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O dia em que Bolsonaro ajudou os comunistas contra o Exército

O dia em que Bolsonaro ajudou os comunistas contra o Exército

Críticas do então capitão fizeram PCB e PCdoB mobilizar as bases

Publicado em 11 de junho de 2018 às 23:26

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Data: 16/05/2017 - Brasília - DF - Homenagem aos 65 Anos do Esquadrão de Demonstração Aérea - EDA - Esquadrilha da Fumaça. Deputado Jair Bolsonaro (PSC - RJ). (Alex Ferreira/Câmara dos Deputados)

Ao menos em um momento, comunistas endossaram ideia do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). É o que mostra um dossiê "secreto" produzido pelo antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), no final da década de 1980, para monitorar o então capitão do Exército.

O monitoramento começou após Bolsonaro publicar um artigo na revista "Veja" com o título "O salário está baixo", em 1986. Como apenas o comandante deveria falar pela tropa, o texto causou rebuliço e rendeu 15 dias de prisão ao militar.

A informação sobre o dossiê sigiloso foi publicado pelo jornal "O Globo", no último domingo (10). Entre as 37 páginas há um informe do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica, de 9 de outubro de 1986, um mês após a publicação do artigo, que mostra como partidos comunistas se aproveitaram do texto:

"Os comitês central e regional do PCB e do PCdoB emitiram instruções no sentido de que seus militantes explorassem ao máximo o descontentamento salarial dos militares a partir da entrevista do nominado", consta no informe, sugerindo que os comunistas usaram os argumentos de Bolsonaro para fomentar as bases contra o Exército.

O documento está disponível desde 2012 no site do Arquivo Nacional. Veja a íntegra:


Um boletim de 2 de setembro de 1986, que também está no dossiê, define a situação de Bolsonaro da seguinte forma:

"Punido por ter elaborado e feito publicar, em uma revista semanal, de tiragem nacional, sem conhecimento e autorização de seus superiores, artigo em que tece comentários sobre a política de remuneração do pessoal civil e militar da União: ter abordado aspectos da política econômica e financeira fora de sua esfera de atribuição e sem possuir um nível de conhecimento global que lhe facultasse a correta análise; por ter sido indiscreto na abordagem de assuntos de caráter oficial, comprometendo a disciplina; por ter censurado a política governamental; por ter ferido a ética, gerando clima de inquietação no âmbito da OM (Organização Militar) e da Força e por ter contribuído para prejudicar o excelente conceito da tropa paraquedista no âmbito do Exército e da Nação (NR 63, 65, 66, 68 e 106 do anexo I, com agravantes do NR 2 e letra “C” NR 6 do artigo 18, tudo do RDE, fica preso por 15 (quinze) dias".

O artigo fez com que Bolsonaro e familiares dele ficassem por três anos sob monitoramento do SNI. O órgão foi criado e funcionou a pleno vapor na ditadura militar para monitorar dissidentes. Principalmente militantes de esquerda, que décadas depois passariam a formar água e óleo com Bolsonaro.

No dia 25 daquele mesmo mês de outubro, a "Veja" publicaria reportagem sobre a "reivindicação de aumento dos militares" e sobre o "clima de rebeldia de alguns setores do Exército". Nesta reportagem, é revelado um plano de Bolsonaro de colocar bombas em quartéis para pressionar o comando.

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Em razão das declarações, o capitão foi submetido a um Conselho de Justificação. Em 1988, o Superior Tribunal Militar analisou o caso de Bolsonaro e o considerou, por maioria de votos, "não culpado".

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