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Publicado em 9 de março de 2021 às 02:00
- Atualizado Data inválida
O deputado federal Evair de Melo (PP) já chegou até a ser convidado para compor o secretariado de Renato Casagrande (PSB), mas o parlamentar, que é bolsonarista, virou um dos vice-líderes do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara Federal e agora faz duras críticas ao governador do Espírito Santo. >
Em entrevista ao colunista Vitor Vogas, Evair disse que “Casagrande ajudaria muito mais se ficasse de boca fechada”, criticando as decisões do socialista no enfrentamento à Covid-19. O discurso do parlamentar, no entanto, é um ponto fora da curva no Estado, onde não há uma composição coesa de oposição ao governo estadual. >
Evair de Melo já foi filiado ao PV, partido pelo qual foi eleito deputado federal em 2014. Em 2018, migrou para o PP, partido do presidente da Câmara Arthur Lira, que faz parte do Centrão e é aliado de primeira hora de Bolsonaro na Casa. >
Desde o início da pandemia, Evair tem reforçado o discurso do governo federal. Logo após ser nomeado como um dos vices-líderes, criticou governadores e prefeitos, afirmando que eles teriam demorado a tomar medidas para conter a disseminação do novo coronavírus, e que, por causa disso, tiveram que adotar atitudes tão restritas de isolamento social. >
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O próprio presidente, no entanto, minimiza desde o início os riscos da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, comparada por ele a uma "gripezinha" ou "resfriadinho".>
Em meio ao agravamento da pandemia de Covid-19, e diante de uma ausência de articulação nacional, os governadores, entre eles Casagrande, têm isolado o presidente Jair Bolsonaro na tomada de decisões. Eles articulam anunciar conjuntamente medidas restritivas para reduzir o avanço do novo coronavírus no Brasil.>
A atitude de Casagrande é criticada por Evair, que diz que o socialista é visto no Planalto como alguém que não tem humildade. "É visto como um governador que não cumpre o que fala e que, a todo momento que tem, fica jogando para a galera. Ele não perde uma oportunidade de querer fazer discurso. Não estou entrando no mérito, mas é desproporcional ao tamanho do Estado", declarou em entrevista no último fim de semana.>
Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro e aliados publicaram no Twitter as cifras que teriam sido repassadas pela União para ajudar os Estados durante a pandemia. Evair foi um dos que repostou os valores nas redes sociais. Os números, contudo, continham repasses obrigatórios do governo, e não se referiam apenas à ajuda fornecida durante a crise sanitária. >
Os dados foram duramente contestados por vários governadores, entre eles Casagrande, para quem Bolsonaro “torturou os números”, com o intuito de superestimar os repasses.>
Para Evair, contudo, Casagrande tem "fechado portas" com o governo federal e não demonstra gratidão."O governo do Estado, até o dia de hoje, omite em 100% as entregas e o esforço do governo federal para socorrer principalmente Estados e municípios na questão econômica", declarou em entrevista ao colunista Vitor Vogas.>
Mas o discurso duro de Evair contra o governo não tem sido acompanhado por outros parlamentares. O deputado tem ficado isolado nos ataques que direciona ao governador. Quem mais se aproxima dessa postura de oposição é a deputada federal Soraya Manato (PSL), esposa do ex-deputado Carlos Manato, que concorreu ao governo do Estado em 2018. Mesmo assim, Soraya se mostra mais uma defensora do presidente do que uma crítica de Casagrande. >
Na Assembleia Legislativa, dos 30 deputados estaduais, apenas Capitão Assumção (Patriota) desempenha um papel de oposição. Outros parlamentares, como Torino Marques (PSL) e Danilo Bahiense (sem partido), costumam criticar o governo, mas não de maneira tão incisiva. >
Além de ser um caso pontual entre os parlamentares, as declarações de Evair não representam necessariamente a visão do PP a respeito de Casagrande. No Espírito Santo, inclusive, o partido é um dos pilares do governo estadual, e o presidente do partido, Marcus Vicente, é secretário de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano.>
Evair de Melo e Casagrande eram próximos. Durante todo o primeiro mandato de Casagrande (2011-2014), o parlamentar presidiu o Incaper, cargo que o projetou para conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2014. Na época, Evair era filiado ao PV. >
Mas foi em 2018, contudo, que a relação começou a mudar. Evair foi convidado por Casagrande para ser secretário de Agricultura do governo. O parlamentar não só rejeitou, como publicou uma carta aberta nas redes sociais contando que havia recusado a proposta. A atitude gerou um mal-estar com o governo. >
Na época, Evair ainda não havia sido nomeado um dos vice-líderes do governo – isso veio a acontecer em 2020 – , mas jȧ era bolsonarista e defendia o presidente nas rede sociais. >
Se Evair aceitasse a titularidade da pasta na gestão Casagrande, Marcus Vicente, que é o presidente do PP no Espírito Santo e secretário de Saneamento do governo, assumiria a vaga deixada por ele na Câmara dos Deputados, como suplente da coligação.>
O governador Renato Casagrande foi procurado pela reportagem para comentar as declarações do deputado federal Evair de Melo mas, via assessoria, informou que não iria se manifestar. >
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