>
Os distúrbios em Paramount, que também resultaram em um carro incendiado e estabelecimentos comerciais saqueados, se tornaram um catalisador para o que as autoridades federais descreveram como motins em toda a área de Los Angeles.>
No sábado (7/6), o presidente Donald Trump usou sua autoridade para convocar a Guarda Nacional da Califórnia, algo que normalmente é decidido pelo governador do Estado, enquanto o segundo dia de protestos agitava a cidade.>
No domingo, quando os protestos irromperam pelo terceiro dia, tropas armadas da Guarda Nacional vigiavam um parque empresarial fechado do outro lado da rua da loja de ferragens.>
Eles estacionaram veículos militares bloqueando a área, e enfrentaram os manifestantes que lançavam insultos e agitavam bandeiras e faixas mexicanas.>
"Vocês não são bem-vindos aqui!", gritou um homem com um boné do Los Angeles Angels, time de beisebol, para os soldados, enquanto outro manifestante destampava um spray de tinta e escrevia uma obscenidade dirigida ao Serviço de Imigração e Controle Alfandegário dos EUA.>
O DHS disse à BBC que a área vigiada abriga um de seus escritórios, e que as autoridades estavam usando o local "como uma área de concentração, e os manifestantes a encontraram".>
A agência afirmou à BBC que prendeu 118 imigrantes ilegais na área de Los Angeles nesta semana, incluindo cinco que eles dizem ser membros de gangues.>
De acordo com a agência, alguns destes imigrantes tinham antecedentes criminais que incluíam tráfico de drogas, agressão e roubo.>
Enquanto se preparava para embarcar no Air Force One em Morristown, em Nova Jersey, no domingo, Trump disse a jornalistas que havia "pessoas violentas" em Los Angeles, "e elas não vão sair impunes".>
Dora Sanchez ainda não conseguia acreditar nas imagens chocantes que transformaram sua cidade na noite anterior.>
No domingo, ela se reuniu com outras pessoas da comunidade na igreja Chapel of Change, a menos de um quarteirão do centro dos protestos do dia anterior.>
Ela e outros membros da igreja falaram sobre como esta comunidade hispânica foi revitalizada ao longo dos anos, e se tornou uma comunidade muito unida, em que os vizinhos se conhecem e cuidam uns dos outros.>
Os protestos pareceram um "ponto de ruptura" para a comunidade de imigrantes, observou ela.>
Los Angeles é uma das maiores cidades de maioria minoritária dos EUA.>
Os hispânicos não só constituem uma parcela maior da população do que qualquer outra origem étnica, como os imigrantes, especificamente os do sul do México, são uma parte essencial da história e da cultura daqui.>
A cidade se orgulha de seu status de cidade santuário, o que significa que não coopera com a fiscalização federal de imigração.>
Algumas pessoas daqui disseram que sentiram uma tensão crescente que pareceu irromper quando o governo do presidente republicano mirou nos imigrantes indocumentados de Los Angeles.>
"Já era hora de acordarmos", diz Maria Gutierrez, que protestou em Paramount. "Esse é o meu povo.">
Ela conta que nasceu no México, mas vive aqui desde criança.>
Assim como muitos aqui, ela tem familiares que estão ilegalmente nos EUA.>
"Isso é Los Angeles", ela diz. "Isso afeta a todos nós.">
"Todo mundo tem família ou conhece alguém que não tem documentos.">
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