Publicado em 19 de setembro de 2025 às 15:33
Com fortes críticas e humor muito incisivo, o mundo do entretenimento reagiu à suspensão pela rede ABC, de propriedade da Disney, do programa de Jimmy Kimmel, após os comentários do apresentador sobre o assassinato de Charlie Kirk no seu espaço humorístico.>
Basicamente, Kimmel declarou, na segunda-feira (15/9), que "a gangue Maga [Make America Great Again, o movimento político conservador do presidente Donald Trump] está tentando desesperadamente caracterizar esse rapaz que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles e fazendo todo o possível para ganhar pontos políticos com isso".>
A Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (FCC, na sigla em inglês) ameaçou tomar medidas a respeito. E, pouco depois, a rede decidiu retirar o programa do ar "indefinidamente".>
A decisão gerou uma onda de comentários de distintos tons.>
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O comediante Stephen Colbert defendeu veementemente seu colega. Ele iniciou seu programa The Late Show, transmitido pela rede CBS, afirmando que "esta noite, todos nós somos Jimmy Kimmel" e que a eliminação daquele espaço é um "flagrante ataque à liberdade de expressão".>
Colbert também classificou o ato como "censura" e alertou sobre os perigos que, a seu ver, traz a medida tomada pela rede de TV.>
"Com um autocrata, não se pode ceder nem um pouco", declarou ele. "Se a ABC acredita que, com isso, irá satisfazer o regime, eles são terrivelmente ingênuos.">
Outros apresentadores, como Jon Stewart, Seth Meyers e Jimmy Fallon, abordaram o tema da liberdade de expressão com sketches cômicos nos quais, aparentemente, eles se viam obrigados a elogiar o presidente Donald Trump.>
Seus programas foram produzidos pouco depois de Trump ter afirmado que as principais redes de TV americanas são esmagadoramente contra ele e poderiam perder suas concessões.>
"Digo a Jimmy que estou 100% com você e sua equipe", declarou Colbert. Ele destacou que esta medida foi a "última e mais audaciosa ação de uma campanha contra os críticos dos meios de comunicação".>
O próprio Colbert teve seu programa cancelado para a próxima temporada. A CBS declarou em julho que a decisão foi "puramente financeira", mas alguns observadores vincularam a medida a uma iminente decisão federal sobre uma fusão envolvendo a Paramount, empresa dona da CBS.>
Ao suspender Kimmel, a Nexstar Media, um dos maiores proprietários de canais de televisão dos Estados Unidos, declarou que não irá transmitir seu programa "no futuro próximo", pois seus comentários haviam sido "ofensivos e insensíveis".>
A Nexstar também espera a aprovação federal para outro acordo de aquisição.>
"Então, alguma vez ocorreu que uma empresa aparentemente cedesse aos caprichos do presidente para garantir o sucesso da sua fusão?", brincou Colbert. "Tudo é questão de relações corporativas.">
Após sua visita de Estado ao Reino Unido, Trump declarou que "a única coisa" que os programas noturnos "fazem é atacar Trump... Eles têm uma concessão. Eles não podem fazer isso.">
Colbert respondeu afirmando que este tipo de programa "sempre falou sobre o presidente atual, que é você".>
"Por isso, digam o que disserem, não se trata apenas do que disse Jimmy na segunda-feira", prosseguiu ele. "É parte de um plano.">
"Como sei disso? Há dois meses, quando o presidente comemorava com prazer o meu cancelamento, ele publicou: 'Jimmy Kimmel é o próximo a sair.'">
Meyers, apresentador do programa Late Night na rede NBC, iniciou seu programa de quinta-feira (18/9) afirmando que o governo Trump está "tomando medidas drásticas contra a liberdade de expressão".>
E acrescentou, sarcasticamente: "E, sem nenhuma relação com isso, quero apenas dizer, antes de começar, que sempre admirei e respeitei o sr. Trump.">
Ante as risadas do público, Meyers prosseguiu: "Sempre acreditei que era um visionário, um inovador, um grande presidente e um golfista ainda melhor.">
O apresentador continuou reproduzindo uma série de gravações de Trump, declarando que havia proibido a censura governamental e restabelecido a liberdade de expressão nos Estados Unidos.>
