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Publicado em 21 de junho de 2024 às 16:16
Após a veiculação de um vídeo na internet, em que o deputado estadual Capitão Assumção (PL) simula uma entrevista com o governador Renato Casagrande (PSB), o chefe do Executivo capixaba ingressou com um queixa-crime contra o parlamentar por calúnia, injúria e difamação. O julgamento foi realizado no início do mês e, na tarde de quinta-feira (20), o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) fez a leitura do ato que aceitou o pedido de Casagrande. O caso agora será apreciado pelos desembargadores. >
Conforme consta na ação, Capitão Assumção publicou conteúdo na internet utilizando um vídeo montado, constituído de dois quadros, no qual foram inseridas imagens de Casagrande no quadro à esquerda, enquanto à direita contém imagens do deputado expressando-se como se estivesse formulando perguntas ao governador em uma entrevista.>
As imagens de Casagrande, segundo pontuado no documento, indicam que foram extraídas de gravações de eventos dos quais o governador participou. No lado direito do vídeo, há registro de frases que, na avaliação da defesa do governador, tinham como destino o eleitorado e a sociedade, passando a ideia de que realmente o chefe do Executivo estadual havia concedido uma entrevista para Assumção. >
"A arte propicia deduzir que, para tentar transparecer que o conteúdo do vídeo era verdadeiro, o autor da montagem apropriou-se de palavras específicas, pinçadas de discursos efetivamente proferidos pelo chefe do Executivo estadual, cuidadosamente escolhidas e habilidosamente utilizadas para estabelecer conexão entre as palavras realmente ditas pelo governador do Estado em ocasiões distintas e gravadas em vídeos originais, editorialmente extraídas e inseridas na montagem, de forma que fossem entendidas como sendo vocalizadas pelo representante em respostas às perguntas simuladas pelo representado (Assumção)", diz um trecho da ação. >
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No documento, a defesa de Casagrande reforça que "a expertise do montador levou-o a utilizar-se de edições de vídeos originais para reproduzir palavras realmente ditas pelo governador do Estado em um ou outro evento administrativo, com o objetivo de fazer crer que as inserções tidas como respostas tinham a sonoridade da expressão vocal do representante (Casagrande), a fim de passar ao público atingido a crença de que realmente este estivesse respondendo a perguntas que lhe estariam sendo feitas pelo representado (Assumção), para que a produção, de fato, retratasse uma entrevista e não deixasse transparecer que tudo não passava de uma montagem editorial elaborada por quem tem domínio sobre tecnologia da informação e sobre inteligência artificial.">
A ação até considera que o Capitão Assumção não tenha conhecimento técnico para a montagem que veiculou na internet e que, portanto, há necessidade de identificação do produtor, que, neste caso, seria considerado coautor, que também poderá ser responsabilizado criminalmente. >
A possibilidade de o material ter sido criado sem a utilização de vídeos originais também foi pontuada pela defesa de Casagrande. No documento, a argumentação é que, se a produção utilizou-se de inteligência artificial (IA), o conteúdo poderá ser classificado como uma "deepfake", técnica que é capaz de substituir rostos e imagens em vídeos e áudios. Mas a equipe ressalta que a confirmação sobre como o vídeo foi produzido vai depender de análise técnica.>
Na ação, observa-se, ainda, que as simulações não se restringiram a Casagrande. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também foi alvo. Contudo, questões relacionadas à presidência não são de atribuição do TJES e requerem encaminhamento à Procuradoria-Geral da República para avaliação e, se for o caso, adotar as providências cabíveis.>
Relator da ação do governador, o desembargador Fabio Clem de Oliveira votou por acatar a queixa-crime contra o Capitão Assumção. A decisão foi acompanhada pela maioria dos demais desembargadores.>
Casagrande foi procurado, mas, segundo a assessoria, não vai se manifestar sobre o caso. O advogado Fernando Carlos Dilen da Silva disse que a defesa de Assumção adotará a mesma prática e não vai falar do assunto. >
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