Publicado em 22 de maio de 2025 às 16:39
As ações do governo federal em resposta às enchentes históricas que atingiram o Rio Grande do Sul há um ano estão dezenas de bilhões abaixo do anunciado pelo governo Lula, segundo análise da BBC News Brasil com apoio de especialistas em contas públicas. >
De dezembro a abril, canais oficiais e autoridades da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgaram diferentes números sobre o conjunto de recursos "que o governo destinou" ao Estado, quase sempre superiores a R$ 100 bilhões.>
Em fevereiro, a Secretaria para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul chegou a apresentar um balanço na Câmara dos Deputados em que "o total das medidas de apoio ao Rio Grande do Sul" somavam R$ 141,5 bilhões, maior valor já anunciado.>
Além do governo, o PT também usou a apresentação para divulgar em seu site: "Governo Lula investe 140 bilhões na reconstrução do Rio Grande do Sul".>
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A reportagem analisou os números e identificou valores inflados em ao menos R$ 37 bilhões por medidas que nunca saíram do papel, além de valores possivelmente contabilizados de forma duplicada e divulgados sem detalhamento que permitisse que fossem checados.>
Um exemplo dessas inconsistências foi a inclusão de R$ 7,2 bilhões previstos para importação de até 1 milhão de toneladas de arroz para evitar a disparada de preço no Brasil após quebra de safra gaúcha. Jamais houve a importação do cereal, pois a medida foi cancelada ainda em 2024.>
Números do Tesouro Nacional analisados pela reportagem e especialistas indicam que recursos próprios novos do governo Lula investidos somam R$ 61,4 bilhões, entre eles:>
Além disso, a União lançou mão de medidas como a antecipação do Bolsa Família e outros benefícios que já seriam pagos em 2024 e o adiamento da cobrança de impostos.>
Essas ações não geram novas despesas, mas também foram contabilizadas pelo governo federal como recursos "destinados" ou "investidos" no Estado após as enchentes — assim como a liberação emergencial de R$ 3,5 bilhões do FGTS, um recurso que não é da União, mas uma poupança compulsória dos trabalhadores.>
Entre economistas, há críticas aos números inflados, mas também elogios à resposta rápida e ao grande leque de ações de apoio a vários setores impactados — como auxílio direto a famílias desabrigadas, crédito barato a empresas e produtores rurais em dificuldade, além de repasses a prefeituras e ao governo estadual para reconstrução.>
Para os autores de um artigo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made-USP) sobre as ações federais, o governo fez bem em conciliar recursos novos com antecipação de benefícios, adiamento de impostos e linhas de créditos especiais.>
"É um jogo interessante, que tem baixo impacto orçamentário, ao mesmo tempo que você consegue disponibilizar recursos de uma maneira muito rápida para quem precisa", defendeu o economista Lucca Rodrigues.>
Já Gabriel de Barros, ex-diretor da Instituição Fiscal Independente, órgão do Senado, diz que o Tribunal de Contas da União precisa investigar as inconsistências nos números divulgados.>
"Esse dinheiro não é do governo, é da população", diz Barros, atual economista-chefe da ARX Investimentos.>
"O governo tem obrigação de divulgar os números de forma transparente e clara para a sociedade fiscalizar se o gasto está sendo eficiente. Outro ponto importante é que mais transparência dificulta desvios de dinheiro.">
Além das inconsistências nos valores anunciados, parte do que de fato foi liberado ainda não foi usado nas obras de reconstrução e prevenção a novas enchentes, que são complexas e esbarram no ritmo mais lento da burocracia pública.>
A demora na entrega de novas moradias, escolas, pontes e diques tem gerado disputa política entre prefeituras, o governo estadual, comandado por Eduardo Leite (PSD), e a administração Lula (leia reportagem aqui).>
"Se viesse uma cheia agora, um ano depois, não teria nada pronto a ponto de evitar inundação", constatou à reportagem o engenheiro ambiental Fernando Fan, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).>
Outro tema que gerou polêmica foi a produção de um documentário do governo gaúcho sobre o aniversário de um ano da tragédia climática, com participação de Leite. O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), ex-ministro de apoio à Reconstrução, acionou o Ministério Público Federal para investigar uso de dinheiro público para promoção pessoal do governador, que acaba de trocar o PSDB pelo PSD e se colocou como pré-candidato a presidente em 2026. >
