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Quem são os pré-candidatos à Presidência e quais obstáculos vão enfrentar

Quem são os pré-candidatos à Presidência e quais obstáculos vão enfrentar

Políticos que desejam ocupar o mais alto cargo do Executivo nacional precisam viabilizar suas candidaturas até as convenções partidárias, que vão de 20 de julho a 5 de agosto. Veja os nomes cotados para a disputa após mudanças partidárias

Publicado em 16 de abril de 2022 às 08:25

Ícone - Tempo de Leitura 8min de leitura
Pré-candidatos à Presidência da República têm cerca de três meses para se viabilizarem para a disputa
Pré-candidatos à Presidência da República têm cerca de três meses para se viabilizarem para a disputa. (Montagem/A Gazeta)
Ednalva Andrade
Repórter / [email protected]

Enquanto o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) polarizam a corrida para assumir o Palácio do Planalto em 2023 nas duas primeiras colocações em todas as pesquisas eleitorais, pelo menos outros dez nomes tentam se viabilizar para a disputa presidencial.

Eles terão pouco mais de três meses para fazer com que suas pré-candidaturas sejam oficializadas em convenção partidária, sendo que três deles participam do grupo partidário que busca uma candidatura única para se firmar como terceira via nas eleições para presidente da República: a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB-SP) e o deputado federal Luciano Bivar (União Brasil-PE).

O “candidato de consenso” do grupo formado pelos partidos União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania para concorrer à Presidência da República será anunciado no dia 18 de maio. A discussão gira em torno dos nomes de Tebet, Doria e Bivar, que é também presidente nacional do União Brasil, além do nome do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB).

A consolidação de uma candidatura única da terceira via ainda é incerta por diversos fatores, que vão do baixo desempenho nas sondagens realizadas - nenhum dos nomes apresentados alcançou dois dígitos nas intenções de voto -, à pressão de caciques e lideranças do MDB no Nordeste para que o partido apoie Lula, passando pelo impasse no ninho tucano entre a manutenção de Doria sem decolar nas pesquisas, ou a mudança para Eduardo Leite, pelo eventual potencial de crescimento devido à sua baixa rejeição.

Uma das possibilidades aventadas é uma chapa encabeçada pela senadora emedebista com Bivar na vaga para vice-presidente, o que garantiria mais tempo na propaganda eleitoral, já que o União Brasil abriga uma das maiores bancadas na Câmara dos Deputados, enquanto o PSDB tem se desidratado em todo o país nos últimos anos.

Para que esse cenário se consolide, o cientista político e professor emérito de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer aponta que Tebet, além de aumentar seu índice de intenção de voto, precisará superar a resistência interna no MDB a uma candidatura própria, seja pelo medo de repetir o fiasco de 2018 com o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (atual PSD) - ele obteve apenas 1,2% dos votos e ficou em sétimo na disputa presidencial - ou pela preferência dos pré-candidatos a senador e a governador dos Estados do Nordeste pelo apoio a Lula.

“Lula é muito forte no Nordeste e fica difícil para os candidatos do MDB apoiarem outro nome em seus Estados. Nas outras regiões do Brasil o MDB não tem essa ligação com o PT”, destaca o cientista político.

Fleischer avalia que, para tornar viável a candidatura única da terceira via, o grupo partidário precisa priorizar os nomes com melhor desempenho nas pesquisas e destaca a insistência de Doria, que busca se aproximar das suas raízes, como em recente viagem à Bahia.

Para ele, quem não se aproximar de dois dígitos nas pesquisas nos próximos dois meses terá mais dificuldade em obter relevância na disputa e acredita que será muito difícil quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro, especialmente pelo fato de o presidente "ter a caneta na mão" e estar jogando com um pacote de bondades, como redução na conta de energia e no IPI.

Com a indicação de Bivar como pré-candidato do União Brasil, a possibilidade de o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (ex-Podemos e hoje no União Brasil) tornar-se o candidato da terceira via foi enterrada. Desconhecido da maior parte da população, o presidente do partido nascido da fusão entre DEM e PSL liderava essa última legenda na disputa presidencial de 2018 e desempenhou um papel importante no crescimento da sigla que elegeu Bolsonaro.

