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Publicado em 23 de maio de 2025 às 18:56
Com a morte de Sebastião Salgado, aos 81 anos, nesta sexta-feira (23), o Brasil não se despede apenas de um dos fotógrafos mais respeitados do mundo, mas também de um ambientalista incansável. Mais do que retratar a humanidade com profundidade e beleza, Salgado dedicou parte significativa de sua vida à recuperação da Mata Atlântica por meio do Instituto Terra, fundado ao lado da esposa, Lélia Wanick Salgado, em 1998. >
Tudo começou com a decisão do casal de reflorestar a Fazenda Bulcão, em Aimorés (MG), propriedade da família de Sebastião há gerações. A área, antes degradada pela pecuária, foi transformada num exemplo de restauração ecológica de impacto global: cerca de 2,7 milhões de árvores foram plantadas, o que possibilitou a recuperação de aproximadamente 600 hectares de floresta. O local voltou a abrigar centenas de espécies da fauna e flora nativas, muitas ameaçadas de extinção.>
A experiência deu origem ao Instituto Terra, uma ONG voltada à restauração ambiental e ao desenvolvimento sustentável da Bacia do Rio Doce. A Fazenda Bulcão tornou-se uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) e um símbolo de resiliência ecológica. Ao Jornal Nacional, Salgado afirmou em 2021:>
José Armando Figueiredo Campos, que era grande amigo de Salgado, ex-presidente da ArcelorMittal e ex-conselheiro da Rede Gazeta, foi um dos principais apoiadores do Instituto Terra ao longo dos anos. A relação com o fotógrafo, segundo ele, começou de forma inesperada em 2003, durante uma visita técnica a Aimorés. >
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“Fomos por estradas com bastante barro, morro acima, em oito pessoas no meu carro que era o único com tração nas quatro rodas. Não imaginava que nasceria ali uma relação duradoura e sólida”, contou.>
Para Campos, o projeto do Instituto Terra tem um valor incomparável. “As condições em que foi implantado, com solo compactado pela pecuária e clima difícil, servem para provar que a restauração florestal no Brasil é possível e viável”.>
Mais do que os feitos ambientais, o que mais impressionava em Salgado, segundo o amigo, era sua simplicidade. “Mesmo morando em Paris, proferindo palestras pelo mundo e brindando com champagne, ele nunca deixou de ser aquele mineiro do interior. Conhecia cada pessoa que o ajudou a plantar o Instituto. Nunca se esqueceu de sua terra ou dos amigos de infância”.>
Um dos momentos mais marcantes que José Armando viveu ao lado de Sebastião aconteceu no lançamento do projeto Amazônia, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro: “Foi aplaudido de pé por mais de cinco minutos. Um reconhecimento emocionante a um homem que transcendeu a arte para tocar a alma do planeta”.>
Sobre o legado que Salgado deixa, José Armando é direto em dizer que vai muito além da fotografia: “Deixa um legado de imenso amor ao planeta visto como uma casa comum a todos os seres vivos, e que como tal, deve ser protegido". >
Hoje, o Instituto Terra segue ativo e se fortalece como um farol para a restauração ambiental no Brasil e no mundo. A mata que renasceu em Aimorés carrega não apenas raízes e folhas, mas a memória de um homem que acreditou, até o fim, na possibilidade de um futuro mais verde, justo e humano.>
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