Publicado em 3 de maio de 2024 às 08:58
Ao anunciar seu terceiro álbum, Dua Lipa declarou que buscava algo além da disco music, com novas influências como o pop psicodélico e o "brit pop" da década de 1990. Preocupou fãs que adoraram "Future Nostalgia", seu álbum anterior, de 2020, pedra fundamental para o resgate da disco.>
Essa preocupação pode ser descartada agora, com o lançamento de "Radical Optimism", um álbum feito para as pistas de dança da primeira até a última de suas 11 faixas. Alguma inovação ainda desponta aqui ou ali, mas nada que possa sugerir que Dua Lipa deva abdicar do trono da música dançante.>
Seria equivocado, no entanto, dizer que o álbum é mais do mesmo. Se fazer todo mundo requebrar os quadris ainda é a grande proposta, há uma mudança estrutural importante. A cantora tinha adiantado que estava cada vez mais encantada com a experiência de cantar acompanhada por instrumentos de verdade.>
Essa negação aos recursos tecnológicos vai totalmente na contramão deste momento em que até a voz humana é emulada por inteligência artificial. Seu produtor, Kevin Parker, tratou de tocar para valer guitarra, baixo, teclados e bateria. O resultado é uma espécie de disco music orgânica, que lembra a produção do gênero nos anos 1970.>
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O álbum abre com uma trinca de rachar assoalho --"End of an Era" e as já antecipadas em single "Houdini" e "Training Season". São cartilhas de disco potencializadas pela voz grave da cantora. "Houdini", que recorre menos às batidas em looping, é sem dúvida a canção mais bem-acabada de todo o álbum, um dos grandes hits da temporada.>
Mas, ao entrar na quarta faixa, "These Walls", o ouvinte parece arremessado a um outro álbum. Com acordes de violão e harmonia muito envolvente, é uma canção pop totalmente distante da massificação sonora que domina quase toda a parada atual. Além de ser pegajosa, tem uma extensão vocal que exige bastante, e Dua Lipa vai muito bem.>
A coisa segue fora da caixa em "Whatcha Doing", uma espécie de "proto-funk" --dançante e hipnótico, mas distante de uma pancada mais forte.>
Essas duas faixas, junto com "Maria", outra canção com violão e bateria nitidamente acústica, são as mais diferentes do disco. Nas demais músicas, inseridas no som exclusivamente dançante, também é possível ver a sutileza dos instrumentos de corda e de percussão, mas nessas três fica clara demais essa viagem de Dua Lipa no túnel do tempo.>
Na turnê da cantora, duas músicas de "Radical Optimism" têm tudo para se transformarem em pandemônio na plateia --"Falling Forever" e "Happy for You". Trazem batidas pesadas e refrão para cantar junto, quase hinos de futebol, mas para a pista de dança.>
Uma caraterística do álbum o difere da tendência dos discos recentes dos maiorais do pop. Taylor Swift, Shakira, Justin Timberlake e Kanye West se dedicaram a álbuns raivosos sobre brigas com ex e tretas com a mídia e o público.>
Dua Lipa opta por seu otimismo radical, e o álbum consegue segurar sozinho uma festa animada, com as suas letras solares e divertidas.>
Ao relembrarmos o que Dua Lipa tinha antecipado sobre o álbum, faltou só encontrar qualquer referência ao "brit pop". Talvez ela tenha pensado em algo do tipo porque conta em várias faixas com o multi-instrumentista Andrew Wyatt, que já produziu três álbuns da alteza "brit pop" Liam Gallagher. Mas rock mesmo ainda ficou para o próximo álbum.>
Ela consegue espaço até para uma música que parece muito mais uma vinheta engraçada, "Anything for Love", com cerca de dois minutos. Ela abre e fecha com as vozes de Dua Lipa e seus parceiros no estúdio, rindo e contando piada. É muito mais uma brincadeira do que uma canção.>
Mas, ao que parece, Dua Lipa pode tudo. Aos 28 anos, lança um disco muito bom, está no topo do pop, é cobiçada pelo cinema depois das pontas em "Barbie" e "Argylle: O Superespião" e aparece na capa da revista Time como uma das pessoas mais influentes do mundo.>
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