Publicado em 7 de maio de 2025 às 06:39
O ataque com mísseis da Índia ao Paquistão nas primeiras horas de 7 de maio é o episódio mais recente de um longo conflito com raízes que remontam a mais de sete décadas.>
Quando a Índia declarou independência, o território foi dividido em duas partes: uma com maioria muçulmana (o Paquistão) e outra com maioria hindu (a Índia).>
Foi um processo que desencadeou uma onda de violência que deixou aproximadamente um milhão de mortos e 15 milhões de refugiados. As consequências desse episódio se estendem até hoje.>
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Um novo capítulo desse conflito aconteceu na quarta-feira (7/5), quando a Índia lançou ataques contra vários alvos no Paquistão.>
A Caxemira, onde ocorreram alguns dos bombardeios, é o centro da discordância entre os dois países.>
A seguir, explicamos em três pontos as origens do conflito, que é de particular preocupação para o mundo porque envolve duas nações com armas nucleares.>
Em 1946, a Grã-Bretanha anunciou que concederia a independência à Índia. >
O país não conseguia mais arcar com o domínio sobre o país e queria sair o mais rapidamente possível da região.>
O último vice-rei, Lord Louis Mountbatten, marcou a data para 15 de agosto de 1947.>
Naquela época, a população da Índia era aproximadamente 25% muçulmana. O restante era sobretudo hindu. Mas havia também sikhs, budistas, cristãos e membros de outras religiões minoritárias.>
"Os britânicos usaram a religião como uma forma de dividir as pessoas na Índia em categorias", diz a professora Navtej Purewal, membro indiana do Conselho de Pesquisa em Artes e Humanidades (AHRC, na sigla em inglês) do governo britânico.>
"Por exemplo, eles criaram listas separadas de eleitores muçulmanos e hindus para eleições locais. Havia cadeiras reservadas para políticos muçulmanos e cadeiras reservadas para hindus. A religião se tornou um fator na política.">
"Quando parecia provável que a Índia obteria a independência", diz Gareth Price, do instituto de política externa Chatham House, com sede no Reino Unido, "muitos indianos muçulmanos ficaram preocupados em viver em um país governado por uma maioria hindu".>
"Eles pensaram que seriam oprimidos", afirma ele.>
"E começaram a apoiar líderes políticos que faziam campanha por uma pátria muçulmana separada.">
Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru, líderes do movimento de independência, disseram que queriam uma Índia unida que abraçasse todas as religiões.>
No entanto, Muhammad Ali Jinnah, líder da Liga Muçulmana, exigiu a divisão como parte do acordo de independência.>
"Teria levado muito tempo para chegar a um acordo sobre como uma Índia unida funcionaria", diz Price.>
"A divisão parecia ser uma solução rápida e simples.">
As novas fronteiras entre a Índia e o Paquistão foram traçadas em 1947 por um funcionário público britânico, Cyril Radcliffe.>
Ele dividiu o subcontinente indiano a grosso modo em uma parte central e sul, onde os hindus eram maioria, e duas partes no noroeste e nordeste, em que os muçulmanos eram maioria.>
No entanto, havia comunidades hindus e muçulmanas espalhadas por toda a Índia britânica. Isso fez com que, após a divisão, aproximadamente 15 milhões de pessoas se deslocassem — muitas vezes centenas de quilômetros — para cruzar as fronteiras recém-criadas.>
Em muitos casos, as pessoas foram expulsas de suas casas pela violência comunitária. O primeiro exemplo disso foram os chamados Assassinatos de Calcutá de 1946, no qual cerca de 2 mil pessoas foram mortas.>
"A Liga Muçulmana formou milícias, assim como grupos hindus de direita", conta Eleanor Newbigin, professora de história do Sul da Ásia na Universidade SOAS, em Londres.>
"Grupos terroristas expulsaram as pessoas de suas vilas para obter mais controle do seu próprio lado.">
Estima-se que entre 200 mil e um milhão de pessoas foram assassinadas ou morreram em decorrência de doenças em campos de refugiados.>
Dezenas de milhares de mulheres, tanto hindus quanto muçulmanas, foram estupradas, sequestradas ou desfiguradas.>
Desde a divisão, a Índia e o Paquistão disputam quem tem o controle sobre a província da Caxemira.>
Eles travaram duas guerras por causa disso (em 1947-1948 e em 1965), e também entraram em confronto na crise de Kargil, em 1999, na Caxemira.>
Ambos os países reivindicam a província como sua — e atualmente administram diferentes partes dela.>
Os dois países também se enfrentaram em 1971, quando a Índia interveio para apoiar o Paquistão Oriental (agora Bangladesh) em sua guerra de independência contra o Paquistão.>
Menos de 2% da população do Paquistão é hoje hindu.>
"O Paquistão se tornou cada vez mais islâmico, em parte porque grande parte de sua população é agora muçulmana, e há muito poucos hindus lá", diz Price.>
"E a Índia está agora mais sob a influência do nacionalismo hindu.">
"O legado da divisão é perturbador", avalia Newbigin.>
"Criou maiorias religiosas poderosas em ambos os países. As minorias se tornaram menores e mais vulneráveis do que eram antes.">
A divisão poderia ter sido evitada, segundo a professora Navtej Purewal.>
"Poderia ter sido possível em 1947 criar uma Índia unida. Poderia ter sido uma federação de estados, incluindo estados em que os muçulmanos eram a maioria", diz ela.>
"Mas Gandhi e Nehru insistiram em ter um Estado unificado, controlado a partir do centro. Eles, na verdade, não consideraram como uma minoria muçulmana poderia viver nesse tipo de país.">
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