Um trabalho feito por muitas mãos, de gente de todas as idades. É assim que se mantém viva a tradição dos tapetes de Corpus Christi, em Castelo, no Sul do Espírito Santo, há mais de 60 anos.
Cerca de três mil voluntários, divididos em 34 equipes, transformam o Corpus Christi numa celebração de união e fé. Gente que trabalha o ano inteiro e sai de longe para ajudar.
Dedicação que contagia
Um exemplo é o casal de produtores rurais Edineia Sartori e Valentim Fioresi, moradores da comunidade de Bateia, na zona rural de Castelo. Todos os anos, eles deixam a casa no interior de Castelo a colheita do café para se dedicarem à transformação das ruas do centro da cidade, durante a celebração de Corpus Christi.
Fioresi explica que ele e a esposa começaram a confeccionar os tapetes há mais de 20 anosm depois de um convite feito por amigos. Desde então, não pararam mais.
Valentim Fioresi
Produtor rural
"A gente só ia na véspera para ajudar a confeccionar. Mas, depois, pegamos compromisso. Hoje, nossa comunidade ajuda e trabalha com a gente. Trabalhamos unidos"
Hoje, essa mobilização é mais que uma atividade para o casal, é parte da identidade deles, diz Edineia.
Edineia Sartori
Produtora rural
"Nós, sem Corpus Christi, não funcionamos. Enquanto aguentarmos, vamos continuar"

Tradição que se renova
O comerciante Luiz Carlos Ferrão participa da celebração de Corpus Christi de Castelo há 54 anos. Foi estimulado pela professora Maria Cecília Perim, considerada uma das pioneiras na tradição da montagem dos tapetes, que teve início em 1963. Ele contagiou a filha com a sua fé. Ela, por sua vez, incluiu o marido nos preparativos e hoje os filhos do casal também participam. Uma tradição que segue de geração em geração.
"Comecei jovem em 1971. Pude ajudar, assim como minha filha e, agora, os meus netos. Eles pintam pedras. Fazem como eu fazia com as minhas filhas. Torço para essa chama não se apagar e prosseguir por muitos anos", frisou.

Filha de Ferrão, Camila diz que faz questão de ensinar aos filhos a essência do Corpus Christi desde pequenos, para despertar nelesa vontade de se doar por uma tradição.
Camila Ferrão
Comerciante e fisioterapeuta
"Eles sempre estiveram comigo na rua, desde quando eu estava grávida. O gosto de por a mão na tinta e pintar os materiais já entra no inconsciente, para que, um dia, possam assumir o meu lugar"
De volta às origens
A vontade de ajudar e preservar a tradição de Corpus Chisti fez com que o administrador rural José Francisco Targa se mobilizasse para cultivar a crista de galo, uma flor vibrante e exótica, que esteve presente no primeiro tapete montado pela religiosa Irmã Vicência, em frente à Capela da Santa da Casa de Castelo, em 1963.
Nos primeiros anos da celebração, a flor era uma marca registrada. Mas, com a chegada de materiais modernos, como a dolomita, o calcita e os pedriscos, a flor foi deixada de lado. Incomodado, Targa pensou em como poderia ajudar. Procurou e encontrou sementes de crista de galo, realizando o plantio em uma área dentro da fazenda em que é gerente, na região de Forno Grande, zona rural de Castelo, para serem usadas na confecção dos tapetes de 2025.
"Conversando com a diretoria da empresa, disseram que eu poderia fazer essa plantação, porque seria uma forma deles ajudarem no Corpus Christi, que é um evento local da cidade em que a empresa está inserida", explica.
José Francisco Targa
Administrador Rural
"A crista de galo começou a ficar escassa. Consegui sementes em 2023, plantei para colher ano passado, mas não tivemos sucesso. A flor morreu antes. Este ano fizemos de novo"
Para o coordenador-geral do Corpus Christi de Castelo, Luciano Travaglia, a crista de galo é o resgate do simples, de uma tradição que começou singela, com a irmã Vicência.
Luciano Travaglia
Coordenador-geral do Corpus Christi de Castelo,
"Faltava voltar o cheiro do tapete. Nós fomos buscar o cipreste, a crista de galo, a palha e a borra de café. Produtos simples que a irmãzinha usou lá atrás, e colocamos, hoje, com produtos modernos"
O professor de teologia José Ângelo da Silva Campos observa que tanta dedicação contagia. Na análise do especialista, Corpus Christi é fé, mas também é amor. É tradição e modernidade. É a renovação que passa de pai para filho. É o detalhe que não se perda diante a grandiosidade.
"O amor contamina, atrai. É uma moeda diferente do dinheiro. Se você distribui dinheiro, com o tempo, não tem nada. Já o amor, ele multiplica. As pessoas vão cada vez mais agregando, se unindo pelo objetivo maior: Jesus Cristo", disse.
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