Já Pimenta, cotado para disputar o governo gaúcho ou uma vaga no Senado em 2026 pelo PT, também acusa o governo estadual de ter usado dinheiro da reconstrução no filme, o que a gestão Leite nega.>
A BBC News Brasil também analisou os valores investidos em resposta às enchentes pelo governo do Rio Grande do Sul. A reportagem não encontrou sinais de números inflados ou incorretos, mas parte dos valores anunciados não está divulgada de forma clara e detalhada.>
Um portal oficial diz que já foram investidos R$ 7,3 bilhões em ações de reconstrução e prevenção, mas o governo não soube informar à reportagem quanto desses valores de fato já foram gastos. O portal permite clicar em cada uma das medidas para obter mais datalhes, mas parte delas aparece como "em andamento". >
Após questionamento da BBC News Brasil em abril, o secretário para Apoio à Reconstrução, Emanuel Hassen (PT), reconheceu que os números apresentados por ele na Câmara dos Deputados não representavam de fato o que o governo destinou ao Rio Grande do Sul. >
O político gaúcho assumiu a secretaria após Paulo Pimenta deixar seu comando, em setembro.>
Hassen alegou que, no momento da apresentação, em fevereiro, contabilizou todas as medidas que haviam sido anunciadas e que, agora, estava sendo feito um balanço do que de fato saiu do papel.>
"Estamos passando uma peneira. Naquele momento, o dado somado era aquele. E agora a gente está, no final do processo, fechando o ano das enchentes, vamos dizer assim, aperfeiçoando a utilização dos números", disse, em abril.>
"Então, obviamente, se alguém tem culpa naquela oportunidade, não é o PT, que pegou os números que o governo apresentou.">
Os números anunciados por Hassen também parecem ter contabilizado duas vezes R$ 6,5 bilhões previstos para obras contra cheias na região metropolitana de Porto Alegre — o secretário negou essa duplicação, mas não apresentou os valores utilizados para que a reportagem pudesse checar a informação.>
Já a Casa Civil, principal responsável por contabilizar as medidas, não comentou as questões levantadas pela reportagem sobre valores inflados, mas alterou os números divulgados em meados de abril. Depois disso, o governo unificou o anúncio de valores destinados ao Estado em R$ 111,7 bilhões — número que continua gerando controvérsias.>
Em resposta à BBC News Brasil, a pasta disse que o conjunto de ações do governo federal é "sem precedentes" e "evitou uma recessão no Estado, o fechamento de empresas e a perda de empregos, os quais agravariam as consequências da calamidade".>
"Os investimentos foram tão efetivos que o PIB do Rio Grande do Sul cresceu 4,9% em 2024. Mais que o PIB nacional, que cresceu 3,4%", argumentou ainda a Casa Civil, citando estatísticas do Departamento de Economia e Estatística (DEE), um órgão gaúcho, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).>
O crescimento gaúcho, porém, foi puxado por forte alta da agropecuária, que cresceu 35% em 2024, devido principalmente à recuperação da colheita de soja realizada até abril (antes das enchentes), após dois anos de estiagem. Já a indústria caiu 0,4%, enquanto o setor de serviços subiu 3,5%, informou também o DEE.>
A Casa Civil disse ainda que os valores têm sido divulgados com "total transparência".>
"Além dos diversos eventos de balanço das ações realizados no Estado, portais oficiais do Governo Federal criaram painéis específicos para o acompanhamento [dos gastos no Rio Grande do Sul], além do acompanhamento próximo do Tribunal de Contas da União, Controladoria Geral da União e Ministério Público Federal", continuou a pasta.>
Em relação às ações do governo federal em resposta à crise gaúcha, há duas formas de analisá-las, apontam economistas entrevistados pela BBC News Brasil. >
Uma delas é olhar quanto foi de fato mobilizado em recursos novos pela União (61,4 bilhões). A outra forma é ver o impacto das medidas na ponta, ou seja, quanto de fato chegou aos beneficiários finais: famílias, empresas, agricultores, prefeituras e governo estadual. >
Esse montante, agora contabilizado em R$ 111,7 bilhões, é o dado que o governo mais usa para divulgar sua atuação — e o que mais gera questionamentos.>
Mas, para entender como esses valores acabaram inflados, primeiro é preciso analisar os recursos novos mobilizados pelo governo.>