Aspas de citação

Essa terceira via está muito complicada de se concretizar. Com a polarização, tem muito eleitor que pode não ir votar para presidente porque não concorda com nenhum dos dois candidatos que estão liderando as pesquisas. Seria um incentivo para esses eleitores, eles ficariam mais entusiasmados se houvesse a consolidação de uma candidatura da terceira via. Esses eleitores podem ficar desanimados com a eleição para presidente, mas podem ir votar nos demais candidatos, para governador, senador e deputado

David Fleischer
Cientista político e professor emérito de Ciência Política da UnB
Aspas de citação

O cientista político pontua que esta eleição deve ter um grande número de candidatos, uma vez que mesmo depois de diversas mudanças na legislação eleitoral o número de partidos continua alto - atualmente são 32 oficialmente registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)  - e o pleito deve ser mais uma vez marcado pela disseminação de fake news, ainda que agora a Justiça Eleitoral tenha mais condições de combater essa situação do que nas eleições anteriores.

A lista definitiva de candidatos só será definida nas convenções partidárias, previstas no calendário eleitoral para ocorrerem entre 20 de julho e 5 de agosto, mas alguns cotados já se retiraram da disputa, como o senador Alessandro Vieira (PSDB-SE, ex-Cidadania), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além de Sérgio Moro.

Por outro lado, continuam como pré-candidatos, além dos nomes já citados: o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), o deputado federal André Janones (Avante), o cientista político Felipe d'Ávila (Novo), o líder de movimento social Leonardo Péricles (UP), a socióloga Vera Lúcia (PSTU), o ex-deputado federal José Maria Eymael (DC) e a economista Sofia Manzano (PCB)

Confira, em ordem alfabética, alguns dos pré-candidatos à Presidência da República:

ANDRÉ JANONES (AVANTE)

André Janones, deputado federal pelo Avante MG, em entrevista para A Gazeta
André Janones é deputado federal pelo Avante-MG. (Fernando Madeira)

O deputado federal André Janones (Avante-MG) está em seu primeiro mandato e se tornou conhecido em 2018 depois de divulgar em suas redes sociais diversos vídeos sobre a greve dos caminhoneiros. Tem pontuado nas pesquisas de intenção de voto para presidente em índices similares ao do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB).

CIRO GOMES (PDT)

Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, é o nome do PDT para a disputa presidencial. (Reprodução/Site PDT)

O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) se apresenta como uma opção de centro e faz críticas tanto ao ex-presidente Lula (PT) quanto ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele foi o terceiro colocado na disputa de 2018 e busca ampliar seu eleitorado se aliando com outras legendas de centro-esquerda e centro-direita em 2022.

FELIPE D'ÁVILA (NOVO)

Cientista político Felipe d'Ávila teve a pré-candidatura lançada pelo partido Novo
Cientista político Felipe d'Ávila teve a pré-candidatura lançada pelo partido Novo. (Reprodução/Partido Novo)

O cientista político Felipe d'Ávila teve sua pré-candidatura lançada pelo partido Novo no final de 2021. Ele já foi filiado ao PSDB e coordenou o programa de governo de Geraldo Alckmin em 2018.

JAIR BOLSONARO (PL)

Em busca da reeleição, o presidente Jair Bolsonaro filiou-se ao PL
Em busca da reeleição, o presidente Jair Bolsonaro se filiou ao PL. (Valter Campanato/Agência Brasil)

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), tem se movimentado como candidato à reeleição e fez da sua filiação ao PL - do ex-deputado federal Valdemar Costa Neto (condenado no Mensalão) -, um evento para confirmação disso, já que a legislação eleitoral só permite oficializar candidaturas nas convenções partidárias, a partir de 20 de julho. Bolsonaro foi eleito pelo PSL em 2018, mas saiu do partido no final de 2019 visando criar o próprio partido, a Aliança pelo Brasil, que não saiu do papel.

