Publicado em 10 de junho de 2025 às 07:39
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o governador da Califórnia, Gavin Newsom, estão travando uma tensa queda de braço em relação aos protestos contra as políticas migratórias da Casa Branca que assolam Los Angeles desde o fim de semana.>
A tensão atingiu um novo patamar depois que a Guarda Nacional foi mobilizada no domingo (8/6) sem o consentimento do governo da Califórnia.>
A medida, ordenada por Trump em resposta aos protestos contra as batidas do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário (ICE, na sigla em inglês), foi descrita como "ilegal" e "provocativa" por Newsom, que entrou com uma ação judicial contra o governo federal.>
Trump justificou, por sua vez, a mobilização da Guarda Nacional dizendo que precisava restaurar a ordem, e defendeu que o governador da Califórnia deveria ser preso por "obstrução". Newsom respondeu desafiando o governo Trump a fazer isso.>
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O Exército americano também anunciou na segunda-feira (9/6) que enviou 700 fuzileiros navais para a região de Los Angeles para dar cobertura às forças federais durante os protestos.>
E, pouco depois, Newsom escreveu no X (antigo Twitter) que foi informado sobre a mobilização de mais 2 mil soldados da Guarda Nacional na cidade da Califórnia.>
"Os primeiros 2 mil? Sem comida nem água. Apenas cerca de 300 estão mobilizados; o restante está parado, sem uso, em prédios federais sem ordens", denunciou o governador na postagem.>
"Não se trata de segurança pública. Trata-se de inflar o ego de um presidente perigoso. Isso é imprudente. Inútil. E desrespeitoso com nossas tropas", acrescentou.>
A disputa entre Trump e o governador gira em torno do uso do Título 10 do Código dos EUA, uma disposição legal que permite ao presidente federalizar as tropas da Guarda Nacional sob certas condições.>
Nesta ocasião, Trump invocou a lei para assumir o controle direto das forças de segurança enviadas ao sul da Califórnia.>
Embora a mobilização tenha sido oficialmente limitada à proteção de agentes federais, a presença militar nas ruas de Los Angeles gerou preocupação e críticas de autoridades locais, juristas e ativistas.>
Cerca de 2 mil soldados da Guarda Nacional começaram a se deslocar para locais estratégicos em Los Angeles no domingo, após vários dias de protestos contra as batidas migratórias do ICE em bairros predominantemente latinos.>
O presidente mobilizou o contingente invocando o Título 10, para federalizá-los, e colocá-los sob seu comando direto sem a aprovação de Gavin Newsom.>
Em circunstâncias normais, os governadores mantêm o controle de suas respectivas unidades da Guarda Nacional, mesmo quando elas recebem financiamento federal.>
No entanto, o Título 10 permite que o presidente assuma o poder em casos excepcionais, como uma rebelião ou quando as leis federais não podem ser cumpridas.>
De acordo com o gabinete do governador, Trump não invocou a Lei de Insurreição — uma via legal mais clara para este tipo de mobilização —, o que levantou dúvidas sobre a legalidade da manobra.>
As tropas não estão diretamente envolvidas no controle dos protestos ou nas prisões, mas fornecem apoio aos agentes federais.>
No entanto, especialistas enfatizam que essa função de proteção traz riscos, pois os soldados podem estar envolvidos no uso da força.>
E foi a mobilização da Guarda Nacional em Los Angeles que levou a uma escalada de tensão entre Trump e Newsom, que se envolveram em um confronto político e pessoal repleto de trocas de farpas e ameaças.>
Trump sugeriu que Newsom deveria ser preso por se opor às medidas federais.>
"Eu faria isso se fosse o Tom. Acho que seria ótimo... Ele fez um trabalho terrível", declarou o presidente no domingo, do lado de fora da Casa Branca, fazendo alusão ao seu "czar de fronteira", Tom Homan.>
Homan havia advertido anteriormente na rede Fox News que "nenhuma autoridade está acima da lei", e que aqueles que interferem na aplicação da lei de imigração podem enfrentar acusações de obstrução da Justiça.>
Newsom respondeu com uma publicação desafiadora na plataforma de rede social X: "Prendam-me. Vamos acabar logo com isso, valentão".>
"O presidente dos EUA acaba de pedir a prisão de um governador em exercício. Este é um dia que eu esperava não ver nos EUA... É uma fronteira que não podemos cruzar como nação", acrescentou.>
Após a troca de farpas, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, acusou Newsom de agir de forma negligente diante dos distúrbios em Los Angeles, alegando que "autoridades federais foram atacadas por radicais violentos e criminosos ilegais".>
Trump intensificou, por sua vez, sua retórica ao chamar os manifestantes de "insurrecionistas" e "agitadores profissionais", dizendo que eles "deveriam estar na prisão".>
Em declarações divulgadas pela imprensa americana, o presidente insistiu que sua decisão de enviar as tropas foi "excelente", e chamou Newsom e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, de "ingratos" por criticarem uma medida que, na sua opinião, impediu que a cidade fosse "completamente destruída".>
Karen Bass também interveio publicamente no conflito: em entrevista à rede CNN, ela pediu ao governo federal para "baixar o tom", e disse que as batidas migratórias que desencadearam os protestos são "uma receita para o caos completamente desnecessária".>
O governo do Estado da Califórnia entrou com uma ação judicial contra o governo Trump, alegando que a mobilização de tropas excede a autoridade do governo federal e viola a Décima Emenda, que estabelece o limite entre os poderes executivos central e estaduais.>
Newson também alertou que o decreto presidencial poderia abrir um precedente para futuras intervenções em outros Estados.>
"Era exatamente isso que Trump queria (…) Agora ele pode fazer a mesma coisa em qualquer lugar do país", afirmou o governador na rede social X.>
Ele acrescentou que "todo governador, seja republicano ou democrata, deveria rejeitar esse excesso ultrajante".>
A queda de braço entre Trump e Newsom reflete não apenas uma disputa sobre poderes, mas também uma luta entre duas visões políticas opostas, com um contexto subjacente mais amplo que vem se formando há anos.>
A Califórnia se declarou um "Estado santuário" em 2018, limitando a cooperação de suas autoridades com as agências federais de imigração — e, em 2024, o Conselho Municipal de Los Angeles aprovou uma medida ainda mais rigorosa, proibindo destinar recursos locais para operações migratórias.>
Trump criticou duramente essas políticas, por acreditar que elas fomentam um ambiente de "anarquia" no Estado democrata.>
No caso de Newsom, uma figura importante dentro do Partido Democrata, alguns analistas sugerem que a crise atual oferece uma oportunidade para ele fortalecer seu nome a nível nacional ao enfrentar o presidente dos EUA.>
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