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'Essa ferida nunca vai sarar', diz pai de morta com fio de carregador

"Essa ferida nunca vai sarar", diz pai de morta com fio de carregador

Jovem foi morta pelo namorado com um fio de carregador celular no pescoço. Quase cinco meses depois, filha de 2 anos, que viu o crime, chora e chama pela mãe

Publicado em 19 de julho de 2018 às 14:26

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Companheiro é suspeito de matar jovem em Vila Velha. (Reprodução/Acervo Pessoal)

"Ajuda a mamãe, ajuda a mamãe". Para Anderson Pereira dos Santos, de 41 anos, é doloroso conviver com as memórias da neta, de apenas dois anos. A menina não esquece as cenas que viu na madrugada de 4 de março deste ano, quando a mãe, Andrielly Mendonça Pereira dos Santos, 20 anos, foi morta pelo namorado com um fio de carregador de celular no pescoço. A primeira audiência do caso acontece na tarde desta quinta-feira (19), no Fórum de Vila Velha. Para a família de Andrielly, é mais um dia para reviver as lembranças tristes daquele 4 de março.

Quase cinco meses depois da morte da mãe, a criança ainda espera Andrielly voltar e chama por ela no portão. Para tentar amenizar o sofrimento da neta - que viu todo o crime cometido por Rubens Almeida Júnior -, Anderson decidiu deixar a menina sobre os cuidados da avó materna, que mora em Guarapari. Como Andrielly ia pouco à casa da mãe, lá as lembranças são menores.

"Numa conversa com minha mãe, nós criamos a Andrielly, entramos em acordo de deixar a bebê com a avó materna. Como ela (a neta) estava sempre aqui com a mãe, as lembranças aqui são muito fortes. Aqui ela fica o tempo inteiro sempre chamando pela mãe, e a gente viu que isso não estava sendo bom para ela. Mesmo assim não está sendo fácil. Converso com ela por chamada de vídeo e ele vem para cá nos finais de semana. Ela lembra de tudo que aconteceu. Chora pedindo ajuda e diz "mamãe, ajuda mamãe". Ela faz o gesto (de enforcamento) com a mão no pescoço. Ela tem feito acompanhamento com psicólogo também. A gente ainda está sem chão. A ficha não cai. São dias de sofrimento", conta o pai.

Para Anderson, as lembranças também são dolorosas. Madrasta de Andrielly desde que a enteada tinha 6 anos, Odina Mutz dos Santos, de 37 anos, vê de perto o sofrimento do marido.

"A cada dia que passa a gente se segura na tese de que, com o tempo, a dor vai amenizar, mas parece que a cada dia está ficando pior. A saudade é muita. Eu sofro, porque vejo também o sofrimento dele. Não tem um dia que ele não chora, lamenta ou olha as fotos dela. A gente não tem como esquecer", diz Odina.

AUDIÊNCIA NESTA QUINTA

A primeira audiência para ouvir as testemunhas do caso, além do acusado, acontece na tarde desta quinta-feira (19). A família espera por justiça.

"A gente não quer o mal dele, a unica coisa que a gente quer é que ele pague pelo que ele fez. Aqui se faz, aqui se paga. Estamos firmes com Deus, pedindo muito que a justiça seja feita da forma correta e que ele vá a júri popular", afirma a madrasta.

Para o pai, nada trará Andrielly de volta, mas a sociedade merece uma resposta. "Seria um alivio ele ir à júri popular. Eu preciso de uma resposta, a sociedade precisa de uma resposta. É muito doloroso reviver isso tudo. Para mim, como pai, essa ferida nunca vai sarar. Se ele ficar preso mais um dia, mais um ano, mais 200 anos, para mim não faz diferença, não traz minha filha de volta. Mas para a sociedade é um alívio, requer que ele fique preso para que não haja uma outra Andrielly na vida dele, para ele fazer isso de novo", pede Anderson.

O OUTRO LADO

Procurado pelo reportagem do Gazeta Online, o advogado de Rubens, Carlos Henrique Bastos Correa, atendeu a uma primeira ligação e pediu para retornar posteriormente, mas até a publicação da matéria as outras ligações não foram atendidas.

Local do crime no bairro Planalto, em Vila Velha. (Marcelo Prest)

O CRIME

No caso de Andrielly, segundo vizinhos que moram no mesmo prédio, o casal costumava brigar e morava havia três meses no local. Na madrugada do dia 4 de março de 2018, moradores do prédio acordaram ouvindo pancadas. Mas como o barulho era muito alto, acharam que alguém tivesse caído da laje.

Sem saber o nome das pessoas que viviam no apartamento, os moradores começaram a gritar 'vizinho, vizinho', mas ninguém respondia. Em seguida, eles viram Rubens Almeida Júnior saindo da casa de carro com a menina de 2 anos, que é enteada dele. Nesse momento, os moradores tentaram correr atrás do Rubens, mas não conseguiram alcançá-lo.

Depois de ver o homem ir embora, o vizinho chamou a polícia. Ele bateu na porta da casa da jovem, mas ninguém atendeu.  Por uma janela, o morador conseguiu ver o corpo da jovem caído ao lado da cama no quarto da filha dela. 

POSSESSIVO E CIUMENTO

De acordo com Odina Mutz dos Santos, Rubens era ciumento e extremamente possessivo. Mesmo quando ia visitar o pai, Andrielly não podia estar sozinha.

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"A partir do momento que ela começou a namorar com ele, eles viviam lá em casa. Naquela noite, eles ficaram até meia noite lá em casa, para às 6 horas da manhã a gente receber a notícia da morte dela. Ele era muito possessivo, toda vez que ela ia lá em casa ele estava junto. Não deixava ela botar o pé para fora de casa sem ele. Mas a gente sempre acha que com a nossa família não vai acontecer. A gente não esperaria que chegaria a esse ponto. Acho que aconteceu por que ela estava se preparando para deixar ele. Quando vi ela caída lá no chão, notei que tinha uma sacola cheia de roupa dela em cima da mesa e as roupas da filha dela empilhadas em cima da cama, como se ele tivesse arrumando tudo para ir embora", recorda a madrasta.

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