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Game of Thrones da política no Espírito Santo

Game of Thrones da política no Espírito Santo

Série fantasiosa tem no seu enredo características parecidas com tramas políticas reais. O Gazeta Online fez uma brincadeira com o cenário capixaba

Publicado em 8 de fevereiro de 2018 às 20:43

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Como diria Ned Stark: "Brace yourselves", pois as eleições de 2018 estão chegando. Assim como no seriado Game of Thrones, as próximas temporadas no Espírito Santo trazem uma intensa disputa pelo "trono" do Palácio Anchieta.

Enquanto a rainha Cersei Lannister, o bastardo Jon Snow e a mãe de dragões Daenerys Targaryen centralizam a briga em Westeros, o atual governador Paulo Hartung (PMDB), o ex-governador Renato Casagrande (PSB) e a senadora Rose de Freitas (PMDB) são os principais nomes cotados para o governo do Estado.

A série fantasiosa tem no seu enredo características que muito se assemelham a tramas políticas reais, como as que ocorrem em terras capixabas.

Para fazer alguns paralelos, o Gazeta Online conversou com o economista e diretor do Instituto Futura, José Luiz Orrico, e com o escritor capixaba de fantasia Romulo Felippe, autor de "Monge Guerreiro", escolhido o melhor livro nacional em 2017 pelas páginas especializadas no gênero Acervo do Leitor/Reino dos Livros.

Com um perfil traçado dos governáveis para 2018 e dos personagens de Game of Thrones, foi possível fazer comparações com os que mais se parecem no seriado e na vida real.

Foram considerados pontos das trajetórias, nuances dos perfis e os desafios de personagens e lideranças capixabas. Dadas as devidas proporções, nos campos de batalha do Espírito Santo os destinos não são trágicos e violentos como os da série, já que as espadas e as flechas dão lugar ao voto, principal arma utilizada na verdadeira disputa pelo poder.

 

PANORAMA CAPIXABA

No cenário local, Orrico destaca que, assim como a eleição para presidente aguarda uma definição quanto à legitimação ou não da candidatura de Lula (PT), para governador do Espírito Santo, os líderes políticos esperam a decisão do atual chefe do Executivo. Hartung é cotado tanto para a reeleição quanto para compor uma chapa para a Presidência da República.

"O cenário está parado, ninguém se lança, ninguém se desgasta e ninguém cresce entre o eleitorado. A movimentação, por enquanto, fica no bastidor. O plano de quem está na oposição pode ser um caso enfrentem diretamente Hartung, mas muda se o candidato do governo for outro. Ao mesmo tempo, quem está na base hoje pode não estar, a depender do candidato escolhido como sucessor de Hartung", avalia Orrico.

PANORAMA WESTEROSI

O escritor Romulo Felippe reconhece paralelos entre personagens de Game of Thrones, na briga pelo Trono de Ferro, e políticos locais, que disputam "o trono de madeira talhada do Palácio Anchieta". Entre as semelhanças está a dificuldade tanto para os fãs da série quanto para eleitores em discernir se o que impera nos mandatários é "o desejo de ajudar seu povo ou a si próprios".

"O mais interessante nesse paralelo entre a série e a política capixaba é que, em ambas, não existem heróis de verdade. Mesmo os supostos 'mocinhos' não passam por um escrutínio de caráter e trajetória. É sempre mais fácil encontrar e identificar as personalidades caricatas, seja um psicopata 'ditatorial' como Joffrey, que não suporta críticas e oposição, ou até mesmo um bem intencionado, mas desastroso e mal preparado Rob Stark. Mesmo personagens mais 'simpáticos' como Sansa e Arya Stark são motivados por questões pessoais e por vezes egoístas", analisa.

Para escritor, a política "real" é mais sombria. Felippe ainda afirma que, mesmo com todos os recursos narrativos que a ficção traz, a complexidade dos rearranjos políticos na vida real é por vezes mais complexa do que nos livros e seriados.

"Alianças são costuradas ou destruídas conforme a dança eleitoral. Olhando de perto a nossa política e mergulhando nas páginas desta grande obra que é Game of Thrones, por exemplo, percebemos tantos paralelos que não podemos julgar o escritor (George R. R. Martin). Provavelmente ele está certo e nossa política nada mais é do que uma grande fantasia, só que bem mais sombria que a própria ficção”, pontua.

