Publicado em 30 de abril de 2025 às 07:38
O operador do sistema elétrico espanhol descartou que um ataque cibernético teria causado o enorme apagão que atingiu a Espanha, Portugal e partes da França na segunda-feira (28/4).>
O diretor de operações da empresa Red Eléctrica, Eduardo Prieto, declarou na terça (29/4) que as conclusões preliminares indicam que "não houve nenhum tipo de interferência nos sistemas de controle" que indicasse um ataque – a mesma observação anunciada pelo primeiro-ministro português, Luís Montenegro, um dia antes.>
Mas o motivo específico que resultou no apagão ainda é desconhecido.>
O operador da rede afirmou que "não pode traçar conclusões" antes de ter os dados concretos. E o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que os investigadores estão tentando identificar a causa e irão, em seguida, tomar todas as medidas que forem necessárias para "garantir que isso não aconteça novamente".>
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As informações sobre o que aconteceu no momento do apagão vêm surgindo em conta-gotas, gerando teorias sobre quais teriam sido suas causas. Especialistas disseram à BBC que, provavelmente, ele foi ocasionado por diversas falhas simultâneas.>
Aqui está um resumo do que sabemos e quais questões permanecem sem resposta.>
Na noite de segunda-feira, Pedro Sánchez afirmou que 15 GW – o equivalente a 60% da demanda daquele horário – "subitamente desapareceram do sistema... em apenas cinco segundos".>
Prieto declarou, em entrevista coletiva na terça-feira, que houve dois "eventos de desconexão" em intervalo de cerca de um segundo no sudoeste da Espanha, onde há um volume substancial de geração de energia solar.>
O operador da rede espanhol pode ter se referido ao fato de que, quando as empresas de eletricidade identificam um descompasso entre a oferta e a demanda de energia elétrica capaz de gerar instabilidade, elas desconectam seus sistemas temporariamente, como forma de proteção.>
Mas Sánchez declarou posteriormente que o apagão "não foi causado pelo excesso de energias renováveis".>
O primeiro-ministro espanhol afirmou que não houve falha de cobertura – ou seja, queda da oferta – e que a demanda de eletricidade era relativamente baixa, dentro do normal, nos dias que antecederam o blecaute.>
Então, o que aconteceu?>
A resposta ainda é incerta, especialmente porque muitos sistemas sofrem queda do fornecimento de energia com bastante frequência, não apenas de origem renovável. E apagões desta escala costumam acontecer em algum lugar do mundo, em média, cerca de uma vez por ano.>
O descompasso entre a oferta e a demanda de eletricidade pode alterar a frequência da rede elétrica.>
Na Europa e no Reino Unido, esta frequência é de 50 Hz. Se ela se alterar e sair de uma faixa restrita, pode danificar os equipamentos.>
"Quando uma grande companhia detecta que a frequência está saindo da sua faixa de tolerância, ela pode desligar os sistemas para proteger seu equipamento", segundo a professora Hannah Christensen, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.>
E, se muitas empresas fizeram o mesmo em rápida sucessão, podem surgir "efeitos cascata", segundo ela, gerando um blecaute.>
Mas, quando se trata de energias renováveis, os operadores contam com previsões do tempo de curto prazo muito precisas para antever onde haverá excesso de vento para a produção de energia solar. Com estas informações, elas ajustam o fornecimento de energia, como explica Christensen.>
A energia renovável traz diferentes desafios em relação à energia gerada por combustíveis fósseis "devido à sua intermitência", explica a professora. Mas as empresas se programam para contornar esta questão, que é bem conhecida.>
Para ela, "é um tanto surpreendente que isso não tenha sido previsto".>
O professor Keith Bell, da Universidade de Strathclyde, no Reino Unido, destaca que "se um sistema depende da energia solar e eólica, eles projetam um sistema refletindo esta questão". Ele indica que o fornecimento adicional de energia de fontes renováveis para a rede não teria sido uma surpresa.>
"A Espanha tem muita experiência com energia eólica e solar e conta há muito tempo com um sistema de previsão do tempo e seus impactos", explica o professor.>
"Todos os tipos de sistemas falham. As coisas podem dar errado — e dão errado, seja com energias renováveis, combustíveis fósseis ou de origem nuclear.">
Para Bell, "este pode ser o modelo do queijo suíço, que fez com que todos os buracos do sistema tenham se alinhado por acaso".>
A Red Eléctrica também indicou que a queda de energia causou falhas de interconexão da rede entre a Espanha e a França.>
Duas tecnologias básicas são empregadas para interconectar partes de uma rede ou países: uma linha de transmissão padrão que transmite correntes alternadas e, cada vez mais, linhas de corrente direta de alta tensão.>
A Espanha tem uma linha de alta tensão que começou a operar sete anos atrás, o que indica que ela foi bem testada, segundo o professor Bell.>
A península ibérica costuma ser chamada de "ilha de eletricidade". Isso porque ela conta com poucas conexões para a França através dos Pireneus, o que faz com que ela seja vulnerável a falhas.>
Pedro Sánchez afirmou que a energia foi restabelecida graças às conexões com a França e o Marrocos, além das fontes movidas a gás e hidrelétricas.>
O operador do sistema português REN desmentiu relatos iniciais atribuídos à agência na segunda-feira, dando conta que o blecaute teria sido causado por um raro evento atmosférico.>
A mensagem dizia que "devido a variações extremas de temperatura no interior da Espanha, verificaram-se oscilações anômalas nas linhas de muito alta tensão (400 kV), um fenômeno conhecido como 'vibração atmosférica induzida'".>
"Estas oscilações provocaram falhas de sincronização entre os sistemas elétricos, levando a perturbações sucessivas em toda a rede europeia interligada", concluiu o operador.>
Mas o porta-voz da REN Bruno Silva declarou à agência de notícias AFP na terça-feira que o operador da rede "não publicou esta declaração", sem fornecer mais detalhes.>
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