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Boris obtém vitória ampla no Reino Unido, mostra boca de urna

Boris obtém vitória ampla no Reino Unido, mostra boca de urna

Se confirmada, a previsão significa que o primeiro-ministro Boris Johnson continuará à frente do governo e aprovará o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia até 31 de janeiro, como prometeu

Publicado em 12 de dezembro de 2019 às 21:46

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Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido. (Reprodução | Twitter (@borisjohnson))

Os conservadores garantiram 368 cadeiras no Parlamento contra 191 do Partido Trabalhista, segundo pesquisa de boca de urna divulgada às 22h desta quinta-feira (19h, no horário do Brasil) pelas emissoras de TV britânicas.

Se confirmada, a previsão significa que o primeiro-ministro Boris Johnson continuará à frente do governo e aprovará o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia até 31 de janeiro, como prometeu.

Os resultados das eleições serão divulgados ao longo da madrugada, e a previsão é que até as 6h de sexta (3h no Brasil) sejam conhecidos os resultados dos 650 distritos.

A informação mais importante, porém, é se Boris assegurou uma maioria segura de cadeiras. Se confirmado, o resultado da pesquisa de boca de urna divulgada pelas emissoras britânicas será catastrófico para o Partido Trabalhista, liderado por Jeremy Corbyn.

O partido terá perdido 71 assentos no Parlamento, o pior desempenho desde 1929.

Segundo as pesquisas, os trabalhistas elegeram representantes em 191 distritos, o que está sendo interpretado como resultado da forte rejeição do eleitorado britânico a Corbyn, da ala mais radical do partido e defensor de um ideário socialista.

Apesar da derrota, não é certo que ele renuncie como líder trabalhista, segundo analistas. Pesquisas recentes mostram que a maioria dos membros do partido é hoje "corbynista".

Foi uma mudança nas regras internas que permitiu o voto de todos os filiados que levou Corbyn ao poder, contra políticos mais centristas.

Em entrevista à BBC após a divulgação da boca de urna, John McDonnell, secretário de finanças do governo paralelo trabalhista, afirmou que o resultado, se confirmado, deve ser atribuído ao brexit e não a Corbyn.

"O partido tomará as decisões apropriadas depois que os resultados oficiais forem anunciados", afirmou.

Embora a boca de urna tenha feito boas previsões em eleições anteriores, analistas recomendavam cautela, principalmente a operadores do mercado financeiro -os resultados da eleição influenciam os preços de ações e da moeda britânica.

David Firth, estatístico da Universidade Warwick, e John Curtice, da Strathclyde, responsáveis pela metodologia das pesquisas, afirmam que o modelo se baseia em tendências que podem não se repetir desta vez.

Não apenas a situação econômica e política mudou em relação aos últimos anos, mas esta foi uma eleição atípica também em relação aos temas e aos candidatos.

Boris, o líder dos conservadores, e Corbyn, dos trabalhistas, têm alguns dos menores índices de aprovação da história britânica, e na prática essa eleição acabou se transformando em uma espécie de novo referendo sobre o brexit.

Os conservadores se apresentaram como a única solução para resolver de uma vez a saída do Reino Unido, e os principais opositores se colocaram contra a separação ou a favor de um novo referendo público.

Essa captura do debate eleitoral pelo brexit fez crescer os apelos pelo voto útil e levou partidos a desistir da disputa em favor de aliados em alguns distritos, o que pode também afetar os resultados.

Quase invisível nas ruas de Londres, a campanha seguiu intensa até a última hora por meios menos públicos.

Nas seções eleitorais, representantes dos partidos conferiam a lista de quem havia comparecido e convocavam por telefone conhecidos que ainda não haviam votado.

A batalha foi intensa nas mídias sociais. A estimativa é que os dois principais partidos tenham gasto 2 milhões de libras (cerca de R$ 11 milhões) em anúncios no Facebook e no Instagram desde o final de novembro.

De terça-feira até a manhã desta quinta, a propaganda dos trabalhistas havia sido vista 4,9 milhões de vezes, contra 2,7 milhões dos anúncios conservadores, segundo dados das redes sociais.

Primeira a acontecer em dezembro desde 1923, esta foi a terceira eleição britânica em menos de cinco anos -período pelo qual deveria durar a legislatura.

O pleito anterior, em 2017, foi convocado para resolver impasse em relação ao brexit, mesmo motivo da votação atual.

Apesar do clima desfavorável -temperatura entre 4ºC e 8ºC, chuva e vento- e de o voto não ser obrigatório no Reino Unido, o comparecimento às urnas foi descrito como surpreendente.

Filas se formaram em várias seções ao longo da tarde e à noite, e a espera chegava a meia hora em alguma delas.

Eram 13 as pessoas que esperavam às 14h na fila de identificação da escola em que votou a a enfermeira aposentada Marilyn Murray, 76.