Esses R$ 61,4 bilhões incluem gastos primários (R$ 29,4 bilhões), empréstimos com recursos da União (R$ 20 bilhões do Fundo Social, alimentado por royalties do petróleo e gerido pelo BNDES) e o perdão dos juros da dívida (estimado em ao menos R$ 12 bilhões).>
Os gastos primários, compilados pelo Tesouro Nacional no Painel de Monitoramento da Execução Orçamentária e Financeira com Auxílio e Reconstrução do Rio Grande do Sul, foram autorizados pelo Congresso e puderam ser excluídos do arcabouço fiscal, regra que limita as despesas anuais do governo.>
O valor foi usado, por exemplo, em ações da Defesa Civil (R$ 1,4 bilhão) e no pagamento do Auxílio Reconstrução, uma parcela única de R$ 5,1 mil. A medida beneficiou mais de 420 mil famílias afetadas, somando R$ 2,15 bilhões.>
Os gastos novos também incluíram o depósito, em dezembro, de R$ 6,5 bilhões em um fundo na Caixa Econômica Federal, dinheiro reservado para obras contra cheia na região metropolitana que ainda não foi usado — motivo de atrito entre o governo Lula e a gestão Leite.>
Além disso, ainda nas despesas primárias, o governo depositou R$ 6 bilhões em fundos garantidores de crédito, geridos por Banco do Brasil e BNDES — com objetivo de estimular linhas de crédito barato, conhecidas pelas siglas Pronampe, PEAC e Pronamp/Pronaf.>
Essa garantia do governo permitiu a bancos públicos e privados reduzir seu risco e, assim, oferecer empréstimos com juros baixos aos atingidos pelas inundações. O dinheiro emprestado, porém, era dos próprios bancos, que recebem compensação dos fundos garantidores somente em caso de inadimplência.>
Foi justamente a comunicação do impacto dessa última medida que mais gerou distorções nos valores anunciados. >
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Em maio de 2024, o Ministério da Fazenda anunciou que o Tesouro Nacional aportaria R$ 7 bilhões em fundos para subsidiar essas linhas de créditos e estimou que isso poderia alavancar até R$ 39 bilhões em empréstimos aos atingidos.>
As linhas anunciadas tinham prazo para acabar em dezembro de 2024 e foram encerradas como previsto.>
Os números anunciados não se confirmaram. O governo aportou de fato nos fundos R$ 6 bilhões, e depois elevou a previsão de empréstimos potenciais para R$ 40,2 bilhões.>
No entanto, apenas R$ 10 bilhões foram de fato emprestados nessas linhas de crédito até seu encerramento, em dezembro.>
Ainda assim, a projeção de R$ 40,2 bilhões em potenciais empréstimos continuou sendo contabilizada dentro dos recursos que teriam sido "destinados" ao Rio Grande do Sul — ou seja, R$ 30 bilhões que nunca se tornaram reais continuaram contabilizados nos valores que chegaram aos beneficiários finais da medidas. >
A divulgação "dos valores destinados" foi alterada apenas em meados de abril, após questionamentos da BBC News Brasil à Casa Civil e ao Ministério da Fazenda.>
Antes dessa alteração, uma página do portal Brasil Participativo, gerenciado pela Casa Civil, dizia que os "valores destinados ao Rio Grande do Sul" somavam R$ 112 bilhões, sendo R$ 94,5 bilhões em recursos novos e R$ 17,5 bilhões em adiamento de tributos e antecipação de benefícios.>
Além disso, a página destacava, separadamente, o impacto esperado da suspensão da dívida do Rio Grande do Sul com a União.>
Além da previsão de ao menos R$ 12 bilhões com o perdão de juros, contabilizava também a estimativa inicial do Ministério da Fazenda de que a suspensão dos pagamentos por três anos vai liberar R$ 11 bilhões para investimentos do governo estadual — valores que estão sendo usados em ações de reconstrução e prevenção, mas que depois terão que ser pagos à União com correção pela inflação.>
Todas essas medidas apresentadas no portal Brasil Participativo até meados de abril somavam R$ 135 bilhões em ações do governo federal em resposta às enchentes gaúchas. >
Analisando essas informações, a BBC News Brasil identificou ao menos R$ 37 bilhões que estavam registrados como recursos novos, mas não saíram do papel.>
Além dos R$ 30 bilhões em projeções exageradas de crédito, o montante incluía os R$ 7,2 bilhões previstos para importação de arroz, medida cancelada ainda em 2024 após indícios de fraude no primeiro leilão de compra.>
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O governo Lula modificou a composição dos valores anunciados como "destinados" ao Rio Grande do Sul, retirando as informações incorretas e incluindo outras iniciativas, sendo a principal delas a suspensão da dívida estadual com a União por três anos — medida que antes era tratada separadamente.>
