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Idealizador do RenovaBR diz que população quer novos líderes

Idealizador do RenovaBR diz que população quer novos líderes

Empresário destaca que há grandes desafios para que a renovação política, de fato, ocorra nas eleições deste ano

Publicado em 5 de maio de 2018 às 22:58

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Eduardo Mufarej, empresário e idealizador do Renova BR. (Divulgação/Renova BR)

As maiores barreiras a serem ultrapassadas quando alguém quer se tornar um político não estão relacionadas apenas a como conseguir conquistar o voto do eleitor. O acesso à política ainda sofre diversas limitações, que vão desde as relações partidárias até a falta de preparo para o trato político, com o risco de afastar das eleições muitos nomes que poderiam trazer a renovação, justamente no momento em que há um maior clamor por ela.

Com esse incômodo, somado a um diagnóstico de que o principal desafio da formação de novas lideranças está no próprio processo decisório das pessoas bem intencionadas interessadas na política, o empresário Eduardo Mufarej decidiu criar o RenovaBR, movimento apartidário que trabalha para identificar, capacitar e impulsionar lideranças para sustentar a renovação na política brasileira. A iniciativa também conta com o apoio de nomes como o do apresentador Luciano Huck, do economista Armínio Fraga e o empresário Abilio Diniz.

Na turma que já está passando pela capacitação – para formação de potenciais candidatos a deputado estadual e federal –, estão os capixabas Felipe Rigoni, Gustavo de Biase, Júlio Pompeu, Octaciano Neto e Sandra Freitas.

Aos 41 anos, Mufarej, que é sócio do Fundo de Investimentos Tarpon e presidente do Conselho de Administração da “Somos Educação”, conversou com A GAZETA e frisou que considera como urgente, principalmente neste momento político do país, que haja a viabilização desse acesso à política para que nomes de qualidade tenham um amparo e o ímpeto de mudança não fique pelo caminho.

O que o fez criar este movimento?

Desde 2013 a gente veio acompanhando um crescente interesse da população pela política e muita gente entendendo que só vamos conseguir construir um país diferente a partir da mobilização e da participação cada vez maior da sociedade. Por outro lado, temos percebido que grande parte dos agentes políticos tradicionais, mais arraigados, tem dado muito pouco espaço para a renovação de quadros e de práticas. Muito do conceito de criar o RenovaBR foi para oportunizar uma rede de apoio, de sustentação para que pessoas que tradicionalmente não participavam da política pudessem, através desse programa, ter um amparo de treinamento e formação, pois aqui no Brasil isso praticamente não existe. Há instituições de formação das mais diversas possíveis, mas não tem um lugar onde se formam lideranças políticas ou que possam trabalhar em cargos eletivos. O projeto é uma academia de formação de novas lideranças políticas para abrir as portas da política para gente honesta e competente. Hoje, um jovem de 30 anos que deseja concorrer a algum mandato não tem nenhum estímulo a deixar de atuar na área que em atua para candidatar-se, pois o caminho político perdeu a nobreza e o sentido.

Qual foi o perfil das pessoas selecionadas para receber este apoio?

Na seleção, inscreveram-se pessoas dos mais diversos espectros da sociedade. Havia jovens, pessoas mais velhas, poderia ser qualquer um que tivesse o mínimo de base de construção de participação cívica e a intenção de participar do processo político. Em cima disso, construímos um processo seletivo bastante extenso, onde selecionamos, no total, 135 lideranças do Brasil inteiro para participar do processo de formação do RenovaBR. Ela está ancorada em quatro pilares: liderança e autoconhecimento, desafios do Brasil, marketing político e aprofundamento em áreas de interesse, em conjunto com mentores que designamos para o processo de formação. Temos trabalhado para ampliar não só a carga de conhecimento dessas pessoas, mas também deixá-la muito bem ancorada em pilares éticos e ser um representante livre para servir a sociedade. Esta formação já começou, inclusive temos um grupo grande de pessoas do Espírito Santo participando, e vai até junho, totalizando seis meses de curso. Se encerra antes do início das campanhas eleitorais, que é em agosto.

Após contribuir com essa formação, como vão auxiliá-los até a eleição?

A atuação do Renova se restringe ao período de janeiro a julho. Então, a partir do momento em que essas pessoas decidem de fato perseguir suas candidaturas, terão que passar pelas convenções partidárias, que decidem de fato quem serão os candidatos, e vão perseguir seus objetivos sozinhos. O Renova é um programa de formação no período que antecede candidaturas.

Os bolsistas precisam ou podem estar filiados a algum partido? Há alguma recomendação para seguirem por alguma linha partidária específica?

Não temos nenhuma linha política, este é um programa focado nos indivíduos, e os deixa completamente livres para cada um decidir qual estrutura partidária que faça mais sentido com o seu projeto. Não queremos pautar nem ser camisa de força para ninguém, isso cabe aos partidos. Queremos ajudar quem queira participar do processo.

Em breve iniciaremos uma eleição em um momento de total descrédito do sistema político, em que a população de fato exige uma renovação, mas com um sistema eleitoral que ainda favorece a reeleição e aqueles que detêm poder. Como vão ultrapassar essa barreira?

