Adriana Birolli traz ao ES monólogo em que debate a dificuldade de dizer não

"Não" terá sessão única na Casa da Música Sônia Cabral, no Centro, nesta sexta (23). "A partir do momento que você diz 'não' para o outro, você está dizendo 'sim' para você", diz a artista

Adriana Birolli estreia monólogo em Vitória nesta sexta (23)

Adriana Birolli estreia monólogo em Vitória nesta sexta (23). Crédito: Nando Machado

Por que é tão difícil dizer não? Qual a dificuldade em impor limites no outro e escolher se priorizar? Essas são algumas das reflexões propostas pela personagem de Adriana Birolli no espetáculo "Não!", que chega ao Espírito Santo, neste final de semana. Em tom de comédia, o primeiro monólogo da atriz apresenta uma mulher prestes a fazer aniversário e que não deseja ir ao jantar que a família preparou.

"Ela começa a trazer vários questionamentos do 'não', do porquê ela não consegue dizer 'não' e as situações diferentes em que a gente não consegue dizer o 'não'. Obviamente, a gente vai se divertindo e, ao mesmo tempo, se identificando. Todo mundo, em algum aspecto, tem essa dificuldade e ela vai abrindo os leques de possibilidades em cena", disse a curitibana ao HZ.

Após apresentações em Pernambuco e no Rio de Janeiro, a produção chega em Vitória para uma sessão única na Casa da Música Sônia Cabral, no Centro de Vitória, às 20h de sexta-feira (23). Os ingressos podem ser adquiridos através da plataforma Sympla e da bilheteria do teatro, durante a semana, de 13h às 18h.

"Todo mundo tem dificuldade de dizer não em algum aspecto da vida. Tem gente que sabe dizer não no trabalho, mas não sabe dizer não tem casa. Tem gente que sabe dizer não para os filhos, mas não sabe dizer não para os amigos. O espetáculo traz um apanhado de dificuldades de dizer não", completou.

É uma história divertida mas não quer dizer que você vai sair de lá neurótico. Você vai sair de lá pensando onde é que você não sabe dizer não, quando você devia ter dito não, como dizer um não de uma maneira mais 'aceitável', digamos assim. A gente ri mas se identifica. Não é só o riso pelo riso

RELAÇÃO COM O ES

Em conversa com HZ, Adriana Birolli celebrou a apresentação do espetáculo no Espírito Santo, mesmo em sessão única. A última vez que a atriz esteve no Estado foi em agosto de 2010, com a peça "Manual Prático da Mulher Desesperada".

"Eu estou super ansiosa porque faz anos que eu não vou para Vitória com um espetáculo. Devem fazer uns 10 anos já que eu não piso no Espírito Santo com um espetáculo de teatro. É um espetáculo muito novinho ainda, mas a troca com o público é maravilhosa. Cada local tem um público específico", disse.

As lembranças no Espírito Santo, porém, não se restringem às experiências em cima do palco. Em 1999, quando tinha 13 anos, a atriz veio a Vitória pela primeira vez para passar o carnaval em família e se apaixonou pelas praias capixabas.

"Comi moqueca todos os dias (risos). Foi muito gostoso o carnaval de rua. As praias são lindas, deliciosas. Eu lembro de ficar muito tempo no mar. Na época, eu morava em Curitiba, então, não tinha esse acesso à praia como eu tenho hoje em dia. Um dia que a praia estava perigosa e minha mãe me "caçou" na água (risos). Ela sempre conta essa história", detalhou.

Dessa vez, Adriana Birolli não consegue visitar os pontos turísticos nem explorar mais do Estado, por conta de uma apresentação em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, no sábado (24). Ainda assim, a artista se diz ansiosa para rever o público capixaba. "Estou louca para chegar no Espírito Santo e ver como vai ser", finalizou.

DIFICULDADE DE IMPOR LIMITES

Justamente por ser um tabu para muitas pessoas, o tema chamou a atenção de Adriana Birolli. Na sua vida pessoal, o difícil mesmo é dizer 'não' para amigos, colegas e família. "Tinha uma época em que eu estava disponível para todo mundo, o tempo todo. Hoje em dia, eu já aprendi um pouco a dizer 'não'. Sabe aquelas roubadas, que você sabe que é roubada mas o amigo pediu para ir e você vai? Já fiz tanto isso que eu olho pra traz e vejo que era só dizer não (risos)", compartilhou.

Segundo ela, não era o medo de desapontar nem de magoar, mas a preocupação em não ser vista mais como uma boa amiga que a assustava. "Eu sempre fui uma amigona que estava ali em qualquer momento. Eu já tinha esse lugar para as pessoas, então, é complicado se colocar em outro lugar", disse.

A matéria prima é o texto e o ator. Adquiro coisas novas, aprendo coisas novas, desenvolvo coisas novas para o personagem mas, inevitavelmente, eu empresto coisas minhas para ele também. Durante todo o processo de ensaio, a gente conversava muito sobre exemplos meus nas situações. Em algumas, eu me via como a personagem. Em outras, eu não tinha tanta proximidade. Mas é inevitável que a gente leve um pouco da gente para o palco

Mesmo com as reflexões sobre o "não" que a peça levanta, a atriz destaca que só dar negativas não é a solução para esse problema. Segundo Adriana, a vida exige saber os momentos corretos de dizer "sim" e "não".