A nova divulgação, porém, reduziu a transparência dos dados.>
Antes, o portal Brasil Participativo detalhava cada medida contabilizada no que seriam os R$ 94,5 bilhões em recursos novos destinados ao Estado. Foi isso que permitiu à reportagem identificar os valores inflados.>
Depois da mudança, esses recursos novos caíram para R$ 66,7 bilhões, mas o portal passou a listar as medidas que compõem esse montante sem informar seus valores separadamente.>
Já a soma das outras ações (adiamento de impostos e antecipação de benefícios) subiu de R$ 17,5 bilhões para R$ 21,9 bilhões. Esses valores já não eram detalhados antes e continuaram sem detalhamento.>
Além dessas duas alterações, o portal passou a incluir, no total de valores destinados, as estimativas de impacto da suspensão da dívida estadual por três anos. Com isso, a soma dos novos "valores destinados" passou a ser de R$ 111,7 bilhões.>
O novo valor é cerca de R$ 23 bilhões menor do que o total das ações divulgadas antes das alterações (R$ 135 bilhões), considerando a soma do que era informado até meados de abril no portal Brasil Participativo como recursos novos, antecipações de benefícios, adiamento de impostos e, separadamente, o impacto da suspensão da dívida.>
Dentro do portal Brasil Participativo, há ainda outra página que detalha a liberação dos recursos anunciados por município.>
Essa página também sofreu alterações após os questionamentos iniciais da BBC News Brasil.>
No entanto, ela também não detalha o que compõe a nova cifra de R$ 111,7 bilhões de "valores destinados ao Rio Grande do Sul".>
A nova versão dessa página informa que, desse total que teria sido destinado ao Estado em resposta às enchentes, R$ 89,7 bilhões já foram "pagos ou concedidos" — o que inclui ações variadas, como empréstimos já liberados, saque emergencial do FGTS, postergação de tributos, a suspensão da dívida gaúcha com a União e dinheiro liberado para obras, mas ainda não executado.>
Os valores "pagos ou concedidos" são informados em detalhes, o que permite checar as informações.>
Por outro lado, a página não fornece detalhamento sobre os R$ 111,7 bilhões que teriam sido destinados.>
A diferença entre os dois montantes (valores destinados e valores pagos ou concedidos) soma quase R$ 22 bilhões de recursos, sobre os quais não se tem informações claras.>
A BBC News Brasil pediu à Casa Civil o detalhamento desses valores, mas não obteve acesso aos dados.>
Para o economista Gabriel de Barros, ex-diretor da Instituição Fiscal Independente (órgão do Senado), as inconsistências nos números divulgados mostram problemas de transparência e governança.>
"Ser transparente não significa vomitar o dado na internet. Tem que ter consistência nos dados que são apresentados, e não tem", criticou.>
Outra crítica do economista é à forma como o governo soma valores de naturezas diversas, tratando recursos privados como verbas federais.>
Há momentos, inclusive, em que canais oficiais e autoridades do governo se referem a esses valores como se fossem investimentos da União.>
"Junto de todos os gaúchos, investimos R$ 112 bilhões na sua recuperação, incluindo a suspensão da dívida estadual de R$ 23 bilhões com a União", diz um vídeo compartilhado nas redes sociais do governo federal em 27 de abril.>
A questão não é nova. A BBC News Brasil publicou uma reportagem em maio de 2024 mostrando como o governo Lula já tratava, na ocasião, medidas anunciadas para o Rio Grande do Sul, como investimentos federais, embora a maioria dos valores fosse projeção de potenciais empréstimos.>
Na ocasião, o Ministério da Fazenda reconheceu o erro e corrigiu conteúdos em seu site e nas redes sociais, enquanto a Casa Civil e a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) mantiveram as informações no ar.>
Um ano depois, a BBC News Brasil voltou a questionar a Casa Civil sobre o governo tratar como "investimentos federais" recursos que não são da União. A pasta não respondeu diretamente o questionamento e defendeu a importância das medidas.>
"Uma das medidas mais importantes em um momento de calamidade é o dinheiro no bolso na hora da dificuldade. Por isso, é comum em calamidades a autorização do saque dos recursos do FGTS como uma injeção de recursos nas famílias e na economia", respondeu a Casa Civil.>