Depois de reproduzir outras gravações sobre a situação de Kimmel, Meyers declarou que "é um privilégio e uma honra chamar Jimmy Kimmel de meu amigo, da mesma forma que é um privilégio e uma honra fazer este programa todas as noites".>
"Acordo todos os dias e agradeço por viver em um país que, pelo menos, pretende valorizar a liberdade de expressão. E continuaremos fazendo nosso show como sempre fizemos: com entusiasmo e integridade...">
Seguiu-se, então, um ruído de pum, em referência a uma piada anterior sobre um cavalo defecando em frente a Trump durante sua visita de Estado ao Reino Unido.>
Voltando ao ponto, Meyers prosseguiu: "Este é um momento crucial... Este é um grande momento da nossa democracia e todos nós devemos defender a liberdade de expressão.">
"Existe um motivo para a liberdade de expressão estar incluída na Primeira Emenda", destacou ele, em referência à Constituição americana. "Ela está por cima de todas as demais.">
Jon Stewart foi ainda mais mordaz.>
Ele começou seu programa na quinta-feira (18/9) com uma abertura repleta de bandeiras americanas, voos de aviões de combate e uma voz empostada apresentando "o novo 'Daily Show', aprovado pelo governo e apresentado pelo patrioticamente obediente Jon Stewart".>
Seguiram-se mais de 20 minutos do que ele chamou de "o manual de Jon Stewart sobre a liberdade de expressão na gloriosa era Trump, após sua passagem pelo programa de Kimmel".>
Durante o programa, Stewart perguntou aos seus sete correspondentes se os críticos e detratores tinham razão. "Donald Trump está reprimindo a liberdade de expressão?", questionou ele.>
"Claro que não, Jon", responderam em uníssono, com vozes robóticas.>
"Nós, americanos, somos livres para expressar a opinião que quisermos. Sugerir o contrário é ridículo [risos].">
Ele também levou ao seu programa, como convidada, a jornalista filipina ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Maria Ressa, que apresentou seu livro Como Enfrentar um Ditador (Ed. Cia. das Letras, 2022).>
No The Tonight Show, da rede NBC, Fallon disse aos espectadores: "Nem eu, nem ninguém sabe o que está acontecendo. Mas conheço Jimmy Kimmel e é um cara decente, divertido e carinhoso. Espero que ele volte.">
"Muita gente está preocupada se iremos continuar dizendo o que queremos ou se irão nos censurar. Mas eu vou cobrir a viagem do presidente ao Reino Unido como faria normalmente. Aqui vamos nós.">
"Bem, amigos, o presidente Trump acaba de encerrar sua viagem de três dias para o Reino Unido e...">
Neste momento, uma voz em off intervém para dublar o apresentador, dizendo: "... ele parecia incrivelmente bonito".>
Paralelamente, David Letterman, ex-apresentador de programas noturnos com longa carreira na TV, falou sobre a suspensão de Kimmel no Festival Atlantic, em Nova York, na mesma quinta-feira (18/9).>
"Eu me sinto mal com isso, porque todos estamos vendo para onde isso vai, não é verdade?", declarou ele. "São meios de comunicação manipulados. Não servem. É uma bobagem. É ridículo.">
Em um país polarizado como os Estados Unidos, a reação à suspensão de Kimmel depende da afiliação política de cada pessoa. E nem todos os apresentadores de programas noturnos têm a mesma opinião.>
"As pessoas me procuram e dizem: 'Se você é um comediante e está na televisão, deveria estar incomodado com isso.' Na verdade, não estou", declarou Greg Gutfeld, da rede de tendência conservadora Fox News.>
O painel de convidados de Gutfeld criticou os comentários de Kimmel, argumentando que havia limites para a liberdade de expressão na TV aberta.>
O apresentador também declarou que os que, agora, defendem Kimmel, já haviam tentado silenciar órgãos de imprensa e comentaristas de direita.>
"A única forma de detê-los seria se eles soubessem que poderia acontecer com eles", declarou Gutfeld. "Mas realmente é justo pensar assim? Não sei.">
Por outro lado, o ex-apresentador da rede CNN Piers Morgan afirmou que Kimmel havia causado "compreensível indignação em todos os Estados Unidos".>
"Por que ele é anunciado como uma espécie de mártir da liberdade de expressão?">
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