No Beco 28 de Dezembro, em Redenção, na Grande São Pedro, em Vitória, as casas são erguidas umas bem coladinhas às outras. Por lá, é difícil a luz entrar e, definitivamente, não é lugar onde o vento faz a curva porque também falta ventilação. Nessas condições, problemas de saúde são recorrentes. Assim vivia a operadora de caixa Juliana Ribeiro do Nascimento dos Santos, num imóvel que não tem número, mas que agora, após ser selecionado em um projeto de reformas, está se tornando apto à moradia.
Juliana foi contemplada pelo Adote uma Casa, projeto de extensão da Universidade de Vila Velha (UVV), que reúne alunos de Arquitetura e Engenharia Civil para oferecer assistência técnica à população de baixa renda, transformando imóveis em ambientes adequados para as pessoas viverem. A família da operadora de caixa é a quinta a ser beneficiada.
Além de desenvolver projetos que eliminam problemas como infiltração, vazamento de esgoto, baixa luminosidade e pouca ventilação, que favorecem o aparecimento de doenças, a equipe do Adote uma Casa também busca parceiros para viabilizar a execução da reforma.
A mão de obra da residência de Juliana está sendo paga com recursos do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU-ES), enquanto os materiais são doados por empresas da área de construção. O custo das reformas varia de R$ 12 mil a R$ 15 mil e, em geral, os donos da casa precisam se mudar para outro local durante as obras.
Entre os critérios para a família ser selecionada para o projeto, estão: ter renda de até três salários mínimos (R$ 2.994) e o imóvel estar situado em uma Zona Especial de Interesse Social (Zeis). Nessa região, a equipe conta com o apoio de agentes comunitários para mapear as casas que precisam de intervenção.
Alexandre Nicolau explica que, quando a casa tem risco de desabamento, o custo fica muito elevado e o projeto não tem condições de assistir. Nessa situação, a Defesa Civil é comunicada para que sejam adotadas as providências necessárias. O foco do "Adote uma Casa" é, sobretudo, eliminar problemas que afetam a saúde e a qualidade de vida das famílias. "Já atendemos uma família que, num espaço de 28 metros, moravam oito. Ampliamos a casa e a tornamos habitável", conta.
Na casa de Juliana, a dificuldade ia além do espaço. Com chuva ou sol, a família sofria. Insetos se proliferavam, bem como eram recorrentes os problemas respiratórios.
Aos 34 anos, casada com Carlos José Souza dos Santos Nascimento e mãe de três meninas, Juliana é só alegria com a perspectiva de ocupar a casa nova. O local agora tem dois quartos, o teto foi elevado, as janelas foram melhor posicionadas, foram tratados problemas de vazamento de esgoto e infiltração. A casa também recebeu uma demão de tinta e novo piso, entre outros serviços de acabamento.
Para a mudança, que deve acontecer até o início de dezembro, está sendo colocado o forro no teto. A equipe do "Adote uma Casa" ainda está em busca de parceiros para poder colocar um armário na cozinha, já que o anterior não cabe porque houve a necessidade de instalar uma janela para aumentar a ventilação.
"O que estou vendo aqui é um sonho realizado. A palavra que tenho é gratidão por esse projeto em minha vida. A gente é acostumada a ver essas coisas na tevê, e quando meu esposo falou que iam reformar a nossa casa, nem acreditei. Estou muito, muito feliz. Quando chegar o final do ano, vou falar: 'Ano novo, vida nova!'"
Além das famílias atendidas, o projeto também colabora com a formação dos estudantes, colocando no mercado um novo perfil de arquitetos e engenheiros, com uma visão mais ampla sobre o problema das moradias no Estado e no país. No Espírito Santo, conforme o número inscritos no CadÚnico, o déficit habitacional atinge mais de 220 mil pessoas, o equivalente a 74 mil famílias.
"Estar nesse projeto foi uma boa oportunidade porque é um ramo que não é muito falado, e os arquitetos também trabalham pouco. Foi uma oportunidade grande estar com as famílias, conhecer e saber dos problemas que enfrentam no dia a dia", destaca Clara Sorrentino, 21 anos, aluna de Arquitetura.
"No projeto, eu aprendi coisas que não tive contato tão íntimo em sala de aula, como a arquitetura social. Sinto que isso é um diferencial na minha graduação", acrescenta Brunna Pauli Rios de Souza, 22, também estudante de Arquitetura.
Para o estudante de Engenharia Civil, Gabriel Monteiro Flegler, 21, outro aspecto fundamental desse processo é ver o impacto sobre as famílias. "Foi muito bom ver a felicidade da Juliana pelo nosso trabalho de conseguir deixar a casa dela um ambiente mais vívido. Da primeira vez que estivemos aqui, eram nítidos todos os problemas que ela apontava. Depois, quando retornamos com a casa toda pintadinha, mais ventilada do que antes, ela ficou muito feliz e isso traz felicidade para a gente também".
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