Publicado em 12 de abril de 2025 às 12:39
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) será transferido neste sábado (12/4) para Brasília para prosseguir com seu tratamento após ser internado com obstrução intestinal em Natal. >
Segundo o boletim médico divulgado no início da tarde de hoje pelo Hospital Rio Grande, onde Bolsonaro está sendo atendido, o ex-presidente teve redução do quadro de distensão abdominal e está estável. >
A transferência para Brasília foi decisão de Bolsonaro, em conjunto com a família e do seu médico pessoal, para manter proximidade com familiares, segundo a nota. >
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Bolsonaro precisou ser internado às pressas na sexta-feira (11/4) após passar mal e sentir fortes dores na região do abdômen.>
Ele participava de um evento na cidade de Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, e foi atendido no Hospital Municipal Aluízio Bezerra. Na sequência, ele foi transferido de helicóptero para o Hospital Rio Grande, na capital do Estado. >
Segundo relatos de pessoas próximas a Bolsonaro, ele já reclamava de incômodos intestinais nos últimos dias.>
O médico do ex-presidente, Antônio Luiz Macedo, disse à CNN que Bolsonaro apresentou, além das dores, dificuldades para comer e na digestão, por conta de uma distensão intestinal. O quadro se caracteriza por um inchaço no abdômen, que pode ser derivado de uma inflamação.>
No boletim divulgado pelo hospital neste sábado, porém, a equipe médica afirmou que Bolsonaro apresenta excelente estado de humor e permanece sem necessidade de analgesia. >
"Segue em hidratação venosa por meio de cateter central, em uso de nutrição parenteral, manutenção da antibioticoterapia previamente instituída, com sonda nasogástrica aberta e uso regular das demais medicações prescritas", diz a nota. >
"Todos os sinais vitais e exames complementares mantêm-se dentro da normalidade, sem intercorrências clínicas até o presente momento.">
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, utilizou a imagem de Bolsonaro em uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) nesta sexta-feira, para exaltar o programa, implantado em 2003, durante o primeiro mandato de Lula (PT).>
"Todo mundo sabe: na hora da emergência, chama o SAMU 192! Atendimento de urgência para salvar vidas de norte a sul. Criado pelo presidente Lula, para todos os brasileiros, cada vez maior e mais rápido! Viva o SUS!", escreveu Padilha em publicação no X (antigo Twitter).>
Mais cedo, o helicóptero que transportou Bolsonaro entre Santa Cruz e Natal foi cedido pela governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT).>
Desde que foi vítima de um atentado a faca na campanha das eleições de 2018, o ex-presidente teve alguns episódios de obstrução intestinal — quando um trecho desse órgão sofre um bloqueio — e precisou ficar internado para fazer tratamentos.>
Ele já passou por cinco cirurgias abdominais, três delas delicadas, segundo sua equipe médica.>
Bolsonaro tem participado de campanhas e eventos públicos que defendem a anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2024 em Brasília. >
Recentemente, ele próprio se tornou réu e será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).>
Entenda a seguir o que é a obstrução intestinal e por que ela costuma acontecer em casos como o de Bolsonaro. >
Como o próprio nome já diz, o quadro está relacionado ao bloqueio de parte do intestino delgado ou do intestino grosso.>
Essa obstrução impede a passagem de alimentos e enzimas digestivas que, ao longo dos intestinos, estão envolvidos em uma série de processos para extrair nutrientes e descartar aquilo que não será aproveitado pelo corpo, formando as fezes.>
O gastroenterologista e cirurgião Flávio Quilici, professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, explica que os intestinos têm uma estrutura parecida a de canos ou mangueiras.>
"Se você pisar na mangueira ou entrar alguma pedra ali dentro, isso causa um entupimento que não deixa a água passar", diz.>
O mesmo raciocínio se aplica ao nosso tubo digestivo: caso alguma coisa fique emperrada ali dentro, não há como o conteúdo transitar pelos órgãos e seguir adiante.>
Esse entupimento pode ser provocado por uma série de fatores, como doenças inflamatórias (caso de Crohn e diverticulite), tumores e até alimentos secos e duros (como sementes de jabuticaba, por exemplo).>
No caso específico de Bolsonaro, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que o quadro está de fato possivelmente relacionado às várias cirurgias que ele precisou passar após sofrer a facada em 2018.>
De acordo com o médico Lúcio Lucas, chefe do centro cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, as operações no abdômen levam a um processo de cicatrização, que pode resultar na perda da movimentação do intestino.>
"Para funcionar a contento, o tubo digestivo se mexe constantemente. E essa mobilidade pode ser prejudicada pela formação do processo cicatricial após os procedimentos cirúrgicos", contextualiza.>
Um intestino mais "rígido" e com algumas estruturas cicatrizadas que grudam umas nas outras, portanto, pode sofrer uma espécie de torção, que obstrui parcialmente ou totalmente a passagem dos alimentos — é como se a mangueira do exemplo anterior se dobrasse por completo.>
Vale ressaltar que essa é uma hipótese provável no caso do presidente, mas que ainda precisa ser confirmada pelos profissionais que o acompanham.>
Esse problema pode evoluir aos poucos e só dar sinais mais contundentes no momento em que a situação está mais grave.>
"Os soluços são um sintoma da obstrução, especialmente quando ela acontece em algumas regiões do intestino delgado", observa Lucas.>
Essa condição também costuma estar relacionada com inchaço e dores fortes na barriga.>
Quilici diz que é possível detectar a obstrução intestinal no exame físico, feito no próprio consultório, especialmente quando o paciente tem um histórico de cirurgias na região do abdômen.>
"Podemos também fazer uma radiografia ou uma tomografia para encontrar essa obstrução", complementa.>
Esses exames são de rotina quando um paciente é internado com os sintomas de Bolsonaro, segundo médicos ouvidos pela BBC News Brasil.>
Dependendo da causa, da gravidade e do local onde a obstrução ocorreu, o médico opta pelo tratamento conservador ou pela cirurgia.>
Lucas explica que, nos casos menos graves, é possível recorrer ao jejum, a algumas medicações específicas e a determinados procedimentos menos invasivos, como a aspiração do líquido acumulado em razão do entupimento.>
O paciente então é monitorado por um tempo, até que sua situação melhore.>
Quando o bloqueio do tubo digestivo é maior, geralmente é preciso abrir a barriga para desfazer a obstrução ou remover a estrutura que bloqueia e aflige o intestino.>
Quilici e Lucas concordam que a cirurgia é relativamente simples e não costuma estar relacionada a complicações ou a um pós-operatório muito difícil.>
"Quando a operação consiste em apenas desfazer a dobra no intestino, a recuperação é rápida, e o quadro costuma evoluir muito bem", aponta Lucas.>
"Agora, se o diagnóstico e a intervenção demoram muito a acontecer, há o risco de a região intestinal afetada sofrer uma necrose, o que exige a remoção desse pedaço", acrescenta Quilici.>
Com reportagem de André Biernath, da BBC News Brasil.>
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