Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 14:44
Os termômetros marcavam 29°C às 7h desta terça-feira (18/2) no Rio de Janeiro — um indicativo de calor intenso, mas ainda abaixo das temperaturas registradas nos últimos dias.>
A capital fluminense já superou os 40°C diversas vezes recentemente, levando a prefeitura a acionar, pela primeira vez, o nível 4 do protocolo municipal de calor extremo, em vigor desde junho de 2024. >
Esse nível indica que a cidade enfrenta índices de calor muito elevados, com previsão de persistência ou aumento por pelo menos três dias consecutivos.>
Para hoje, a expectativa é que os termômetros cheguem a 42°C, fazendo do Rio a capital mais quente do país. >
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Inicialmente, a onda de calor atingirá áreas de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná, avançando posteriormente para Goiás e Bahia.>
"Nos próximos dias, as temperaturas seguem elevadas, mas com menos intensidade em comparação aos últimos dias, pois a massa de ar quente começa a perder força", explica Guilherme Borges, meteorologista do Climatempo.>
"A onda de calor é caracterizada pela permanência da temperatura do ar acima de um determinado limiar — que chamamos de histórico ou climatológico — por mais de três dias", descreve Renata Libonat, professora do Departamento de Meteorologia e pesquisadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).>
A Organização Meteorológica Mundial indica que esse limiar para considerar uma onda de calor é de cinco graus acima da média histórica para aquele local e determinada época do ano. >
O Instituto Nacional de Meteorologia, no Brasil, adota a mesma caracterização, embora existam outras definições que consideram diferentes limiares e não apenas a média.>
"Todas essas definições indicam que se trata de um evento extremo, ou seja, um evento de baixa frequência. Não é algo normal para aquele local ou época do ano", aponta Libonat.>
Renata Libonat, professora da UFRJ, explica que, para que as ondas de calor surjam, normalmente há um bloqueio atmosférico — um sistema de alta pressão que inibe a formação de nuvens e impede a chegada de ar mais fresco, como o de uma frente fria. Sem nuvens, a radiação solar incide diretamente, intensificando ainda mais o calor.>
Isso, durante alguns dias, começa a elevar a temperatura, que é sentida de forma diferente a depender da região ou área.>
"Uma onda de calor em uma área rural, vegetada ou em uma região de floresta será menos intensa do que em uma zona urbana. Isso acontece porque o solo tem um papel muito importante no agravamento das ondas de calor.">
Ela também destaca que, além dos sistemas atmosféricos de bloqueio, que atuam como gatilhos para a onda de calor, o tipo de solo e o ambiente ao redor também desempenham um papel significativo, podendo intensificar ainda mais as altas temperaturas.>
"Em áreas com mais vegetação, o solo retém mais umidade, o que ajuda a equilibrar a temperatura. Já nas cidades, onde há menos vegetação e mais concreto e asfalto, o solo seca mais rápido e absorve mais calor, fazendo com que a temperatura do ar ao redor fique ainda mais alta, agravando a sensação de calor extremo.">
Com o planeta em constante aquecimento — com a temperatura média aumentando no contexto das mudanças climáticas induzidas pelo homem —, esses eventos extremos, que antes ocorriam com pouca frequência, passam a ser muito mais comuns.>
"Para você ter uma ideia, imagine que, antes do período pré-industrial, quando ainda não havia aquecimento global, um evento extremo de calor ocorresse uma vez a cada 10 anos. Com o aquecimento global chegando a 1,5°C, como estamos vivenciando hoje, essa frequência aumenta: esses eventos agora ocorrem quatro vezes no mesmo período. Se a temperatura média global subir para quatro graus acima do normal, esses eventos ocorrerão 9,4 vezes a cada 10 anos", alerta Libonat.>
Além do aumento da frequência, a especialista aponta que a intensidade dessas ondas de calor também é crescente.>
"Com 1,5°C de aquecimento global, há um aumento de quase dois graus na intensidade das ondas de calor extremas. Se o aquecimento global atingir quatro graus Celsius, essas ondas de calor podem ser mais de cinco graus mais intensas do que o normal. Esse é um exemplo de como a mudança climática induz o aumento da frequência, intensidade e persistência das ondas de calor.">
A intensidade, no entanto, não pode ser atribuída apenas à mudança climática.>
"Há outros fatores envolvidos, como a alteração do uso e cobertura do solo. A urbanização crescente nas últimas décadas tem um impacto significativo, levando à formação de ilhas de calor urbano. Esse fenômeno ocorre quando a temperatura na zona urbana fica mais elevada em comparação com áreas vizinhas mais arborizadas.">
"A região metropolitana do Rio de Janeiro cresceu muito nas últimas décadas e hoje apresenta uma ilha de calor urbano bastante intensa. Durante eventos de ondas de calor, esse fenômeno exacerba ainda mais as temperaturas, que já estão elevadas.">
Libonat adverte que os municípios e os serviços de saúde ainda não estçao totalmente adaptado com protocolos para o enfrentamento e mitigação desses eventos. >
"No Rio de Janeiro, a Prefeitura finalmente criou, em 2024, protocolos de enfrentamento com orientações, postos de arrefecimento durante eventos de ondas de calor e até a proibição de certos eventos, dependendo do nível de calor. Isso é um passo importante e digno de reconhecimento, mas ainda há muito a ser feito.">
Na avaliação da professora, é fundamental aprimorar os protocolos, capacitando os serviços de saúde para atender a população adequadamente e, principalmente, reconhecendo o calor como um fator determinante de saúde — algo que ainda não acontece de forma ampla. >
"Um exemplo disso é que o calor não é considerado nas consultas pré-natais, apesar de já sabermos que, durante eventos de ondas de calor no Rio de Janeiro, ocorre um aumento de 20% nos partos prematuros. Portanto, é urgente avançarmos na implementação e aprimoramento dos protocolos para enfrentar as ondas de calor de maneira mais eficaz.">
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro destacou dicas que podem ser seguidas durante os dias de altas temperaturas:>
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