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Por telefone, líder do PCC diz controlar presídios do Espírito Santo

Por telefone, líder do PCC diz controlar presídios do Espírito Santo

Telefonema interceptado pela Polícia Civil de São Paulo revelou que penitenciárias do Espírito Santo estão sob o domínio da facção paulista

Publicado em 2 de agosto de 2018 às 01:50

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Integrantes do PCC em presídio de São Paulo: domínio se espalha pelo país. (Alex Silva/AE)

Um telefonema interceptado pela Polícia Civil de São Paulo revelou que penitenciárias do Espírito Santo estão sob o domínio da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) através de contatos feitos pelo celular.

A informação foi divulgada nesta quarta-feira (1) pelo portal Uol. Segundo a reportagem, são 38 presídios capixabas controlados pelo PCC. No entanto, o Estado possui, hoje, 35 unidades prisionais e não há registro de atividade organizada de facções em nenhuma delas, segundo a Secretaria Estadual de Justiça (Sejus).

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que confirmou que houve investigações da Polícia Civil, desencadeando a Operação Echelon, em conjunto com a Secretaria da Administração Penitenciária e o Ministério Público.

A ação resultou em 65 pessoas presas, sendo dois em flagrante e 63 por mandados. Porém, mais detalhes da investigação não foram divulgadas. “As informações do relatório foram compartilhadas com os setores de inteligência das regiões norte e nordeste, citadas pelos criminosos nas escutas”, completou a nota.

De acordo com a apuração do portal Uol, a investigação interceptou um telefone do detento Filipe Augusto Soares, conhecido como Assassino, durante um diálogo telefônico com um comparsa identificado como Canela.

DE LONGE

O assassino está preso na Penitenciária de Pacaembu, em São Paulo, e integra a cúpula da facção. No telefonema, interceptada pelos investigadores da Operação Echelon no dia 2 de novembro de 2017, Assassino fala que “o sistema prisional é máquina de fazer PCC”.

Em outra ligação, ele diz à Canela que existem 38 prisões no Espírito Santo sob o domínio do PCC e convida o comparsa para ser o “Geral do Sistema (chefe)” nos presídios capixabas, completando que se ele precisar de advogado, o profissional chegará na hora necessária.

Durante uma das fases da operação, investigadores encontraram documentos em posse de Assassino em sua cela. Entre eles, estavam anotações com nomes de membros do PCC e valores correspondentes a pagamentos e dívidas de cada um dele.

RECRUTADOS

Na última sexta-feira (29), o jornal Folha de São Paulo divulgou que a facção criminosa PCC teria pelo menos 267 integrantes no Espírito Santo. Atualmente, o grupo tem 22 mil filiados fora de São Paulo. Paraná é o estado com mais integrantes, que conta com2.961 filiados.

O número de criminosos filiados ao PCC no ES é superior ao do vizinho Rio de Janeiro, que, segundo os dados, tem 50 bandidos registrados na facção.

Para recrutar criminosos, com a intenção de aumentar o número de filiados em todo o Brasil, a facção estaria realizando a campanha “adote um irmão”. De acordo com as apurações da Folha de São Paulo, os criminosos pretendem recrutar uma média mensal de mil novos integrantes.

BATISMO

Ao aceitar, o criminoso é submetido a um “'batismo”' pelo grupo. O ato é realizado em um cerimônia simples, feita muitas vezes por telefone, onde o bandido aceita as regras da facção, e também as consequências. O filiado responde um questionário com seis perguntas. Ao ser aprovado, o bandido entra para o chamado “Livro Branco”.

“CONTROLE DOS PRESÍDIOS É RIGOROSO”, DIZ SECRETÁRIO

A Secretaria Estadual de Justiça (Sejus) informou que não possui nenhuma informação sobre criminosos membros do PCC, presos em São Paulo, comandando unidades prisionais capixabas. O secretário de Justiça Walace Tarcísio Pontes garantiu, inclusive, que há um grande controle nas 35 penitenciárias do Espírito Santo para impedir o uso de celulares.

“Nos últimos anos não houve registros de uso de celulares dentro dos presídios capixabas para a prática de crimes. Desenvolvemos uma diretoria de inteligência e há dezenas de servidores voltados exclusivamente para as atividades inteligência prisional, com a função de rastrear isso. Se com toda essa atuação não conseguimos levantar dados que provem algo, fica difícil comentar”, afirmou o secretário.