"Além de permitir o saque do FGTS, o governo antecipou a restituição do Imposto de Renda, de benefícios da previdência social, de abono salarial, do Bolsa Família e pagou o auxílio reconstrução. Essas medidas, associadas a muitas outras, evitaram uma recessão no Estado", continuou a pasta.>
A BBC News Brasil também analisou as ações divulgadas pelo governo do Rio Grande do Sul. A reportagem não encontrou sinais de números inflados ou incorretos, mas parte dos valores anunciados não está divulgada de forma clara e detalhada.>
O governo gaúcho tem um portal em que são divulgados R$ 7,3 bilhões de recursos estaduais usados no Plano Rio Grande (Programa de Reconstrução, Adaptação e Resiliência Climática do Rio Grande do Sul).>
Os valores também incluem, por exemplo, ações emergenciais, recursos para obras, construção de moradias temporárias e definitivas, além de garantias para uma linha de crédito do Banrisul, banco estatal gaúcho. Nesse caso, a gestão Leite inclui apenas o que de fato foi depositado em garantias, e não projeções de empréstimos. >
O portal informa quais medidas estão incluídas nessa soma e seus respectivos valores. É possível também clicar em cada ação e abrir uma nova página com mais informações sobre cada uma delas.>
No entanto, muitas das ações são descritas como "em andamento", sem informação sobre o que de fato foi liberado e gasto. Questionado pela BBC News Brasil, o governo gaúcho disse que não tinha os dados atualizados no momento.>
Outro ponto nebuloso é quanto desses R$ 7,3 bilhões vem do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), abastecido pelos recursos estaduais liberados pela suspensão do pagamento da dívida com a União por três anos. A estimativa inicial era que o fundo receberia R$ 11 bilhões ao longo desse período, mas a nova previsão está em R$ 14 bilhões.>
O governo gaúcho disse à BBC News Brasil que parte dos R$ 7,3 bilhões está sendo pago com recursos do Funrigs, mas não soube informar quanto.>
A reportagem também questionou a gestão Leite sobre as críticas a demora em usar os R$ 6,5 bilhões que o governo federal já depositou para obras contra cheias na região metropolitana.>
O governo estadual respondeu que as obras são complexas e demandam estudos atualizados.>
"Os eventos recentes mostraram que o volume de água e a frequência das cheias mudaram. Isso exige uma revisão técnica completa para garantir que as soluções realmente protejam as áreas mais vulneráveis", disse o governo Leite.>
Isso envolve atualizar "informações sobre o terreno; a ocupação do solo para realocação de residências; e os modelos de comportamento da água em diferentes cenários de chuvas e ventos", modernizar equipamentos, como bombas submersíveis, e revisar "falhas ignoradas anteriormente".>
Outro foco de questionamentos contra o governo Leite foi a realização de um filme sobre a tragédia climática com o título "Todos Nós por Todos Nós", frase que foi slogan da campanha de reeleição do governador em 2022.>
Além da representação feita por Paulo Pimenta ao Ministério Público, o deputado estadual Matheus Gomes (PSOL-RS) moveu uma ação popular questionando os valores gastos e solicitando a suspensão da exibição do filme. Em decisão liminar, a Justiça determinou que o governo esclareça o orçamento da produção, mas negou a retirada do documentário do ar.>
Segundo o juiz substituto Thiago Notari Bertoncello, da 7ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central da Comarca de Porto Alegre, o documentário dá destaque ao governador, mas isso é inerente ao seu cargo e não configura promoção pessoal. A decisão foi confirmada em segunda instância.>
Questionado pela reportagem, a gestão Leite não informou o valor gasto.>
"Com imagens e entrevistas captadas pelo Departamento de Jornalismo da Secom [Secretaria de Comunicação], o documentário é um registro histórico da calamidade vivida pelo Rio Grande do Sul. Não foram empregados recursos da reconstrução no documentário. Toda a produção foi realizada pela equipe interna própria da secretaria", respondeu o governo em nota.>
"A Justiça, inclusive, já reconheceu a legitimidade do documentário ao negar pedido de liminar para suspensão da divulgação do filme. [...] Fica evidente, portanto, que os questionamentos têm intenção clara de ofuscar a liderança do Estado no processo da reconstrução", continuou o Palácio Piratini.>
Gráficos feitos por Caroline Souza, Equipe de Jornalismo Visual da BBC Brasil>
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