ENTREVISTA COM O AUTOR ROMULO FELIPPE

Como a série aborda a política em seu enredo? Há semelhanças entre as articulações e disputas pelo poder em Game of Thrones, ambientada na Idade Média, e a política brasileira atual?

Eu diria que a política é a essência de Game of Thrones. Não à toa o autor George R.R. Martin buscou inspiração na Guerra das Duas Rosas, em uma dividida e ameaçada Inglaterra medieval. Mas a ficção de Martin vai além e retrata, com lealdade, os bastidores da política interna dos países – com similaridades explícitas com os personagens políticos brasileiros. Westeros retrata a política como poucas séries ou livros fazem e demonstra que somos governados por poucos. Mas o que os mesmos governantes, que se encontram no poder, realizam com suas posições é bem diferente e passível de análise.

E na política capixaba, vê algum paralelo entre os personagens e os políticos locais?

Sem dúvida alguma. Há uma disputa insana nos bastidores na busca pelo trono de madeira talhada do Palácio Anchieta. E isso passa por estratagemas tramados pelos corredores obscuros da política. O mais interessante nesse paralelo entre a série e a política capixaba é que, em ambas, não existem heróis de verdade. Mesmo os supostos "mocinhos" não passam por um escrutínio de caráter e trajetória.

É sempre mais fácil encontrar e identificar as personalidades caricatas, seja um psicopata "ditatorial" como Joffrey, que não suporta críticas e oposição, ou até mesmo um bem intencionado, mas desastroso e mal preparado Rob Stark. Mesmo personagens mais "simpáticos" como Sansa e Arya Stark são motivados por questões pessoais e por vezes egoístas. Difícil discernir se impera em nossos mandatários o desejo de ajudar seu povo ou a si próprios.

Como você vê essa trama política ganhando mais espaço em séries de sucesso, como Game of Thrones, The Crown, House of Cards, etc?

A política sempre esteve enraizada na história da humanidade, de um jeito ou de outro. E, infelizmente, quase sempre da pior forma possível. As séries, na verdade, aproveitam o interesse do telespectador pela podridão do tema em si. Esse interesse foi despertado pelo brasileiro nos últimos anos, embora sua descrença pelos políticos só aumente a cada dia.

No caso de GOT e na vida real capixaba, às vezes alguns regentes fazem um mínimo para manter as aparências e uma boa imagem frente às notícias que podem chegar pelas asas de dragões. Há a exceção da esperança utópica na "mãe dos dragões" Daenerys Targaryen, que visa instaurar uma monarquia esquecida em favor dos oprimidos. Quanto sangue, porém, ela derrama no caminho? É válido tudo para chegar ao poder? Os fins justificam os meios? O ponto de equilíbrio talvez se encontre em Jon Snow, um "bastardo" que veio do povo e, por isso, o único legítimo candidato ao trono, segundo os mais oprimidos. Mas apenas fazer parte do meio o capacita para isso? Onde estão os méritos e as qualidades necessárias uma vez no poder? Em contrapartida, Tyrion Lannister, que é um nobre mas que foi marginalizado em sua própria casa, é capaz de se sensibilizar pelos menos favorecidos. Em todos esses personagens a arte imita a vida política com perfeição.

Analistas e pesquisas apontam que as pessoas têm cada vez mais descrença na classe política, principalmente após as denúncias da Operação Lava Jato. Acha que pode ser um fator para, de alguma forma, esse arco político começar a virar tendência no entretenimento?

Se analisarmos com calma séries como House of Cards, apesar das semelhanças, são bem mais amenas que a realidade política brasileira. Aqui, a podridão demonstrada pela Lava Jato, por exemplo, é nitidamente maior, assim como os rearranjos políticos nos bastidores. Alianças são costuradas ou destruídas conforme a dança eleitoral. Olhando de perto a nossa política e mergulhando nas páginas desta grande obra que é Game of Thrones, por exemplo, percebemos tantos paralelos que não podemos julgar o escritor. Provavelmente ele está certo e nossa política nada mais é do que uma grande fantasia, só que bem mais sombria que a própria ficção.

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