Publicado em 1 de outubro de 2025 às 23:32
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (01/10), por unanimidade, a isenção do Imposto de Renda (IR) para pessoas que ganham até R$ 5 mil mensais, além de uma redução para aqueles que ganham entre R$ 5 mil e R$ 7.350.>
O projeto de lei (PL) aprovado, prioritário para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora segue para o Senado. >
Foram 493 votos pela aprovação do texto na Câmara.>
Em nota à BBC News Brasil, o Ministério da Fazenda afirmou que está trabalhando para que o projeto seja aprovado no Congresso até o fim do ano, para já valer para o ano-calendário de 2026 (o ano em que os rendimentos foram recebidos, os quais são declarados no ano-exercício; ou seja, a isenção se aplicaria ao imposto declarado em 2027).>
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"Segundo a Constituição, o IR deve observar somente a anterioridade anual, ou seja, o prazo legal para aprovação do PL para que produza efeitos a partir de 2026 é o final deste ano", escreveu o ministério.>
O caminhar do projeto foi alinhado por Lula com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), em reunião na terça (30/09). >
O projeto aprovado na Câmara foi relatado pelo deputado federal Arthur Lira (PP-AL). O texto foi enviado pelo governo ao Legislativo em março.>
O Senado também havia avançado com um projeto parecido, que estava parado há quatro anos e foi aprovado na semana passada na Comissão de Assuntos Econômicos, após o senador Renan Calheiros (MDB-AL) assumir sua relatoria. >
No pano de fundo, está a rivalidade entre Calheiros e Lira, ambos políticos de Alagoas.>
Um ponto que causou apreensão no governo nesta quarta-feira, na véspera da aprovação na Câmara, foi a compensação da isenção.>
Pelo projeto do governo e aprovado na Câmara, será criado um imposto mínimo de até 10% para contribuintes pessoa física com ganhos a partir de R$ 50 mil ao mês — ou R$ 600 mil ao ano —, de forma a compensar a perda de arrecadação com a isenção para rendas mais baixas.>
A alíquota subiria gradativamente de zero a 10%, com o patamar máximo incidindo apenas sobre contribuintes com ganhos acima de R$ 1,2 milhão ao ano.>
Segundo dados do governo federal, 141,4 mil pessoas passariam a contribuir pelo patamar mínimo do imposto — ou 0,06% da população total do país.>
O governo afirma que essas pessoas, que recebem mais de R$ 600 mil por ano e que não contribuem atualmente com alíquota efetiva de até 10%, pagam atualmente uma alíquota efetiva média de 2,54%.>
O governo calcula que perderá R$ 25,8 bilhões em 2026 com a ampliação da isenção do Imposto de Renda — mas que a tributação mínima das altas rendas gerará receita de R$ 25,2 bilhões.>
Mas, ao longo de quarta-feira, emendas de deputados tentaram alterar essas medidas de compensação. >
Segundo reportagem do portal ICL Notícias, uma emenda apresentada na Comissão de Agricultura propôs, por exemplo, a eliminação do imposto para os mais ricos e exigiu que a isenção fosse compensada pelo corte de gastos do governo. >
Outras tentaram alterar o regime tributário para beneficiar o agronegócio, como uma emenda que incluiria na isenção a receita bruta de atividade rural até R$ 508 mil anuais, com correção inflacionária.>
De mais de cem emendas apresentadas ao projeto, o relator Arthur Lira aceitou três, que tratam de detalhes sobre a cobrança do imposto de até 10% para os mais ricos e sobre a base de cálculo da tributação mínima do IR para cartórios e para empresas que aderem ao programa educacinal Prouni.>
O limite atual de isenção para todos os brasileiros é de R$ 2.259 e, nos ganhos acima disso, são cobradas alíquotas progressivas até 27,5%. Mas o governo Lula usa um mecanismo de "desconto simplificado" que faz com que, na prática, a isenção beneficie quem ganha até dois salários mínimos (R$ 3.036).>
O cálculo do governo é que a nova isenção, uma vez aprovada, beneficie 10 milhões de pessoas.>
Opositores chamam a proposta de "eleitoreira" e criticam seu impacto sobre o equilíbrio fiscal do governo.>
Uma reportagem da BBC News Brasil com dados de um levantamento inédito do Sindifisco Nacional, sindicato que representa os auditores-fiscais da Receita Federal, mostrou que os super-ricos brasileiros (contribuintes com ganhos milionários) pagam proporcionalmente menos da metade do IR da classe média.>
Os dados revelam que a tributação da renda dos contribuintes mais ricos apresentou tendência de queda nas duas últimas décadas, recuando quase 40% entre 2007 e 2023, devido aos ganhos mais elevados com dividendos — lucros distribuídos pelas empresas a acionistas que não são tributados no país desde 1996.>
Por outro lado, brasileiros de ganho intermediário estão pagando cada vez mais imposto, devido ao congelamento da tabela do IR, que tem ficado defasada em relação à inflação.>
Com isso, desde 2009, brasileiros milionários, com ganhos mensais acima de 320 salários mínimos, passaram a pagar proporcionalmente menos IR que a classe média — e a diferença entre os dois grupos vem aumentando ao longo dos anos.>
Caso a proposta do governo seja aprovada no Congresso, brasileiros milionários passarão a pagar um patamar similar ao IR da classe média.>
*Com informações de Daniel Gallas, da BBC News Brasil em Londres; e de Mariana Schreiber, da BBC News Brasil em Brasília>
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