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Publicado em 18 de junho de 2025 às 11:59
Futebol é barulho, bateria, fogos de artifício. Tudo isso compõe fortemente a memória de quem é um torcedor apaixonado e, mais que isso, consolida as relações de afeto com o clube do coração. Entretanto, para as pessoas que convivem com o autismo, toda essa oferta de barulhos pode servir de gatilho para um episódio de crise. >
Nesta quarta-feira (18) se celebra o dia do Orgulho Autista, e um levantamento feito por A Gazeta constata que atualmente, no Espírito Santo, só um estádio possui salas sensoriais para atender torcedores com espectro autista. >
A sala sensorial do Klebão foi inaugurada em setembro do ano passado, num evento-teste em celebração dos 10 anos do Porto Vitória. A sala sensorial conta com isolamento acústico, banheiro integrado, ar-condicionado e brinquedos para as crianças. O objetivo é proporcionar um ambiente seguro e confortável para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), dislexia, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), síndrome de Down, entre outros, durante os eventos no estádio. Para acessar a sala, o responsável da criança deve solicitar a carteirinha de identificação para o acesso durante os eventos através deste formulário.>
Na Câmara Federal tramita um Projeto de Lei, o 107/2024, anexado ao PL 545/2023 do deputado Julio Cesar Ribeiro (Republicanos-DF) que preconiza a inclusão de salas sensoriais em estádios de futebol para atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Atualmente ele aguardando a emissão de um parecer - ou seja, uma opinião formal - sobre ele, na Câmara.>
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Aqui no Estado há outro Projeto de Lei, o 153/2023 da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), elaborado pela deputada Iriny Lopes (PT), que dispõe de formas a garantir a criação de salas sensoriais, chamadas "Salas do Bem", para atender pessoas que convivem com o TEA não só nos estádios de futebol como nos grandes eventos. Em paralelo a isso, no âmbito privado, há movimentos internos nas torcidas dos clubes em promover maior inclusão dessas pessoas nos estádios, através da fundação de torcidas especiais. Este processo continua tramitando na Ales.>
As salas sensoriais são espaços mais controlados e com condições acústicas, iluminação suave, áreas de descanso e de iluminação favoráveis para que a pessoa autista se confortável. O ideal é que para a edificação de espaços assim haja o acompanhamento de entidades especializadas.>
Clubes como Corinthians, Coritiba, Goiás e Londrina já avançaram na inclusão e adaptaram áreas específicas em seus estádios. O destaque vai para a Neo Química Arena, do Corinthians, que abriga um dos maiores espaços do tipo: o Espaço TEA, com capacidade para 160 pessoas. A equipe paulista também é considerada pioneira na criação de uma torcida especializada, os Autistas Alvinegros. Já a Copa do Mundo no Catar também serviu de exemplo, com a presença de espaços voltados ao público neurodivergente.>
Diversos coletivos vêm surgindo com o objetivo de reunir torcedores com autismo. Entre eles estão os Autistas Botafoguenses; Autistas Alviverdes (Palmeiras); Tricolor Autista (São Paulo); Autistas Vascaínos; Autistas do Galo (Atlético-MG); e Autistas Rubro-Negros (Flamengo). Até o momento, não foi identificada a existência de grupos com esse perfil entre os clubes capixabas.>
Estima-se que o Brasil tenha aproximadamente 2 milhões de pessoas autistas — o que corresponde a cerca de 1% da população nacional, que ultrapassa os 200 milhões de habitantes. Pela primeira vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) incluiu o TEA no Censo, com o objetivo de mensurar quantas pessoas convivem com o transtorno e quantas ainda não foram diagnosticadas.>
De acordo com Pollyana Paraguassú, presidente da Amaes e mãe de um jovem com nível 3 de suporte, “atualmente, a cada 36 crianças nascidas no Brasil, 1 é autista”. Ela explica que essa mudança nas estatísticas — no passado, a relação era de 1 a cada 168 — se deve, sobretudo, ao avanço nos métodos de diagnóstico. Pollyana reconhece que houve conquistas no que diz respeito à inclusão de autistas no ambiente esportivo, mas pondera que o caminho a ser trilhado ainda é longo. “A sociedade precisa entender que os nossos sonhos não cabem numa gaveta”.>
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