Publicado em 10 de janeiro de 2020 às 22:43
No dia 8 de maio de 2019, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) bateu à porta da prefeita de Presidente Kennedy hoje afastada do cargo Amanda Quinta (sem partido). Lá dentro, uma reunião suspeita com a presença de secretários e funcionários municipais e o empresário Marcelo Marcondes Soares, que depois firmaria um acordo de colaboração premiada. >
Onze segundos após a chegada dos agentes, Marcelo foi para uma casa vizinha para esconder parte do dinheiro que tinha levado para o pagamento de propina. O esconderijo: uma máquina de lavar roupas. >
O episódio inusitado é parte de uma trama que começou muito antes daquele dia. O empresário, a própria Amanda Quinta, além do companheiro dela, o ex-secretário José Augusto de Paiva, acabaram entre os presos na Operação Rubi. >
Marcelo decidiu contar em delação como foi a aproximação com os agentes públicos e a negociação para pagamento de vantagens indevidas a José Augusto. Os promotores de Justiça que atuam no Gaeco o ouviram no dia 31 de maio do ano passado, das 10h às 15h30, como registra o termo de colaboração. >
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O caso, que tramita na 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), sob relatoria do desembargador Fernando Zardini, não está mais sob sigilo. >
Amanda e José Augusto, assim como o próprio delator, não estão mais presos. Eles foram denunciados pelo Ministério Público Estadual e ainda não houve o julgamento do caso. O que você vai ler aqui são as alegações do empresário. >
A empresa Limpeza Urbana, da qual Marcelo Marcondes Soares e o irmão dele, José Marcondes Soares, são sócios, participou de um processo de licitação da Prefeitura de Presidente Kennedy durante a gestão de Amanda Quinta. A empresa foi a vencedora pelo critério de melhor preço. >
Marcelo disse aos promotores de Justiça que atuam no Gaeco que, após o resultado da licitação, ele se encontrou com José Augusto em um restaurante. José Augusto era secretário de Desenvolvimento Econômico de Kennedy. Ele é companheiro de Amanda e era considerado como a pessoa que realmente comandava a prefeitura. >
"José Augusto solicitou ao colaborador um pagamento mensal de valor correspondente a 15% dos pagamentos efetuados pela Prefeitura de Presidente Kennedy à empresa Limpeza Urbana no contrato a ser assinado. Após protestos do colaborador as partes ajustaram o percentual de 10% a ser pago diretamente a José Augusto e que o pagamento ocorreria na mesma data em que a prefeitura efetuasse o pagamento à empresa. Ficou acordado, ainda, que, em contrapartida, José Augusto não atrapalharia a execução do contrato", registra o teor da delação premiada. >
No dia da assinatura do contrato, José Augusto e Amanda exigiram, ainda de acordo com o empresário, "que todos os empregados contratados pela Limpeza Urbana para a prestação dos serviços naquele município fossem por eles indicados". >
O repasse do dinheiro da propina, ainda segundo o termo de delação do empresário, inicialmente era feito no escritório da empresa em Kennedy, "ou em estradas, postos de gasolina e outros locais ermos". Após três ou quatro anos de contrato "os pagamentos passaram a ser realizados na casa da prefeita Amanda". >
Em algumas ocasiões, em que José Augusto estava viajando, Marcelo diz que entregou o dinheiro à própria Amanda Quinta. >
"Tais encontros sempre foram intermediados por Leandro Rainha (então secretário municipal de Meio Ambiente), o qual também passou a exigir do colaborador o pagamento de valores mensais. A partir daí, além dos valores que eram mensalmente pagos a José Augusto, o colaborador passou a efetuar pagamentos mensais a Leandro Rainha. Tais pagamentos não tinham valor fixo, variando entre R$ 3.000 e R$ 4.000, sempre pagos em espécie." >
Depois que Leandro deixou de ser secretário de Meio Ambiente e passou a ser titular da pasta de Assistência Social, os repasses continuaram. O secretário que o substituiu no Meio Ambiente, Maycon Valpasso Almeida, ainda de acordo com o delator, "também passou a exigir o pagamento de valores". >
"O colaborador, por exemplo, custeou a reforma do telhado da residência de Maycon, que custou R$ 10.000 que foi paga e duas parcelas de R$ 5.000. Maycon também passou a indicar nomes de pessoas que deveriam ser contratadas pela empresa Limpeza Urbana". >
"José Augusto afirmou ao colaborador por mais de uma vez que parte dos valores que lhe eram pagos pela empresa Limpeza Urbana era repassada a vereadores do município para que a chefia do Poder Executivo mantivesse o controle da Câmara de vereadores. O colaborador tem ciência, outrossim, que alguns dos nomes que José Augusto indicava para fins de contratação pela empresa Limpeza Urbana eram, em realidade, indicações dos vereadores, os quais, muitas vezes, o indagavam a razão de determinada pessoa ainda não ter sido contratada." >
O relatório de missão elaborado pela inteligência a Polícia Militar, que consta na ação penal da Operação Rubi referente aos fatos narrados em Presidente Kennedy, registra a análise de imagens de câmeras de segurança da casa de Amanda Quinta. No dia 08 de maio de 2019, quando a Rubi foi deflagrada, as câmeras mostram a chegada das pessoas que participariam da reunião, o início do cumprimento do mandado de busca e apreensão e o momento em que Marcelo Macondes Soares entra em uma casa vizinha. Ele mesmo contou, em depoimento, que o objetivo era esconder parte do dinheiro em uma máquina de lavar.>
Após firmar o acordo de delação premiada, que foi homologado por Zardini, o empresário deixou a prisão, em junho. >
Advogado de Amanda Quinta e José Augusto, Altamiro Thadeu Frontino Sobreiro diz que não teve acesso à delação premiada do empresário e que, por isso, não pode fazer comentários a respeito. >
Ludgero Liberato, que defende Leandro Rainha, diz que o cliente é inocente: Apesar de já haver requerido expressamente o acesso à delação de Marcelo, até o presente momento a defesa de Leandro não obteve acesso ao material". Mesmo assim, enfatiza que a colaboração premiada não prova nada e que caberá ao colaborador comprovar aquilo que disse. Reitera, por fim, a inocência de Leandro, que ficará provada ao final do processo. >
A Gazeta também tentou contato com Maycon Almeida, mas até a publicação desta reportagem, não obteve retorno. Estamos à disposição para a manifestação do ex-secretário ou da defesa dele.>
A reportagem também não conseguiu falar com o advogado de Marcelo Marcondes Soares, Roberto Butter. >
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