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Procurado: advogado é acusado de repassar ordens de traficante preso para crimes no ES

Procurado: advogado é acusado de repassar ordens de traficante preso para crimes no ES

O advogado Cláudio Salvador Fiorot, de 46 anos, é apontado nas investigações da Polícia Civil como ponte entre um traficante preso e criminosos e seria membro de uma quadrilha responsável por executar um jovem por engano este ano, na Serra

Publicado em 25 de agosto de 2020 às 13:53

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Serra
O advogado Cláudio Salvador Fiorot foi quem levou de dentro do presídio a ordem de execução dada pelo traficante Ramon de Aguiar Mello. (Divulgação/Polícia Civil)

"A maior investigação que já participei estando na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa da Serra". Estas foram as palavras do delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da DHPP do município, para definir a conclusão das investigações da morte de Douglas Ferreira Caser, de 26 anos, executado na noite do dia 11 de junho, no bairro Parque Residencial Laranjeiras, na Serra. Segundo as investigações da Polícia Civil, as ordens para a execução do jovem partiram de um presídio e foram repassadas para criminosos por um advogado, que está foragido.

Após um trabalho de mais de dois meses de investigação, cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão, segundo explicou o delegado, a polícia desmantelou uma organização criminosa violenta – e fortemente associada ao tráfico de drogas na Grande Vitória – que contava com nove pessoas

Procurado - advogado é acusado de repassar ordens de traficante preso para crimes no ES
Homem de 26 anos morreu após carro ser baleado na Serra
O Honda Civic dirigido por Douglas foi atingido por 70 tiros na noite do dia 11 de junho, no bairro Parque Residencial Laranjeiras, na Serra. (Internauta)

Entre os membros da quadrilha, está o advogado criminalista Cláudio Salvador Fiorot, de 46 anos, que é apontado pela polícia como o responsável por transmitir ordens de homicídios e tráfico de drogas de dentro do Centro de Detenção Provisória de Viana (CDPV-2), onde se encontra preso o traficante Ramon de Aguiar Mello, de 27 anos. Foi ele quem ordenou a execução de Douglas que, segundo as investigações, morreu por engano. O criminalista é considerado foragido desde a última sexta-feira (21).

"Foi uma das prisões mais importantes e difíceis para elucidar. Nessa organização criminosa existe a figura de um advogado. Faço questão de frisar que ele não representa a categoria e para mim ele não é advogado, não representa a advocacia capixaba. Fazer o que ele fez, uma interlocução entre o autor intelectual e o material, determinando, inclusive mortes, isso não é advocacia. Respeitamos os advogados do Espírito Santo, mas estes profissionais não podem ficar no meio deles. Sai da esfera de uma função de advocacia e se junta a uma organização criminosa. Ele, inclusive, está com prisão temporária decretada e encontra-se foragido no momento", salientou o chefe da Polícia Civil do Espírito Santo, delegado José Darcy Arruda.

ORDEM PARA MATAR

De dentro do Complexo Prisional de Viana, Ramon – que está preso desde 2017 por um homicídio ocorrido durante a paralisação da Polícia Militar no mesmo ano – pediu que o advogado Claudio Fiorot levasse a ordem de execução de uma pessoa. Na investigação a polícia concluiu que o criminoso queria recuperar o controle do tráfico no bairro André Carloni, na Serra, porém havia uma pessoa que o "atrapalhava". No momento da execução, Douglas Ferreira Caser foi confundido com essa pessoa que seria o alvo e acabou brutalmente assassinado.

Serra
Douglas Ferreira Caser foi morto por engano segundo as investigações da DHPP. Ele foi alvejado por 34 disparos, ainda assim conseguiu dirigir até o Hospital Metropolitano. (Divulgação/Polícia Civil)

No dia 11 de junho – data do crime – o advogado já havia repassado as informações aos comparsas de Ramon. Douglas Rodrigues Ribeiro, de 41 anos, conhecido como "DG", então planejou a execução e arquitetou todo o crime. Douglas, que foi detido no dia 24 de junho pela DHPP, é apontado como braço direito e homem de confiança de Ramon.

PARCERIA NO CRIME

Com o plano de execução já traçado, Douglas pediu apoio a Cláudio Augusto dos Santos, chefe do tráfico do Morro da Garrafa, em Vitória. "Blake", como é conhecido, já possui passagem pela polícia e forneceu o armamento e liberou dois comparsas para que executassem o traficante rival.

O advogado Cláudio Salvador Fiorot foi quem levou de dentro do presídio a ordem de execução dada por Ramon(Divulgação/Polícia Civil)

"Esse crime ocorreu porque o Ramon queria controlar novamente o tráfico no bairro André Carloni, na Serra. Para isso ele pediu apoio de parceiros do Morro da Garrafa, na condição de que se conseguissem retomar o controle. O Morro da Garrafa teria participação nos lucros do tráfico de lá. Por isso que o "Blake" forneceu o armamento, munição e dois dos liderados dele para o crime", disse Sandi Mori. O chefe do tráfico na região é um dos foragidos, assim como o advogado.

