Gabriel (1997-2020) é daquele tipo de gente que se senta na sua frente com a postura impecável. Daqueles moços que realmente escutam o que você tem para dizer, não só espera sua vez de falar. Assente com a cabeça e faz interjeições de concordância até quando não concorda com uma palavra do que você diz. Traz uma mão ao queixo, e apoia na mesa o cotovelo: poderia ouvir você por horas.
Gabriel é daquele tipo de gente que sempre sabe o que dizer. E qual vinho pedir. E em qualquer uma das várias línguas que ele poderia pedir um vinho. Sempre sabe as letras das músicas e as rimas das poesias. E os ministros, ele também sabe todos eles.
Gabriel tem um pouco daquela gente que você não encontra por aí muito mais: daquela gente que sempre parece estar engomada, até mesmo quando está de roupa de praia. O tipo de pessoa que exala elegância até nas situações mais desalinhadas; que tem cara de couro, ferro, madeira e uísque aquela característica de personagens aflitos pelo seu gênio e intelecto.
Gabriel sempre canta quando conhece a música. Sempre pede carbonara. Sempre usa nós ao invés de a gente. Sempre ama por inteiro. Sempre sabe as capitais dos países. Sempre olha no olho. Sempre gargalha quando tem vontade e que gargalhada gostosa.
Gabriel não se vai. Gabriel não se foi. Nos recusamos a usar qualquer verbo no passado; não por tolice ou ingenuidade mas porque ele é presente. Sempre será em todo gesto alinhado que fizermos, em todo vinho que tomarmos, em todo Elvis que ouvirmos, em todo carbonara que nos empanturrarmos e todo verso do I-Juca-Pirama. Sempre que gargalharmos de um jeito engraçado. Sempre.
Dos seus amigos, para sempre.
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