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MPT investiga empresa no ES por orientar voto de funcionários

MPT investiga empresa no ES por orientar voto de funcionários

Empregador aparece em vídeo discursando para plateia de trabalhadores. Ministério Público do Trabalho notificou a indústria localizada em Aracruz para que se retrate e peça desculpas aos empregados

Publicado em 26 de setembro de 2022 às 21:28

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Sede do Ministério Público do Trabalho (MPT) no Espírito Santo
Sede do Ministério Público do Trabalho (MPT) no Espírito Santo. (Divulgação/MPT)
MPT investiga empresa no ES por orientar voto de funcionários

O Ministério Público do Trabalho (MPT) instaurou inquérito civil para apurar a suposta prática de assédio eleitoral em uma empresa localizada em Aracruz, no Espírito Santo. A investigação é para identificar se o patrão atuou para direcionar o voto dos funcionários em um discurso dentro da indústria, o que configura crime. A empresa nega e diz que respeita "posições e opiniões individuais". 

Em vídeos que circulam nas redes sociais,  o empregador aparece falando aos trabalhadores reunidos dentro da empresa sobre eleições. Ele não menciona nenhum candidato de forma aberta, mas comenta que, durante um antigo governo, a companhia, Imetame Metalmecânica, não teve nenhuma grande obra, mas ao mudar o governo, nunca mais pararam.

O homem, que não teve o nome divulgado pelo MPT, aparece em outro trecho alertando sobre o voto.  “Quando você vê pessoas falando coisas negativas de quem faz realmente esse país ir para frente e você ainda tem coragem de votar nessas pessoas, no futuro, você não vai poder reclamar. O dia que você não tiver emprego, não vai poder reclamar, porque você escolheu”.

Na gravação, o empregador também questiona se os trabalhadores votariam em candidatos que falam assuntos “absurdos em relação à família, assuntos absurdos a quem empreende”.

Em um dos vídeos, o homem, que está de pé em frente a vários funcionários, diz que a “mamata acabou” e cita episódios de corrupção na Petrobras que foram registrados em governos petistas, citando por exemplo que a petroleira pagou “U$ 1 bilhão, R$ 5 bilhões à bolsa americana por conta dos roubos feitos na Petrobras”.

NOTIFICAÇÃO RECOMENDA QUE EMPRESA SE RETRATE

Em nota, o MPT afirmou que, a partir de vídeo encaminhado ao procurador-chefe da Procuradoria Regional do Trabalho (PRT) da 17ª Região, foi expedida notificação à Imetame recomendando que a "empresa que se abstenha, imediatamente, de ameaçar, constranger ou orientar seus trabalhadores a votarem ou não votarem em determinado candidato".

"Além disso, recomenda a divulgação da recomendação, a todos os trabalhadores, e a realização de nova reunião para retratação e pedido de desculpas formal que atinja integralmente todos os trabalhadores, bem como esclareça que o assédio eleitoral constitui crime".

O órgão concedeu o prazo de 48 horas para a empresa obedecer às recomendações e o prazo de 72 horas para comprovar nos autos o atendimento.

Em seguida, o Ministério do Público do Trabalho dará andamento ao inquérito civil e decidirá sobre o ajuizamento de eventual Ação Civil Pública "com vistas à reparação do dano imensurável causado pelo empregador e sua conduta", informou.

O órgão ainda esclareceu que, casos de casos de assédio eleitoral e denúncias sobre irregularidades trabalhistas poderão ser realizadas normalmente por meio da página do MPT-ES, pelo aplicativo MPT Pardal ou pessoalmente, dirigindo-se a uma das unidades do MPT em Vitória, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina e São Mateus.

PT ENTROU COM MANIFESTAÇÃO NO MPF E NA JUSTIÇA ELEITORAL

O Partido dos Trabalhadores (PT) também entrou com uma manifestação contra as declarações do empresário no Ministério Público Federal (MPF), que atua na esfera eleitoral. Na representação, o partido diz que "apesar de não haver pedido direto de voto nos vídeos, há clara intenção de direcionar o voto dos trabalhadores".

Procurado pela reportagem, o MPF informou que recebeu os vídeos gravados na empresa Imetame e as informações serão apuradas. "Foi enviada cópia da Notícia de Fato para a Promotoria de Justiça de Aracruz, para apuração de conduta que pode se amoldar ao tipo penal do art. 301 do Código Eleitoral, cuja atribuição para investigação e processamento é da Justiça Eleitoral Estadual, por não haver envolvimento de pessoas com prerrogativa de foro", informou.

De acordo com o MPF, "a conduta também pode configurar captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei 9.504/97), que será apurada pela Procuradoria Regional Eleitoral, para a qual cabe representação em desfavor do responsável até a data de diplomação".

O partido também denunciou o caso à Justiça Eleitoral. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES), supostos casos de crimes eleitorais são encaminhados para a apuração do Ministério Público Eleitoral que, se confirmar a veracidade dos fatos, apresentará denúncia que será encaminhada para julgamento no TRE.

O QUE DIZ A EMPRESA

A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Imetame Metalmecânica para esclarecer as declarações feitas no vídeo. A empresa não informou quem foi o autor das declarações.

"No que se refere ao nosso posicionamento, o único pedido foi para que as pessoas tenham serenidade no momento de realizar a escolha de seu candidato. Respeitamos as posições e opiniões individuais de cada um", disse a empresa em nota.

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