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Teori: relatório da FAB sugere que piloto insistiu em pouso

Teori: relatório da FAB sugere que piloto insistiu em pouso

Também foram apontadas possíveis ilusões com potencial de desorientar o piloto espacialmente

Publicado em 22 de janeiro de 2018 às 21:26

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Destroços do avião que caiu com Teori Zavascki. (Marcos Landim/TV Rio Sul)

Relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) concluiu que a visibilidade em Paraty (RJ) era menor do que a recomendada para uma tentativa de pouso na pista da cidade na tarde de 19 de janeiro de 2017. Naquele dia, o avião que levava o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), e outras quatro pessoas caiu no mar, matando todos a bordo.

O relatório final de investigação do Cenipa, órgão ligado à Aeronáutica, foi divulgado nesta segunda-feira (22) e sugere que o piloto Osmar Rodrigues insistiu no pouso mesmo assim. Além disso, foi apontada a possível ocorrência de ilusões visuais que podem ter desorientado o piloto. Teori era o relator dos processos da Operação Lava-Jato no STF, tendo sido substituído nesse papel, após sua morte, pelo colega Edson Fachin.

A recomendação para pistas com a de Paraty, em que o pouso é visual e feito sem auxílio de instrumentos ou torre de controle, é que haja visibilidade de 5 mil metros ou mais. O Cenipa estimou que, no momento do acidente, ela estava em 1,5 mil metros. A aeronave partiu às 13h01 de São Paulo. Naquele momento, a visibilidade era boa em Paraty. Mas começou a chover e a neblina aumentou, chegando a níveis ruins no momento em que o avião se aproximou de Paraty.

"Naquele momento, não havia as condições mínimas de visibilidade requeridas para as operações de pouso e decolagem. Da mesma forma, o campo visual do piloto estava restrito e com poucas referências visuais no solo para sua orientação", afirmou o investigador do Cenipa encarregado do caso, o coronel aviador Marcelo Moreno.

Os dados extraídos da aeronave mostraram inclusive que, minutos antes do acidente, o piloto preferiu esperar mais algum tempo antes de tentar o pouso. "Após a primeira tentativa de aproximação, ele recolheu o trem de pouso e disse que ia esperar um pouco", disse Moreno.

Houve depois uma segunda tentativa de aproximação da aeronave, mas o piloto voltou a sobrevoar a área. O avião fez uma curva à direita, quando recolheu o trem de pouso, e em alguns segundos caiu no mar. A investigação apontou a existência de condições que favorecem a existência de algumas ilusões que podem levar um piloto a se desorientar quando faz uma curva. Mas não cravou que isso tenha ocorrido. Apenas sugeriu que ele tenha passado por esse fenômeno. "Esse tipo de ilusão é potencialmente perigoso, em especial em voos de baixa altitude", afirmou Moreno.

Outra ilusão que pode ter ocorrido é a falsa percepção da altura da aeronave. O piloto podia achar que estava a uma altitude maior do que realmente estava. Isso é mais comum em superfícies homogêneas, com poucos detalhes, como é o caso da água. O problema tende a ser pior em condições de baixa visibilidade. A investigação do Cenipa apontou que os certificados e manutenção da aeronave estavam em dia. "Não havia registros de panes ou mau funcionamento relacionado aos sistemas da aeronave", disse Moreno.

O piloto também estava com sua licença em dia e não foram encontrados indícios de que houvesse problemas do ponto de vista médico comprometendo seu trabalho. O piloto, com 30 anos experiência, estava acostumado a ir para Paraty (RJ), tendo realizado 33 voos para esse destino nos 12 meses anteriores ao acidente. Mas, segundo o Cenipa, isso não impede que ele também ele esteja sujeito a ilusões visuais e desorientação espacial. Pode até ter elevado sua autoconfiança.

"Não se evidenciaram alterações, do ponto de vista médico, que pudessem resultar no comprometimento do desempenho do piloto em voo. Da mesma forma, os exames toxicológicos realizados após o acidente não apontaram indícios de substâncias farmacológicas toxicamente ativas ou de álcool no sangue", disse Moreno.

De acordo com o investigador, eram comuns, entre os pilotos que operavam na região, tentativas de pousos em Paraty mesmo em condições ruins. "O curto intervalo de tempo transcorrido entre a verbalização do piloto de que iria aguardar e o início da segunda tentativa de aproximação denotou que ele desistiu de aguardar a melhoria das condições meteorológicas", afirmou Moreno.

O relatório também mostrou que a causa preponderante da morte do Teori e das demais pessoas a bordo foi o impacto com o mar. Afogamento, se houve, foi uma causa acessória. A investigação do Cenipa tem por propósito a prevenção de eventuais novos acidentes. Para isso, levanta as prováveis causas da queda da aeronave. O Cenipa não tem por objetivo apontar responsáveis nem fazer a investigação criminal. Isso em geral fica a cargo da Polícia Federal (PF). "O nosso único propósito é o de prevenir acidentes", disse o chefe do Cenipa, brigadeiro do ar Frederico Alberto Marcondes Felipe.

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Em 10 de janeiro deste ano, a PF levou à presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, os principais resultados da investigação sobre a queda do avião. Neste atual estágio das investigações, que caminham para um fim, a PF descarta que o acidente tenha sido provocado. Também não encontrou indícios de sabotagem. E tem a falha humana como linha principal para explicar a tragédia, conforme o relato levado à presidente do STF.

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