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Na perspectiva da mulher surfista: as oportunidades por trás do esporte

Na perspectiva da mulher surfista: as oportunidades por trás do esporte

No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Surf (Ibrasurf), o esporte movimenta R$ 7 bilhões ao ano em roupas, pranchas e acessórios. E como ficam as mulheres neste cenário?

Publicado em 8 de março de 2024 às 10:00

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Renata Canizares, de 30 anos, decidiu empreender no surfe ao perceber o crescimento da modalidade. (Reprodução/Instagram)
Isabela Pinheiro de Sá
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No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Surf (Ibrasurf), o esporte movimenta R$ 7 bilhões ao ano em roupas, equipamentos e acessórios. Aliás, depois da medalha de ouro de Ítalo Ferreira na estreia do surfe nos Jogos Olímpicos em Tóquio, em 2021, as vendas de pranchas de surfe, por exemplo, aumentaram 41%, enquanto as buscas pelo mesmo item cresceram 26%, segundo levantamento realizado pela OLX na ocasião.

Pensando em "surfar" neste cenário de crescimento, empresas começaram a surgir em torno da modalidade e que só foram possíveis de serem montadas justamente devido às novas exigências do mercado. É o caso das marcas Two You Sports e Two You, criadas por Renata Canizares, de 30 anos, em 2020 e 2021, respectivamente, quando ela decidiu empreender na área.

O surfe sempre chamou a atenção de Renata, mas foi aos 22 anos que ela teve a oportunidade de começar a praticar e se apaixonou pelo esporte. Inicialmente, seus pais relutaram um pouco sobre essa ideia, ficavam apreensivos com o mar, carregavam alguns tabus antigos sobre surfistas e achavam que esse amor a levaria a lugar nenhum. Porém, com o passar do tempo, viram a relação da filha com o esporte, os bons frutos dessa paixão, e hoje a apoiam em seus projetos.

A necessidade de Renata em abrir uma empresa surgiu quando se viu freelancer, trabalhando como social media para empresas do ramo do surfe e agenciando alguns atletas. “Decidi unir tudo em uma coisa só e iniciar a jornada de empreender”, afirma, completando: “A Two You Sports é um hub que conecta atletas, marcas e fãs de surfe através da arte, da criatividade e da transformação que o esporte proporciona.”

Ainda de acordo com ela, o foco é agenciar a carreira de alguns atletas de surfe e oferecer serviços de marketing e produção de conteúdo para marcas e empresas do segmento.

A empresária compartilha que a parte boa de trabalhar diretamente com o surfe é que ela faz o que ama. Porém, afirma que sua maior dificuldade é lidar com preconceitos e barreiras que existem em um mercado machista. Renata afirma que sente que tem que provar constantemente que é capaz e ressalta já ter perdido muitas negociações para outros homens.

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Por muitas vezes pensei em desistir. Mas sigo na luta e tentando inspirar mais mulheres a chegarem assim como eu, para quebrar esses padrões

Renata Canizares
Empresária
Aspas de citação

O plano futuro para suas duas empresas é de crescimento em outros esportes, se tornar referência e ser o maior hub de marketing esportivo com foco em sports lifestyle. Tudo com a intenção de entregar conteúdos e ideias fora da caixa para que as marcas de clientes possam crescer e criar vantagem competitiva no mercado.

E como conciliar o surfe com a maternidade?

No universo do surfe, uma inspiração para as mulheres é a surfista Bethany Hamilton. Ela é casada com Adam Dirks e hoje, juntos, formam uma família com quatro filhos. 

Bethany se tornou uma referência porque em 2003, quando tinha 13 anos, em uma sessão de surfe no Havaí, ela foi atacada por um tubarão que arrancou seu braço esquerdo em uma mordida. Devido a quantidade de sangue perdida, a surfista quase não resistiu. No entanto, começava ali uma nova etapa na vida dela.

Após o acidente, a família proporcionou o suporte necessário para que a jovem pudesse se adaptar à nova maneira de viver. Em sua primeira tentativa de voltar ao esporte, aproximadamente um ano após o acidente, já conseguiu ficar em pé na prancha e aproveitar o momento. 

Aos 13 anos, Bethany Hamilton foi atacada por um tubarão enquanto surfava no Havaí
Aos 13 anos, Bethany Hamilton foi atacada por um tubarão enquanto surfava no Havaí. (Reprodução)

O tempo passou e ela continuou com a vontade de surfar cada vez mais. Tanto que ela chocou o mundo ao voltar a competir e a iniciar sua caminhada no tow-in (surfe de ondas gigantes).

Quando teve seu primeiro menino, Tobias, com o apoio de Adam, Bethany competiu uma das etapas do tour anual da World Surf League (WSL) e, entre um descanso e outro, amamentava seu pequeno. Esse momento ficou muito marcado na mídia do surfe, inspirando muitas mulheres.

Bethany Hamilton surfando ondas gigantes no Havaí
Bethany Hamilton surfando ondas gigantes no Havaí. (Reprodução)

Afinal, um dos maiores desafios das mulheres atletas é a maternidade. Por muitas vezes, por diversos motivos, as mães não conseguem conciliar a maternidade com o esporte, ficando por muito tempo sem voltar para a água.

A conexão com o mar é tão grande que Angélica Von Doellinger surfava no início da gravidez
A conexão com o mar é tão grande que Angélica Von Doellinger surfava no início da gravidez. (Arquivo Pessoal)

Moradora de Manguinhos, Angélica Von Doellinger, de 43 anos, sentiu isso na pele. No início da gestação do filho ela encontrou uma estratégia para manter a conexão com o mar.

"Quando estava grávida do Lucas, que hoje tem 8 anos, eu surfava de Stand Up Paddle. Foi assim que tive contato com o mar durante os três primeiros meses de gravidez", conta a surfista. No vídeo abaixo, Angélica surfa no início da gestação:

No entanto, quando Lucas nasceu, Angélica ficou aproximadamente quatro anos sem ter uma real sessão de surfe. Ou quando surgia a oportunidade, era em um momento que o mar já não estava tão favorável para a prática.

"São muitas questões com a maternidade. Manter a resistência física, a readaptação do corpo no pós-parto, o período fora das competições, etc. Gerar uma vida é mais um dos milhares dos desafios que nós mulheres enfrentamos", finaliza Angélica.

Angélica Von Doellinger ensinando seu filho Lucas a surfar
Angélica Von Doellinger ensinando seu filho Lucas a surfar. (Arquivo Pessoal)

Nas telinhas

Você pode conhecer mais sobre a história de Bethany assistindo ao filme baseado em sua trajetória de vida: Soul surfer - Coragem de viver (2011); e seu documentário Sem Limites (2018). Ambos disponíveis em plataformas de streaming. Ela também compartilha seus ideais, a rotina familiar e de treinos na sua conta do Instagram, @bethanyhamilton.


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