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Especialista sobre erosões: 'Estamos pagando por construções erradas'

Especialista sobre erosões: "Estamos pagando por construções erradas"

Especialistas explicam causas do fenômeno e apontam soluções

Publicado em 23 de julho de 2019 às 10:25

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Entenda o fenômeno da erosão. (Infografia | Marcelo Franco)

Os danos causados pela força do mar e presenciados nos últimos dias são resultado de ocupações inadequadas feitas no passado, juntamente com um fenômeno meteorológico que atingiu a costa, segundo especialistas.

O pesquisador da Ufes e especialista em Oceanografia, Renato Ghisolfi explica que diversos fatores influenciam no avanço do mar, como frentes frias, ventos fortes, além de um aumento natural do nível do mar ao longo dos anos. Contudo, a interferência humana nas áreas costeiras, de forma irresponsável, é fundamental para entender os estragos que a força do mar tem causado.

“A erosão é um processo natural, mas que tem atingido essas proporções em uma costa que provavelmente não obedeceu regras de ocupação. São locais que foram ocupados sem seguir as instruções de gerenciamento costeiro, tornando a costa vulnerável a este sistema. Toda ação feita pelo homem tem causa e efeito. Esse é o preço que estamos pagando pelo que foi construído errado”, declarou.

O mar agitado e a força das ondas que atingiram a costa também contribuíram para a intensificação dos danos. De acordo com Leonardo Klumb, oceanógrafo e professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), , o fenômeno meteorológico registrado no litoral capixaba na última semana é esperado durante o inverno, com chegada de uma frente fria e aumento da força dos ventos.

“Quanto maior a energia do vento, maior a formação e intensidade das ondas e do impacto delas na costa. Já se espera fenômenos como este nesta época do ano”, disse.

FREQUÊNCIA MAIOR

De acordo com os especialistas, a tendência é que as erosões aconteçam com cada vez mais frequência e de forma mais intensa. Isso porque, além das ressacas sofrerem interferência de diversas variáveis, as costas já se encontram vulneráveis.

“Nossas cidades litorâneas tomaram áreas de restingas. Em Guarapari, a estrada foi construída à beira de uma falésia. Essas áreas estão cada vez mais vulneráveis à destruição, porque foram feitas em locais inadequados, que não possuem a areia que as ondas vêm para retirar. Sem areia, o mar avança, quebra estradas. Ele está tentando restaurar o que era dele”, explicou o oceanógrafo Eduardo Gomes.

SOLUÇÕES

Apesar de não ter efeito permanente, o engordamento das costas é a solução mais adequada para minimizar o efeito das erosões, segundo os oceanógrafos. Leonardo Klum alerta, porém, que são necessários estudos e manutenção constante diante destas medidas paliativas.

“Quando você faz um engordamento, estima-se que cerca de 30% da areia se perde. É preciso pesquisar o tamanho dos grãos, o tipo de areia e tentar repor aquilo da forma mais parecida. O engordamento é uma das opções mais viáveis, mas precisa ser estudado e precisa de manutenção”, frisou.

A solução ideal, mas também classificada como utópica pelos especialistas, seria devolver ao mar a área que originalmente pertence a ele.

“Seria ideal que chegasse toda construção para trás, que houvesse um afastamento de pelo menos 200 metros da costa. Porque aí você deixa o mar agir naturalmente, a buscar o equilíbrio”, disse Klumb.

“Na briga entre o oceano e o homem, não é o oceano que perde. A única medida efetiva é afastar. Ou eu vou construir uma estrada do outro lado, ou eu vou fazer um desvio”, finalizou Renato Ghisolf, referindo-se à ES 060, danificada pelo avanço do mar.  

ONDAS FORTES E MAR AGITADO CONTINUAM AINDA HOJE

De acordo com o Instituto de Meteorologia Climatempo, as ondas devem continuar fortes ainda hoje no litoral capixaba. A tendência é que o mar comece a se acalmar com o enfraquecimento da frente fria no Estado.

“Há uma forte presença de ventos em todo o litoral brasileiro. Isso tem causado agitação marítima e a formação de ondas grandes”, declarou Ângela Ruiz, do Climatempo.

O Serviço Meteorológico Marinho informou que não é raro observar ondas com altura máxima que ultrapasse o limite previsto, chegando a 4 metros nesta época do ano.

A variação se dá, de acordo com a Marinha, por fatores como persistência dos ventos, orientação da praia, características do fundo, entre outros.

A ressaca que tem atingido o Espírito Santo nos últimos dias está mais persistente devido ao sistema de alta pressão que está atuando no litoral do país.

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De acordo com o Centro de Hidrografia da Marinha, a ressaca já dura uma semana no Espírito Santo. A condição tem sido monitorada e deve continuar pelo menos até hoje, quando está prevista uma diminuição gradual das ondas na costa.

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