Um adolescente de 16 anos e um jovem, de 23, foram mortos pela Polícia Militar em um prédio no bairro Tabuazeiro, em Vitória, na madrugada desta quinta-feira (12). A corporação disse que os dois teriam apontado armas para os agentes, que revidaram. A versão dos moradores é diferente. Durante a manhã após o ocorrido, manifestantes atearam fogo em objetos na rua que dá acesso ao Morro do Macaco, na mesma região.
Os mortos foram identificados como Maycon, de 16 anos, e Rafael Cardoso Moreira, de 23. O nome completo do adolescente não foi divulgado pela polícia. O capitão Vanderson Almeida, comandante da Força Tática, disse que os dois eram irmãos. Já moradores do prédio disseram que eles eram amigos que moravam na mesma casa.
Segundo a corporação, agentes faziam patrulhamento no bairro para verificar denúncias sobre um traficante armado que estaria fazendo ameaças. "Os militares se deslocaram ao endereço indicado e, no local, dois suspeitos apontaram armas de fogo na direção dos policiais, que revidaram a injusta agressão. Os indivíduos foram baleados e socorridos ainda com vida ao HEUE (Hospital Estadual de Urgência e Emergência, em Vitória), mas não resistiram aos ferimentos e evoluíram a óbito", disse a PM.
A repórter Alice Sousa, da TV Gazeta, esteve no bairro e conversou com moradores, que deram uma versão diferente do fato. Eles disseram que os dois jovens foram mortos dentro de casa, em um quarto. Segundo testemunhas, os policiais chegaram mandando todos entrarem em seus apartamentos. Os agentes teriam se trancado no quarto, com os rapazes, e começado a perguntar sobre uma arma. A dupla disse que não sabia de nenhuma arma, e depois aconteceram os disparos.
"Eles falaram que trocaram tiro, e não tem como. Eles (policiais) falaram: cadê a arma? Eles disseram: não tem arma nenhuma, não, senhor. Eles fecharam as janelas para a gente não ver, ficaram vigiando na minha porta e já começaram só a atirar, depois saíram com o corpo. Nunca teve troca de tiros, não teve. A gente está cansado de eles atirarem, matarem e falarem que trocaram tiros. Até quando vai ser isso? Eles podem vir fazer o trabalho deles, mas tirar a vida dos outros?", disse uma moradora, que pediu para não se identificar, em entrevista à TV Gazeta.
Na manhã desta quinta-feira, moradores atearam fogo em objetos para fechar a rua, em protesto pelas mortes dos jovens. Policiais militares do Batalhão de Missões Especiais (BME) chegaram ao local por volta das 9h50 para dispersar a manifestação. Depois disso, equipes ocuparam a região. Confira imagens:
No boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar consta que os agentes foram até o local verificar a informação de que um suspeito estava andando por prédios da região armado, ameaçando moradores. Esse homem da denúncia já era conhecido pelos agentes, por integrar o tráfico de drogas.
Ainda segundo boletim, quando os policiais chegaram, viram o suspeito armado na janela de um apartamento. Nesse momento, eles entraram no prédio e, segundo o relato dos agentes, o homem apontou a arma para a equipe, e dois policiais atiraram contra ele.
"Simultaneamente, um cabo realizou a varredura de outro cômodo, momento em que também observou um indivíduo em posse de arma de fogo e apontado em sua direção, sendo necessário realizar cinco disparos para repelir a injusta agressão atual e iminente", diz o documento da polícia. Esse segundo atingido é o adolescente.
Os dois baleados foram levados para o hospital, mas não resistiram. Em entrevista à TV Gazeta, o capitão Vanderson Almeida falou sobre o material apreendido: "Com ambos foram apreendidas pistolas 9mm com seletor de rajada, rádio comunicador sintonizado na frequência do tráfico local. A gente estava lá devido a um Disque-Denúncia, e não era um só, eram vários, um pedido de socorro daquela comunidade para a Polícia Militar".
A corporação afirmou que Rafael tinha mandado de prisão em aberto, histórico criminal que inclui mais de 10 ocorrências como roubos e outros crimes relacionados ao tráfico de drogas. Já o adolescente, segundo a PM, tinha passagens por tráfico, roubo a uma farmácia e lesão corporal.
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso seguirá sob investigação do Serviço de Investigações Especiais (SIE) do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP), que investiga ocorrências de confronto com agentes de segurança do Estado.
Os corpos foram encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML), da Polícia Científica, para serem necropsiados e, posteriormente, liberados para os familiares. A ocorrência, junto com o material apreendido, foi entregue na Delegacia Regional de Vitória. As armas apreendidas serão encaminhadas para o setor do Departamento de Criminalística - Balística, da Polícia Científica (PCIES).
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