Pontes completou que casos de apreensões com detentos reduziram muito nos últimos anos após Sejus optar por não deixar nenhum material entrar nas unidades.

“Acabamos com os malotes, entregas de materiais, medicamentos... Fazemos revistas semanais em todas as celas. Quando um criminoso entra no sistema carcerário capixaba, ele não tem a possibilidade de ter contato por celular”, disse. O secretário informou que está em contato o com a Polícia Civil de São Paulo e nunca recebeu informações sobre ligações de presos paulistas para presos capixabas. Procuradas, a Polícia Civil e a Sesp informaram que apenas a Sejus falaria.

“GRUPOS DAQUI ADOTAM A MESMA DOUTRINA DO PCC”

"Há resistência dos bandidos ao nome da facção de SP por medo de perder território", disse Sérgio Alves Pereira, promotor de Justiça. (Marcelo Prest | GZ)

O promotor de Justiça Sérgio Alves Pereira, do Ministério Público do Espírito Santo, afirmou que facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, influencia nas ações dos criminosos capixabas.

Segundo o promotor, a influência do PCC nas unidades prisionais do país é fato confirmado em todos os estados. Esse contato tem feito com que criminosos capixabas adotem as mesmas doutrinas da facção paulista, mesmo que ainda haja, entre os bandidos, uma resistência em usar o nome do Primeiro Comando da Capital.

“Em São Paulo, o estado já é refém do PCC ao ponto de não ter mais controle nas unidades. Aqui, o Estado ainda domina o sistema. Mas é fato que o PCC possui contato com presos e criminosos capixabas. Tanto que já há grupos criminosos daqui adotando a mesma doutrina e modo de agir do PCC. Há uma resistência dos bandidos ao nome da facção paulista. Eles preferem criar seus próprios nomes, como ‘Trem Bala’, por medo de perderem seus territórios. Mas as regras e doutrinas são as mesmas”, disse.

O promotor disse ainda que em várias operações do Ministério Público, em parceria com as polícias, tem sido verificado a influência do PCC no Espírito Santo.

“Embora não haja informações sobre detentos capixabas com celulares, eles se comunicam seja quando o preso sai em regime semiaberto, seja através de visitas, ou em qualquer outra oportunidade que o preso pode ter acesso à um instrumento de comunicação. Essa sintonia existe até mesmo para os traficantes capixabas conseguirem comprar drogas fora do País. Com a intermediação do PCC, eles ganham mais credibilidade para as compras”.

REPORTAGEM

Em 2016, o publicou a reportagem especial “As Leis do Tráfico”, que contou que o PCC lidera o tráfico de drogas em Vitória desde 2006. A informação é de uma investigação feita pelo MPES.

Segundo a reportagem, bairros de Vitória, principalmente no Complexo da Penha, são comandadas por duas quadrilhas que são ramificações do PCC.

Na época, o secretário de Estado da Segurança da Pública, André Garcia, afirmou não ter conhecimento da existência desse tipo de organização atuando no Estado.

SAIBA MAIS

Facção é de SP

- O PCC (Primeiro Comando da Capital) foi fundado em 31 de agosto de 1993 por oito presidiários, no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté, até então considerada a prisão mais segura de São Paulo.

- O grupo comanda rebeliões, assaltos, sequestros, assassinatos e narcotráfico, criando leis próprias, com regras e consequências.

- A facção atua principalmente em São Paulo, mas também está presente em 26 estados brasileiros, de acordo com a Polícia Civil paulista. O grupo atua também em países próximos, como Bolívia, Paraguai e Colômbia. Possui cerca de 22 mil filiados fora de São Paulo, sendo considerada uma das maiores organizações criminosas do país.

- O PCC tem pelo menos 267 integrantes no Espírito Santo, segundo a Polícia Civil de São Paulo.

- Um telefonema interceptado pela polícia paulista revelou que unidades do ES estão sob o domínio do PCC através de contatos feitos pelo celular. A informação foi divulgada ontem pelo portal Uol.

- Ao todo, segundo a reportagem do portal Uol, são 38 presídios capixabas controlados pelo PCC. No entanto, o Estado possui, hoje, 35 unidades prisionais e não há registro de atividade organizada de facções em nenhuma delas, segundo a Secretaria Estadual de Justiça (Sejus).

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- O promotor de justiça Sérgio Alves Pereira, do MPES, disse que embora não haja informações sobre detentos capixabas com celulares, o PCC tem contato com os presos do Espírito Santo e influencia nas ações dos criminosos.

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