Com dificuldades para caminhar por causa dos efeitos secundários de uma quimioterapia, que lhe tiram o fôlego, Marilyn preferiu percorrer a pé os 300 metros que separam sua casa da escola primária em que votou (pelo sistema britânico, ela poderia ter recorrido ao correio).

Como cerca de 60% dos eleitores de seu distrito, Bethnal Green, Marilyn e sua neta, Savanah, 22, votou nos trabalhistas.

A maioria dos britânicos com mais de 60 anos, porém, prefere os conservadores, segundo as pesquisas. Em Uxbridge, distrito por que concorre Boris Johnson, a aposentada Diana Luxton, 74, declarou não confiar inteiramente no primeiro-ministro, mas preferir seu partido ao dos opositores.

Enquanto os britânicos decidiam o destino da saída da União Europeia, líderes dos outros 27 países que foram o bloco se reuniam em Bruxelas, capital da UE, para um encontro de dois dias.

Boris Johnson foi o único chefe de governo a não comparecer à reunião.

As principais promessas dos conservadores nesta eleição são apresentar o acordo de divórcio de Boris Johnson até o Natal, para cumprir a promessa de alcançar o brexit até o final de janeiro, destinar mais 20,5 bilhões de libras (cerca de R$ 112 bilhões) ao sistema público de saúde (NHS) nos próximos cinco anos e contratar mais 50 mil enfermeiros e 20 mil policiais na Inglaterra e em Gales.

Os conservadores também prometem implantar um sistema de imigração semelhante ao da Austrália, que atribui pontos para quesitos como idade, escolaridade, experiência e profissão. Na prática, isso deve dificultar a entrada de estrangeiros menos qualificados, a não ser para trabalhos sazonais, como nas épocas de colheita.

Boris também prometeu não elevar o Imposto de Renda, as contribuições previdenciárias e o imposto sobre consumo.

Além dos conservadores, outro vencedor da eleição desta quinta é o Partido Nacionalista Escocês (SNP), que, de acordo com a boca de urna, conseguiu ampliar sua presença no Parlamento.

O partido da líder Nicola Sturgeon obteve 55 das 59 cadeiras escocesas, o que surpreendeu até mesmo membros do partido. Se confirmado, o resultado aumenta a chance de um novo referendo pela independência da Escócia.

A permanência na União Europeia foi um dos motivos que levou os escoceses a continuar no Reino Unido no último referendo, e a pressão aumenta com a provável vitória ampla de Boris Johnson e o brexit.

Boris, no entanto, já afirmou que não permitirá uma nova votação sobre a independência escocesa.

Para o cientista político Patrick Dunleavy, professor da London School of Economics, a probabilidade de um novo referendo dependerá do sucesso do SNP na votação para o Parlamento escocês, em maio de 2021.

Se eles repetirem o desempenho desta eleição, diz ele, será difícil para o primeiro-ministro britânico impedir a votação.

Como são as eleições britânicas?

Em cada um dos 650 distritos, vence o candidato mais votado, independentemente do número de votos para seu partido em todo o país. Cada distrito tem uma cadeira na Câmara dos Comuns (equivalente à Câmara dos Deputados) do Parlamento britânico.

Quando sai o resultado desta eleição?

Os resultados de todos os 650 distritos devem estar apurados até as 6h (3h) no Brasil. Deve sair durante a madrugada, porém, o resultado mais importante na prática: se o Partido Conservador conseguiu ou não assegurar a maioria das cadeiras para aprovar seu acordo do brexit.

De quantas cadeiras Boris precisa para o brexit?

Da maioria simples, ou seja, 326 cadeiras. Na prática o número pode ser um pouco menor, porque o presidente da Casa não vota.

Tradicionalmente, os eleitos pelo partido norte-irlandês Sinn Fein também não assumem suas cadeiras (na última eleição, eles elegeram sete representantes).

Como se escolhe o primeiro-ministro?

Se um partido obtém maioria, seu líder é declarado primeiro-ministro. Ele pede permissão à rainha para formar um novo governo em nome da Coroa.

E se ninguém alcançar a maioria?

Ocorre impasse (o que os ingleses chamam de "hung parliament"), e Boris continua no cargo para tentar formar um governo de coalizão. Antes dessas eleições, o Partido Conservador contava com o DUP (unionista irlandês) para governar.

Se ele não obtiver a maioria associando-se a outro partido, pode tentar ainda estabelecer um governo de minoria, no qual se estabelece um acordo de apoio para que outro partido vote com o governo nos temas principais.

O que acontece se Boris não formar um governo?

Nesse caso, o primeiro-ministro costuma renunciar e dar ao líder da oposição (o trabalhista Jeremy Corbyn) a oportunidade de tentar formar um governo.

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Se a oposição fracassar, convocam-se novas eleições.

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