Publicado em 19 de junho de 2025 às 10:39
Tudo começou com uma foto singela, tirada em Canavieiras, no sul da Bahia: o registro de uma fachada, onde se lê "Mc. Vita Bar e Lanches", ao redor de uma pintura mostrando um hambúrguer, acompanhado de fritas e refresco.>
O ano era 2018 e, de volta das férias, a paulistana Clara Izabela finalmente dava início a um projeto há muito adiado: reunir em um só lugar as dezenas de fotos tiradas por ela ao longo dos anos de pinturas feitas à mão nas paredes de bares, mercadinhos e carrocerias de caminhão pelas ruas do Brasil afora.>
Estava criado o projeto Handpainted Brazil, que, em seus quase sete anos de existência, reúne no Instagram milhares de fotografias tiradas por Clara, amigos dela e completos desconhecidos que, diariamente, mandam ao perfil dezenas de registros vindos de diversos locais do país.>
"Acho que o sucesso do projeto vem do fato de todo mundo se reconhecer nesses lugares", diz Clara, observando que quase todo bairro popular brasileiro tem ruas com estabelecimentos comerciais ornamentados por pinturas à mão.>
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"Volta e meia alguém comenta: 'Caramba, isso é do lado da minha casa'. Acho isso muito bacana.">
Um zine da Costa Rica chamado Idêntica, que reúne pinturas de rua do país da América Central, serviu de inspiração ao projeto. >
Clara conta que o nome em inglês veio um pouco do mesmo improviso que marca algumas dessas obras de arte popular.>
"Eu nem achava o nome tão bom, mas na hora falei: 'Ponho esse, depois eu troco', porque, se não, eu não ia fazer. Sempre fico pensando muito para fazer as coisas e acabo não fazendo, esperando a hora certa", diz ela.>
"Então fiz, os amigos começaram a mandar fotos, e a coisa foi indo. Hoje, são mais de 120 mil seguidores e mais de 10 fotos recebidas por dia.">
Clara, que trabalha como diretora de cena para cinema, conta que seu fascínio pelas pinturas à mão vem da riqueza desse universo estético, em que as imagens são consideradas toscas por alguns ou pouco sofisticadas do ponto de vista artístico.>
"Acho mais interessantes justamente essas composições que são muito malucas — eu digo malucas no sentido de sair um pouco do modelo formal da pintura clássica, acho que isso diz muito sobre uma subjetividade da pessoa que pintou e às vezes do contexto de onde ela está", diz Clara.>
Ela conta que, quando começou a página, se focava mais nos desenhos em si. Mas, com o passar do tempo, percebeu que são mais interessantes as fotos em que é possível ver um pouco do entorno.>
"O entorno permite saber um pouco mais sobre aquele lugar, você entende onde aquela pintura está, o contexto de objetos que tem em volta, tudo isso diz muito.">
Um tema comum nas fotografias são as releituras de personagens tradicionais de quadrinhos, desenhos animados e videogames.>
"A Mônica é um exemplo clássico, porque todo mundo sabe muito bem como é a Mônica do Mauricio de Souza. Mas se tivessem só Mônicas iguais às do Mauricio pintadas, não teria muita graça", diz Clara.>
"O mais legal é como as pessoas compõem e como esses desenhos são feitos. Todo mundo conhece o Hulk, mas e o Hulk segurando um coco?">
Os bares são uma vasta tela para as pinturas feitas à mão. >
Das fachadas, às paredes internas e portas de banheiro, em todo lugar há espaço para a criatividade do brasileiro.>
Mercadinhos, lojas e lanchonetes também dão suas contribuições para deixar as ruas das cidades mais coloridas (e, às vezes, um pouco surreais).>
Clara conta que uma das partes mais interessantes desses sete anos à frente do projeto é conhecer um pouco mais do Brasil através das fotos vindas de locais distantes de São Paulo, onde ela vive.>
"Chega foto de reserva indígena, de centro de trabalhadores rurais no interior do Amazonas", exemplifica.>
As fotos chegam por mensagem direta no Instagram, email e por mensagem direta nos perfis do projeto no X (antigo Twitter), Bluesky e TikTok.>
As pinturas fotografadas nesses locais diversos trazem elementos da cultura local, como botos em Belém, búfalos na Ilha do Marajó, peixes e sereias em localidades litorâneas, elementos do candomblé na Bahia, e assim por diante.>
"Eu brinco que temos vários correspondentes, como a Otacília, de Boa Vista, em Roraima. Ela é uma das primeiras pessoas que começou a seguir a página e ela manda pacotes de fotos e tira fotos super bem, são imagens incríveis.">
Clara conta que hoje consegue identificar não só os temas mais recorrentes de cada lugar, mas também técnicas de pintura.>
"Você acaba conhecendo um monte de artistas, tipo o Bosco Froid, que pinta uns painéis enormes sem projetar para copiar, ou a Roxinha, que é uma artista incrível do Alagoas", cita a entusiasta das pinturas feitas à mão.>
"Há muita coisa interessante nessas manifestações de pintura, que estão em vários lugares, principalmente comerciais, mas não só", diz ela.>
"E eu acho muito bacana que sempre tem gente comentando: 'Nossa, eu sempre passei aí em frente e nunca reparei nessa pintura. É do lado da minha casa e eu nunca reparei.' E aí, por conta de uma foto, você passa a reparar.">
Clara conta que uma das partes mais interessantes desses sete anos à frente do projeto é conhecer um pouco mais do Brasil por meio das fotos vindas de locais distantes de São Paulo, onde ela vive.>
"Chega foto de reserva indígena, de centro de trabalhadores rurais no interior do Amazonas", exemplifica.>
As fotos chegam por mensagem direta no Instagram, email e pelos perfis do projeto no X (antigo Twitter), Bluesky e TikTok.>
As pinturas fotografadas nesses locais diversos trazem elementos da cultura local, como botos em Belém, búfalos na Ilha do Marajó, peixes e sereias em localidades litorâneas, elementos do candomblé na Bahia, e assim por diante.>
"Eu brinco que temos vários correspondentes, como a Otacília, de Boa Vista, em Roraima. Ela é uma das primeiras pessoas que começou a seguir a página e ela manda pacotes de fotos e tira fotos super bem, então são imagens incríveis.">
Clara conta que hoje consegue identificar não só os temas mais recorrentes de cada lugar, mas também técnicas de pintura.>
"Você acaba conhecendo um monte de artistas, tipo o Bosco Froid, que pinta uns painéis enormes sem projetar para copiar, ou a Roxinha, que é uma artista incrível do Alagoas", cita a entusiasta das pinturas feitas à mão.>
"Há muita coisa interessante nessas manifestações de pintura, que estão em vários lugares, principalmente comerciais, mas não só", diz ela.>
"E eu acho muito bacana que sempre tem gente comentando: 'Nossa, eu sempre passei aí em frente e nunca reparei nessa pintura. É do lado da minha casa e eu nunca reparei.' E aí, por conta de uma foto, você passa a reparar.">
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