Com a saída do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (União Brasil) da corrida presidencial, Bolsonaro ganhou fôlego nas pesquisas eleitorais e tem mostrado força para disputar a reeleição com apoio de partidos de direita e de centro, além da extrema-direita. Ele continua com uma base de eleitores fiéis, os quais dificilmente vão abandoná-lo nas eleições, além de desfrutar de uma aprovação crescente da sua gestão, mesmo com atuação polêmica durante a pandemia e ao longo do governo.

JOÃO DORIA (PSDB)

João Doria (PSDB) deixou o governo de São Paulo para tentar a Presidência da República
João Doria (PSDB) deixou o governo de São Paulo para tentar a Presidência da República. (Valter Campanato/Agência Brasil)

Ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) renunciou no último dia de março depois de especulações de que havia desistido da disputa presidencial. O movimento não agradou algumas lideranças tucanas. Além disso, Doria não tem conseguido decolar nas pesquisas eleitorais e uma ala do partido tem preferência pelo nome do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, derrotado por Doria nas prévias realizadas em novembro de 2021. 

Embora tenha defendido Bolsonaro na campanha de 2018, Doria se tornou crítico do presidente após a eleição. Os conflitos se intensificaram durante a pandemia da Covid-19, quando o ex-governador ganhou visibilidade por defender a vacinação e a vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac. Agora, o tucano se coloca como opção para encabeçar a chapa da terceira via, em que o PSDB, União Brasil, Cidadania e MDB discutem uma candidatura única a presidente.

LEONARDO PÉRICLES (UP)

Leonardo Péricles é pré-candidato do partido Unidade Popular (UP)
Leonardo Péricles é pré-candidato a presidente pelo partido Unidade Popular (UP). (Reprodução/Twitter @LeoPericlesUP)

O mais novo partido registrado no TSE lançou a pré-candidatura do integrante de movimentos sociais Leonardo Péricles, 40 anos, em novembro de 2021. Morador de uma ocupação urbana, ele traz como proposta uma candidatura de esquerda, com foco no classe trabalhadora e um programa pautado no fim das privatizações e revogação das reformas trabalhista e previdenciária.

LULA (PT)

PSB indica Alckmin para vice de Lula
Ex-presidente Lula deve tentar voltar à Presidência ao lado de Geraldo Alckmin, indicado pelo PSB para vice. (Ricardo Stuckert)

Com a anulação, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), das condenações que o impediam de disputar a eleição, o ex-presidente Lula (PT) passou a se movimentar e lidera as pesquisas de intenção de voto para voltar ao cargo que ocupou de 2003 a 2010. Ele tem percorrido o Brasil desde então e chegou a visitar países da Europa, onde foi recebido com honras de chefe de Estado. 

Lula tem polarizado a disputa contra a reeleição de Bolsonaro defendendo uma frente ampla pela reconstrução do país, mas ainda enfrenta alto índice de rejeição em algumas regiões e setores. Para tentar ampliar a força da chapa liderada pelo petista, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin foi indicado pelo PSB para a vaga de vice-presidente.  O PT ainda tenta obter apoio de outros partidos como o MDB, que discute candidatura própria no grupo da terceira via.

SIMONE TEBET (MDB)

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) busca se viabilizar como candidata da terceira via
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) busca se viabilizar como candidata da terceira via. (Pedro França/Agência Senado)

Um dos nomes discutidos pelo grupo formado pelos partidos União Brasil, PSDB, MDB e Cidadania para a candidatura de consenso da terceira via, a senadora Simone Tebet (MDB) ganhou visibilidade durante a CPI da Covid no Senado, da qual participou como integrante da bancada feminina. Ela foi a primeira mulher a comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e concorreu à presidência da Casa em 2021.

Tebet tenta ganhar visibilidade e crescer nas pesquisas de intenção de voto, pois ainda é desconhecida da maior parte da população. A baixa rejeição ao seu nome é vista como um fator positivo, mas ela enfrenta também divergências dentro do MDB, pois algumas lideranças influentes do partido demonstram mais interesse em uma aliança com Lula.

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