Publicado em 22 de junho de 2025 às 19:39
E chegou o dia de Fordo.>
Desde que Israel iniciou sua atual campanha militar contra o Irã, sob a justificativa de que o regime dos aiatolás estava perto de obter uma bomba atômica, o nome dessa instalação nuclear iraniana tem ocupado os principais noticiários ao redor do mundo.>
A planta de enriquecimento de urânio é considerada a joia da coroa do controverso programa nuclear iraniano. Até agora, porém, havia escapado dos ataques israelenses.>
Por que ainda não havia sido alvo das bombas e mísseis lançados por Israel nos últimos dez dias contra seu arquirrival iraniano? Por causa de sua localização.>
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Fordo foi construída a vários metros de profundidade sob uma cordilheira montanhosa, perto da cidade de Qom, a cerca de 96 quilômetros ao sul da capital, Teerã — o que a tornava praticamente inalcançável para as armas israelenses, mas não para as dos Estados Unidos.>
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O ataque aéreo lançado pelos Estados Unidos na noite de sábado contra Fordo e outras duas instalações (Natanz e Isfahan) causou danos "devastadores" ao programa nuclear iraniano, segundo o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth.>
"Arrancamos a 'bomba' das mãos deles (e eles a usariam se pudessem!)", escreveu neste domingo o presidente Donald Trump em sua rede Truth Social, respondendo às críticas de uma congressista republicana que classificou sua decisão como "inconstitucional".>
No caso da planta subterrânea, imagens de satélite em alta resolução divulgadas pela empresa Maxar Technologies revelam que as bombas americanas atingiram seu alvo.>
Nas imagens, feitas em 22 de junho, poucas horas após os ataques autorizados por Trump, é possível ver até seis grandes crateras (provavelmente os pontos de entrada das bombas americanas), além de poeira cinza e escombros espalhados pela encosta da montanha.>
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Os buracos parecem confirmar que Washington utilizou, pela primeira vez em combate, sua bomba antibunker ou penetradora de munições de alta potência (MOP) GBU-57A/B.>
A GBU-57 pesa 13.600 quilos e, segundo especialistas militares, é capaz de atravessar aproximadamente 18 metros de concreto ou 61 metros de terra antes de explodir.>
O general Dan Caine, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, confirmou durante uma coletiva no Pentágono no domingo que 14 bombas MOP estavam entre as "75 armas guiadas de precisão" usadas nos ataques contra o Irã.>
Nas imagens, no entanto, não se veem colunas de fumaça, fogo ou grandes quantidades de escombros. Por quê?>
"Não se observa um grande efeito explosivo no ponto de entrada porque [esse tipo de bomba] não é projetado para detonar na entrada, mas sim nas profundezas da instalação", explicou à BBC Verify o analista de imagens da McKenzie Intelligence Services, Stu Ray.>
Outro detalhe é que os seis túneis de entrada de Fordo já não são mais visíveis nas imagens. Isso, segundo o especialista, pode ter ocorrido porque colapsaram após os ataques ou foram bloqueados intencionalmente pelos iranianos numa tentativa de "mitigar os danos dos bombardeios aéreos".>
Ray também afirmou que os aviões dos EUA lançaram ao menos três tipos diferentes de munição em dois pontos de impacto, e que a coloração cinza do solo parece ser resquício do concreto expelido pelas explosões.>
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No entanto, o fato de Fordo estar localizada a vários metros de profundidade impede a verificação da real magnitude dos danos causados pelos ataques.>
"É evidente que foi afetada, mas o grau de dano nas salas de enriquecimento de urânio não pode ser determinado com certeza", disse Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).>
Já as autoridades iranianas reconheceram que a instalação foi danificada.>
"Sofremos danos", afirmou Behrouz Kamalvandi, porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI, na sigla em inglês), que deixou claro, no entanto, que o programa nuclear continuará.>
"Esta não é a primeira vez que a indústria [nuclear] sofre danos", lembrou.>
De Teerã, o governo minimizou o impacto, alegando que o material armazenado em Fordo já havia sido transferido para outros locais.>
"O Irã não sofreu um golpe significativo porque os materiais já haviam sido removidos", afirmou o vice-diretor político da emissora estatal iraniana, Hassan Abedini.>
Essa avaliação é compartilhada pela inteligência israelense. Segundo o jornal The New York Times, avaliações iniciais apontam que os ataques dos EUA não destruíram Fordo, mas causaram "danos graves" — conforme revelaram dois agentes israelenses sob condição de anonimato.>
Outras autoridades iranianas, como o presidente Masoud Pezeshkian, insistiram que o país não abrirá mão do desejo de obter tecnologia nuclear, ainda que com fins "civis e pacíficos".>
A AIEA, por sua vez, garantiu que não detectou aumento nos níveis de radiação após os bombardeios dos EUA.>
Em 2023, a agência constatou que as centrífugas de Fordo eram capazes de enriquecer urânio a 60% — acima do necessário para uso civil. Em alguns casos, o enriquecimento teria chegado a 83,7%, perto dos 90% necessários para fabricar uma arma nuclear.>
Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), Fordo abrigava 2 mil centrífugas em dois túneis localizados a 80 metros abaixo da superfície.>
A empresa Maxar também divulgou neste domingo imagens das plantas de Natanz e Isfahan, que já haviam sido atacadas anteriormente por Israel.>
No caso da primeira, localizada a cerca de 220 quilômetros ao sudeste de Teerã e com uma seção subterrânea, as imagens mostram duas enormes crateras.>
Já em Isfahan, que já havia sido destruída, as fotos de satélite mostram grandes manchas negras de queimadura, diversos edifícios desmoronados e escombros espalhados por todo o complexo.>
Embora Washington afirme que os ataques não causaram vítimas, o Crescente Vermelho iraniano afirmou que onze pessoas ficaram feridas — sem especificar se eram civis ou militares, segundo informou o BBC Monitoring.>
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