O deputado federal Felipe Rigoni tornou-se alvo de um processo no PSB, cujo resultado pode ser sua expulsão, somente após contrariar o partido e votar favoravelmente à reforma da Previdência. No entanto, esse voto esteve longe de ser o primeiro a descontentar a legenda. Mais da metade dos votos que o capixaba deu em plenário contrariaram a orientação partidária.
A "infidelidade" com sua sigla é maior até que a da deputada federal Tabata Amaral, do PDT de São Paulo. Ambos são do movimento Acredito e exercem mandatos pela primeira vez. Ela está entre os oito pedetistas politicamente suspensos do partido por não terem acolhido a orientação do PDT de votar contra a reforma previdenciária.
As constatações estão em levantamento publicado neste domingo (21) pelo jornal "O Estado de São Paulo". Foram analisados todos os votos dos 19 deputados e deputadas que contrariaram seus partidos na votação da reforma da Previdência 11 do PSB e oito do PDT.
No primeiro mandato após vencer a primeira eleição que disputou, Rigoni esteve presente em 107 votações para as quais houve orientações do partido à bancada socialista. Em 58 delas, posicionou-se de maneira contrária à orientação. Significa dizer que em 54% das votações não manifestou-se como o partido gostaria.
O RANKING
Dos 19 dissidentes na votação da reforma da Previdência, Rigoni é o segundo mais infiel ao partido, segundo o levantamento do "Estadão". Apenas Rodrigo Coelho (PSB-SP) foi mais vezes infiel à sigla. Foi contra a orientação 65 vezes, em 118 votações que participou e em que existiram orientações partidárias à bancada. Ou seja, em 55% das votações.
O percentual de infidelidade de Tabata Amaral ao PDT é de 43%. Ela divergiu do partido 32 vezes e votou como a liderança pedetista orientou em outras 42 oportunidades.
O QUE ELE DIZ
Procurado pelo Gazeta Online para comentar os percentuais, Felipe Rigoni manifestou-se por meio da assessoria de imprensa. Em nota, disse que analisa "todos os argumentos técnicos apresentados pelo partido antes de cada votação", mas a decisão sobre seus votos leva em conta também "evidências científicas e análise do contexto local".
"Por meio do aplicativo 'Nosso Mandato' Rigoni tem acompanhado a opinião dos eleitores, que registram alto índice de aprovação aos posicionamentos do deputado", diz a nota. Após votar a favor da reforma, ele disse que votou por convicção.
OUTRO DEPUTADO
Também deputado federal pelo PSB do Espírito Santo, Ted Conti, assim como Rigoni, divergiu do partido e votou a favor da reforma da Previdência. Portanto, os votos dele em plenário também foram analisados pelo "Estadão".
Em apenas 14% das vezes ele contrariou o partido. Foram 17 votos contra a recomendação partidária e 109 como o PSB orientou. Entre os dissidentes da Previdência, o grau de infidelidade de Ted Conti é maior apenas que o de Flávio Nogueira (PDT-PI), infiel em 9% de seus votos.
Procurado neste domingo (21) para comentar seus critérios, Ted Conti não foi localizado. O presidente do PSB no Espírito Santo, Carlos Roberto Rafael, também não atendeu à reportagem.
"TENSÃO EVIDENCIA NOVAS CARACTERÍSTICAS"
O cientista político Fernando Pignaton observou que a votação da reforma da Previdência evidenciou novas características nos movimentos de centro-esquerda no país e também nos de centro-direita.
Mais de 30% das bancadas de PSB e PDT votaram a favor da reforma previdenciária na Câmara. Os deputados que não seguiram a orientação desses partidos podem ser resultado dessa nova tensão, diz o analista.
"O PDT, por exemplo, faz esforço para se afirmar como partido de centro-esquerda, mas com pauta aproximada do nacional-desenvolvimentismo. O fato é que o PDT não abarca toda a movimentação que tem da esquerda para o centro, onde está tendo uma aglutinação. E aí ele não dá conta, não consegue ser leito de toda a reflexão que vai da esquerda para o centro. Há um movimento", comentou Pignaton.
Na centro-direita, ele observa o mesmo fenômeno, com deputados, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e com grupos como o Movimento Brasil Livre afastando-se do extremo do espectro político.
Diante da infidelidade de congressistas às orientações partidárias, Fernando Pignaton pontua que ela pode ser negativa.
"Alguns partidos têm flexibilidade total, são empreendimentos políticos. Outros têm uma base programática. Partidos programáticos são obrigados a conviver com certa flexibilidade, mas, no geral, isso é muito ruim. É uma distorção que é mais um sintoma de que tem que haver reformulação do sistema político, tem que ter uma reforma política, com fortalecimento dos partidos como diretriz", disse o cientista político.
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