EMBOSCADA E 70 TIROS

Neste momento da história surge a figura do motorista de aplicativo Paulo Henrique Nascimento dos Santos, de 25 anos. Também membro da organização criminosa liderada por Ramon, ele armou um encontro com o jovem que viria a ser executado na noite do dia 11. Paulo Henrique teve ainda o papel de identificar, para os criminosos, o Honda Civic prata onde estavam Douglas e a mulher dele.

A ação criminosa ocorrida em um posto de combustíveis na Serra poderia ainda ter sido muito pior, visto que o plano da organização criminosa era executar Douglas em uma lanchonete localizada na Reta da Penha, porém precisou mudar o combinado, como detalhado pelo titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa da Serra. 

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Paulo Henrique Nascimento é motorista por aplicativo e foi quem forjou o encontro com Douglas no local do crime. (Divulgação/Polícia Civil)

"A vítima alegou que tinha um compromisso na Serra e disse que aguardaria pelo Paulo Henrique no posto, onde ocorreu o crime. Lá ele iria negociar drogas com o Paulo Henrique. Após a negativa do Douglas em esperar na lanchonete, o motorista de aplicativo se deslocou até o posto e lá esperou por ele até o momento do crime", disse o delegado.

Rodrigo Sandi Mori explicou que à espera do homem assassinado estava dupla de executores formada por Lucas Soares Martins, conhecido como Cara de Urso, de 24 anos, e Paulo Renato Micaella dos Anjos Pereira, o PR, de 20 anos. Fortemente armados, eles abriram fogo contra o Honda Civic e dispararam 70 vezes contra o veículo dirigido por Douglas, que foi atingido por 34 disparos.

Delegado Rodrigo Sandi Mori
O delegado Rodrigo Sandi Mori, da DHPP da Serra, classificou esta investigação como a mais complexa dele à frente da delegacia. (Fernando Madeira )

Um dos responsáveis por fornecer as armas dos crime, Gabriel Augusto  dos Santos, o "Blake", e outro por puxar o gatilho no crime, Lucas Soares Martins, estão foragidos. Os dois são moradores do Morro da Garrrafa, em Vitória.

Já Paulo Renato, que foi preso no dia 24 de junho, pelo assassinato  também era procurado pela Polícia Federal por ter envolvimento em assaltos a agências dos Correios no Estado. De acordo com as investigações da DHPP, trata-se de um dos criminosos mais procurados do Espírito Santo.

NO HOSPITAL

Alvejado por 34 disparos, Douglas conseguiu dirigir por cerca de 500 metros entre o posto até o Hospital Metropolitano, que fica na Avenida Eldes Scherrer Souza. No local, ele deixou a mulher, que também foi atingida por oito tiros. Na sequência, o jovem então saiu com o carro, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no canteiro central que divide as pistas.

"A mulher foi atingida por oito disparos, sendo um deles na cabeça. Ela sobreviveu, quatro dias depois recebeu alta e prestou depoimento. Em conversa com o Dr. Arruda (delegado-chefe da Polícia Civil) e com a promotoria, decidimos divulgar o nome de todos os envolvidos, pois todos são réus no processo. A denúncia já foi recebida, o advogado está foragido, não há segredo de justiça no processo e a lei de abuso de autoridade nos permite que divulguemos nome, foto, idade e a conduta de cada um dos indivíduos", disse Sandi Mori.

OPERAÇÕES E BUSCAS

Dos nove envolvidos, oito já foram identificados, sendo que cinco deles já se encontram detidos. As prisões são resultado de pelo menos quatro grandes operações policiais nos últimos dois meses na Grande Vitória, de acordo com o delegado.

"As operações ocorreram no dia 24/06, 01/07, 24/07 e 15/08. Infelizmente na operação no Morro da Garrafa não conseguimos prender os dois executores, porém demos um desfalque grande no tráfico de lá, pois foram apreendidas muitas armas de fogo e drogas no dia 24 de julho. Depois voltamos lá no último dia 15, apreendemos mais armas, mas ainda não os executores. Mas o recado que damos é que enquanto não prendermos todos esses indivíduos, nós não vamos sossegar", garantiu o delegado.

Serra
Além das prisões dos envolvidos, a DHPP também apreendeu armas, munições, drogas e dinheiro do tráfico da região do Morro da Garrafa. (Divulgação/Polícia Civil)

Outra pessoa detida nesta grande investigação foi Arthur da Silva do Nascimento, de 25 anos. O "2T", como é também conhecido foi preso na ação realizada no dia primeiro de julho e foi responsável por dirigir o carro que levou os dois executores ao local do crime. Por fim, a polícia ainda informou que uma pessoa não identificada e que participou da execução também está foragida.

MPES DENUNCIOU

O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça Criminal da Serra, denunciou oito integrantes do grupo criminoso voltado ao tráfico de drogas no bairro André Carloni, localizado no município.

O MPES requer que os réus sejam submetidos a julgamento pelo Tribunal Popular do Júri e sejam condenados pelos crimes de homicídio qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa. Também foi pedida a prisão preventiva dos denunciados, o que já foi deferido pela Justiça, com a aceitação da denúncia ministerial.

OAB

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O delegado Rodrigo Sandi Mori ressaltou que a Ordem dos Advogados seccional Espírito Santo (OAB-ES) foi informada sobre o mandado de prisão para o criminalista envolvido no crime e que o mesmo encontra-se foragido.

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