2018 talvez seja um dos anos definidores do tipo de país que vamos poder construir e deixar para os nossos descendentes. Estamos em uma crise brutal entre representantes e representados. De fato há grandes restrições ao processo de renovação política hoje, porque quando você pensa em um candidato novo concorrendo contra um agente que já tenha mandato, estrutura de gabinete, ele está em um compasso muito grande de desigualdade. No Brasil há um paradoxo: de um lado, a população pedindo a renovação política talvez no maior nível do passado recente, e por outro lado, desafios gigantescos para que a renovação política de fato ocorra. Ao meu ver, a gente vai passar por um processo interessante de maior participação e engajamento da sociedade, e vamos ver como é que a população vai de fato procurar esses novos candidatos, pois de certa forma há também um cansaço com o sistema. Ao mesmo tempo, é preciso garantir que a sociedade vai conseguir encontrar aquelas pessoas que tenham essa correspondência e afinidade com suas ideias, para não continuar votando nas mesmas pessoas. A realidade é que o sistema político se fechou, seja para renovação de quadros, seja no acesso a recursos, o que faz com que esse processo de renovação seja mais dificultado.

No sistema partidário de hoje, as decisões ainda são muito coordenadas pelas cúpulas, geralmente por políticos tradicionais. Como as pessoas formadas pelo Renova vão se tornar competitivas dentro dos partidos, para receber seu apoio?

Há partidos que têm recebido bem essas possibilidades de novas candidaturas, porque entendem que nesta eleição talvez as práticas antigas ainda vão prevalecer, mas percebem que não é algo viável no futuro. As instituições partidárias têm que se modernizar. O cenário de hoje, que possui Fundo Partidário e Fundo Eleitoral, não leva em consideração nenhum tipo de meritocracia ou transparência por parte das legendas. Isso não pode ficar assim. Estamos tentando criar este ano um ponto de inflexão no nível de representação desse país, pois não vamos resolver a política em um ciclo. Determinados partidos ou regiões estão mais abertos, e acolhendo mais a renovação, mas outros vão tentar fazer com que o status quo prevaleça. Vamos ter que esperar o resultado para ver onde a gente chegou.

O Renova também criou um fundo cívico, para que os participantes contem com um bolsa para se manter e não tenham necessidade de trabalhar. Isso recebeu críticas de políticos, que alegaram ser uma forma de burlar a legislação eleitoral. Como rebate este argumento?

O movimento vai muito além de um fundo. É um projeto amplo de preparação de líderes e que está cumprindo um papel que potencialmente deveria ser dos próprios partidos, pois eles possuem recursos do Fundo Partidário para isso. O modelo do Renova está inspirando outras instituições em países como Chile, Peru, Índia, que querem replicar essas instituições de formação de novas lideranças políticas. A gente não é uma instituição que tem como objetivo promover o financiamento, e sim que quer auxiliar pessoas boas e competentes que querem entrar para a política, para que primeiro a gente consiga abrir as portas, e que elas consigam desenvolver um mínimo de viabilidade em um projeto, dado que elas não têm acesso a Fundo Eleitoral, Fundo Partidário, e estão sozinhas nessa jogada.

Qual é o maior problema ou desafio a ser resolvido por meio da política após as eleições?

Um principal ponto dessa eleição é que será uma campanha curta, com poucos recursos, onde a intenção da renovação está muito presente, mas que como ao mesmo tempo no Brasil as eleições passaram a ter um custo gigantesco, a gente se acostumou com isso. Por essa razão, há muita dificuldade para quem está fazendo uma campanha sozinho, sem apoio, conseguir chegar na população, por mais que essa pessoa seja infinitamente melhor do que a pessoa que ocupa um mandato há muitos anos. A principal dificuldade é como dar visibilidade e viabilidade para essa renovação.

Quais são as principais distorções do sistema político?

Quando vemos que os políticos querem sair candidatos e podem potencialmente se eleger só para terem o resguardo do foro privilegiado há um problema grave. A sociedade está pedindo uma relação mais igualitária, de mais acesso. Há uma falta de crença nos partidos, nos representantes. É preciso colocar uma energia nova, trazer gente diferente para inverter essa lógica.

O que considera sobre as principais opções de candidaturas à Presidência da República que estão postas e a forma como estão se colocando?

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Uma característica da eleição deste ano é que o eleitor está procurando algo novo e está tendo dificuldade de encontrar algo que ecoe os seus sonhos e as suas vontades. O Brasil está passando por um momento de fragmentação, em que temos que encontrar o que nos une, e não o que nos separa, para que a gente possa de fato convergir para um país próspero, livre, com redução de desigualdades, e trabalhar em cima disso, na construção de um legado para as próximas gerações. É isso que o Brasil está torcendo que aconteça, mas esse candidato ainda não surgiu, pelo menos no ponto de vista de intenção de votos. A população ainda tenta encontrar as respostas que não está vendo no debate diário e é nesse contexto que tem surgido espaço para o surgimento de ideias e soluções mais radicais.

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