"A vida exige extremo equilíbrio. É uma linha muito tênue e exige muito bom senso de entendermos. Tem uma fala que diz: 'é muito importante a gente dizer não, aprender a dizer não, impor os nosso limites,  respeitar as nossas vontades... Mas isso não pode ser desculpa para sermos mal educados, egoístas e egocêntricos'", finalizou.

Não é só aprender a dizer não e sair soltando não por aí. Isso não é necessariamente vantajoso ou evolutivo para as pessoas. É uma questão realmente de equilíbrio, de se entender. A gente vive em uma sociedade. Não dá para viver isolado do mundo. É um equilíbrio. Não é simplesmente "eu aprendi a dizer não e agora eu digo não para tudo". É entender esse equilíbrio na vida de cada um, da experiência de cada um

Adriana Birolli debate a dificuldade de dizer não em novo monólogo

Adriana Birolli debate a dificuldade de dizer não em novo monólogo . Crédito: Nando Machado

PRIMEIRO MONÓLOGO

Mesmo estando em cena sozinha pela primeira vez, Adriana Birolli não se sente novata no assunto monólogo. Durante a conversa com HZ, a atriz compartilhou já ter adquirido "casca grossa" no espetáculo "Um Manual Prático da Mulher Desesperada", com o qual esteve em cartaz por 10 anos.

"Eram dois em cena mas o espetáculo girava em torno da minha personagem. Eu era a responsável em cena pelo espetáculo. Ganhei muita canja em 10 anos com o espetáculo e, por isso, tenho uma segurança e tranquilidade para o monólogo. A comunicação com o público é tão intensa que eu sinto eles comigo o tempo todo. Realmente, não me sinto sozinha", contou.

Sobre a estreia, a artista diz ter achado o momento e o tema certos para se apresentar da maneira como sempre quis. Ainda durante a conversa, Adriana detalhou como se inspirou em outra peça para pensar no espetáculo que rodaria o Brasil.

"Eu estava há quatro anos procurando um espetáculo para entrar em cartaz, para desenvolver um novo projeto. Mas, vou ser honesta, quando chegava o texto, eu pensava que não era aquilo que eu queria dizer. E o Diogo Camargos tem um espetáculo chamado 'A Última Hora' que, depois que assisti, eu falei que é isso o que eu quero: um texto que seja uma comédia divertida, que as pessoas saiam do dia-a-dia e esqueçam os problemas, mas que não seja uma maluca falando. Quero uma peça que leve as pessoas a pensarem em algo relevante. A gente precisa voltar, resgatar o teatro e o costume das pessoas assistirem peças", detalhou.

Eu acho fundamental na arte dar um recado. Quando eu faço um filme, uma novela, eu não tenho opção de escolher a minha fala. No teatro, eu posso escolher o que eu quero falar. É onde eu realmente consigo dizer o que eu quero

PAPEL DA ARTE

Com texto e direção de Diogo Camargos, a peça é o primeiro monólogo da atriz que começou sua carreira no teatro juvenil, aos 8 anos. Intérprete de personagens marcantes como "Isabel" em Viver a Vida (2009), "Patrícia" de Fina Estampa (2011) e "Maria Marta" da primeira fase de Império (2014), Birolli celebra o retorno aos palcos, pós restrições da pandemia da covid-19 durante 2020, 2021 e 2022.

"É um prazer tão grande [estar de volta aos palcos]. A cultura ficou de castigo nesses últimos anos. Poder voltar ao palco, ter essa comunicação com o público, ver a arte crescendo no Brasil, é esse o objetivo. O que eu quero é levar o teatro a outros lugares. As pessoas se desacostumaram, a gente aprendeu um novo estilo de vida em que não somos obrigados a ficar na rua o tempo todo. Vejo esse ano como um novo momento de renascimento", destacou.

A arte me ajudou em todos os sentidos. A ampliar meu pensamento, a conseguir enxergar o outro com a curiosidade. Para mim, tudo é material e isso a arte me trouxe. Eu acredito que o artista tem que estar vivo na sua sociedade. A gente precisa entender o mundo em que a gente vive no momento em que a gente está vivendo esse mundo

Quem gosta de acompanhar a atriz, pode esperar encontrá-la outras vezes nos palcos. Já experiente na arte de conciliar mais de um trabalho cultural, Adriana se dedicará a dois espetáculos ao mesmo tempo, a partir de agosto: o monólogo "Não!", que continua rodando o Brasil, e um outro fixo em São Paulo, cujos detalhes ela ainda não pode revelar.

"Tem mais um espetáculo de teatro que fui convidada para fazer em São Paulo. Eu devo me mudar para lá em agosto. Entre ensaios e apresentações, vou conciliar os espetáculos ao mesmo tempo", finalizou.

SERVIÇO

  • MONÓLOGO "NÃO!" COM ADRIANA BIROLLI
  • QUANDO: Sexta (23), às 20h
  • ONDE: Casa da Música Sônia Cabral, na Rua São Gonçalo, no Centro de Vitória
  • CLASSIFICAÇÃO: 12 anos
  • DURAÇÃO: 65 minutos
  • INGRESSOS: Inteira por R$ 100 e meia por R$ 50, disponíveis no site da Sympla e na bilheteria do teatro (das 13h às 18h)

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