Publicado em 17 de junho de 2020 às 18:11
A procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, considerou com "potencial lesivo" a conduta dos seis deputados que fizeram uma inspeção surpresa ao hospital Dório Silva, na Serra, na última sexta-feira (12). A abertura da investigação pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) foi decidida a partir de uma notícia-crime protocolada pela Procuradoria-geral do Estado (PGE), acusando o cometimento de crime contra a saúde pública nesta ocasião. A PGJ afirmou que, em tese, o ato pode se enquadrar no artigo 265 do Código Penal, que versa sobre atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública. >
A informação da abertura do procedimento investigatório foi antecipada pela coluna de Vitor Vogas, que conseguiu com exclusividade o documento assinado pela PGJ na noite desta terça-feira (16).>
Agora, o Ministério Público vai apurar as circunstâncias da visita, consultar as normas internas do hospital e decidir se há, ou não, elementos que apontem para uma conduta criminal. Ao fim da investigação, três cenários são possíveis, de acordo com o texto: o arquivamento da denúncia, caso não sejam encontrados elementos suficientes que configurem crime; a deflagração de ação penal ou a realização de um acordo de não persecução penal, que é uma espécie de conciliação, com o uso da justiça penal negociada. >
No caso, por exemplo, o MPES poderia não apresentar denúncia sobre o caso para o Tribunal de Justiça (TJES), caso os deputados se comprometam com alguma contrapartida, como a de não fazer mais as inspeções.>
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Andrade ressalta, em sua fundamentação, que as alas que atendem pacientes contaminados pela Covid-19 são equipadas com rígidos padrões de segurança, que visam evitar a propagação do vírus e, por isso, qualquer pessoa, que não seja profissional de saúde, representa um "potencial lesivo" na conduta de adentrar esses espaços e atrapalhar ou, conforme citado pela procuradora, "derruir" toda a estrutura preparada pela Secretaria de Saúde para atender esses pacientes.>
Em uma análise inicial, a procuradora-geral de Justiça verificou, com base na notícia-crime da PGE, que os parlamentares teriam entrado em áreas restritas para o tratamento do coronavírus e, por isso, causaram "grave risco" para a coletividade e para a segurança do serviço público que estava sendo prestado, o que se enquadraria no artigo 265 do Código Penal. >
"Assentada essa premissa, verifico que os noticiados, em união de desígnios (vontade), em cognição sumária e tomada a narrativa da parte noticiante, teriam adentrado em área restrita de tratamento de pacientes Covid-19, causando assim, grave risco para a coletividade e para a própria segurança do serviço de relevância pública prestado", diz o texto.>
Os seis deputados que estiveram no local (todos da oposição no Estado e aliados a Bolsonaro), negam as denúncias constantes na notícia-crime da PGE. Eles afirmam que a visita foi rotineira, que foram bem recebidos pela equipe do hospital, que não entraram em alas destinadas ao tratamento da Covid-19 e que estavam seguindo os protocolos de segurança.>
Lorenzo Pazolini (Republicanos), Torino Marques (PSL), Danilo Bahiense (PSL), Vandinho Leite (PSDB) e Carlos Von (Avante) entraram no hospital e fizeram vídeos. Capitão Assumção (Patriota), de acordo com a assessoria de imprensa, ficou no carro, no estacionamento, por estar com suspeita de coronavírus. De acordo com os parlamentares, a visita foi motivada por diferentes denúncias que eles receberam sobre condições precárias de trabalho na unidade.>
Vandinho Leite, que chegou a ser notificado pelo diretório nacional do PSDB para se explicar sobre a visita ao hospital, disse por meio de nota, que está à disposição do MPES para os esclarecimentos dos fatos, "sem qualquer temor". O deputado afirma que "ação realizada pelos deputados foi calçada na Constituição da República em seu artigo 49, inciso X, que dispõe sobre o dever de fiscalizar, respeitando nesse momento as regras de saúde pública.">
Pazolini também sustentou que não houve invasão e de que nenhum dos deputados entrou em UTI ou salas vermelhas. Em nota, o republicano disse que os parlamentares se identificaram e tiveram a entrada franqueada à unidade, "sendo, inclusive acompanhados pelos servidores do hospital" com quem tiveram, segundo ele, "intenso diálogo sobre os problemas que estão passando.">
"Além disso, não houve quebra de protocolos sanitários, pois foram adotadas todas as medidas de segurança e respeitados os protocolos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e Anvisa. Importante também deixar claro que ninguém entrou em UTIs, tampouco nas salas vermelhas", disse em nota.>
Durante a sessão legislativa desta quarta-feira (17), parlamentares, inclusive da base governista na Casa, fizeram um apelo para que a PGE retirasse a representação, mas como o MPES já abriu o procedimento investigatório, isso não é mais tecnicamente possível. >
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