> >
CRM pode punir médicos por uso de material que deveria ser descartado

CRM pode punir médicos por uso de material que deveria ser descartado

Conselho de Medicina pretende enviar um ofício para que unidades se pronunciem

Publicado em 17 de janeiro de 2018 às 02:39

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Carlos Magno, presidente do CRM, diz que é preciso se há responsabilidade de profissionais e diretorias. (Marcelo Prest - GZ)

O Conselho Regional de Medicina (CRM) vai solicitar ao Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção (Nuroc) informações sobre quais hospitais são suspeitos de envolvimento na reutilização de produtos cirúrgicos. Investigações feitas pelo grupo indicam que produtos médicos descartáveis estavam sendo utilizados em procedimentos cirúrgicos na área ortopédica em hospitais privados.

De posse da lista, o CRM pretende enviar um ofício para que cada uma destas unidades hospitalares se pronuncie sobre os fatos investigados. “Precisamos saber se há participação de médicos, da diretoria, de funcionários, e a partir daí teremos condições de fazer as devidas responsabilizações”, relata o presidente do conselho, Carlos Magno Pretti Dalapícola.

USO

Ele explica que alguns produtos são descartados pelo hospital logo após a sua primeira utilização e que há outros que podem ser reutilizados por um determinado número de vezes, segundo normas específicas da Anvisa. “É preciso saber se as normas do hospital foram burladas, se foi comprado produto descartado, como se fosse novo, a um custo mais reduzido, e como isto aconteceu”, acrescentou.

Se a diretoria técnica do hospital, que responde pelos procedimentos médicos tinha conhecimento da situação, ou mesmo o médico que utilizava o produto, ambos podem responder a processos éticos junto ao Conselho. “Para além das questões jurídicas, o médico que de alguma forma tiver envolvido nestes fatos, responderá a um processo ético”, destacou.

Dalapícola avalia que este tipo de adulteração é grave. “É absurdo. A fragilidade de um equipamento reutilizado é maior, pode quebrar durante o procedimento e o paciente acaba sendo obrigado a se submeter a um novo procedimento, e cada um deles com risco”, diz.

“Fornecedores negociam com planos”

O Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado do Espírito Santo (Sindhes) avalia que é difícil controlar situações como a enfrentada por hospitais da Grande Vitória diante de fraudes.

Um dos diretores da entidade, Francisco Centoducatte, explica que, quando um procedimento vai ser realizado nos hospitais, é o plano de saúde que faz a negociação com fornecedores e, em geral, o produto (material cirúrgico) é adquirido seguindo a lógica do menor preço.

“Ao hospital cabe apenas averiguar a idoneidade da empresa fornecedora com base nos documentos apresentados e, no caso da Golden Hospitalar, ela estava regularmente constituída. Os hospitais não recebem dinheiro algum dos fornecedores”, afirma Francisco Centoducatte.

Então, até o primeiro indício de irregularidade, no ano passado, o diretor do Sindhes ressalta que os hospitais não tinham como saber que a empresa praticava falsificações. “Mas, com o início das investigações, os planos foram informados que não receberíamos nada mais desse fornecedor.”

INFECTOLOGISTAS: RISCO ALTO DE CONTAMINAÇÃO

Ao tomarem conhecimento da reutilização de materiais cirúrgicos para procedimentos ortopédicos que deveriam ter sido descartados, médicos infectologistas avaliaram a situação como grave. Para eles, a possibilidade de contaminação com itens reutilizados é grande para pacientes submetidos a procedimentos com esses produtos.

“Essa é uma situação gravíssima e inadmissível porque coloca a pessoa em risco de infecção”, ressalta o médico Carlos Urbano.

O infectologista explica que, quando um material é indicado para uso único, uma das razões é a dificuldade de sua esterilização para ser reaproveitado.

Isso significa, segundo Carlos Urbano, que materiais descartáveis quando são reutilizados podem guardar matéria orgânica, levando ao risco de uma infecção hospitalar.

SEM EFICÁCIA

Também infectologista, o médico Crispim Cerutti Junior acrescenta que, mesmo que tenha havido a tentativa de esterilizar o material cirúrgico, não está descartada a possibilidade de ter perdido a sua eficácia.

QUALIDADE

Isso porque, ao ser reprocessado sem que tenha características para essa ação, o produto de uso cirúrgico perde qualidade técnica e sua funcionalidade, de acordo com Crispim Cerutti.

“Além disso, quando ele é classificado como de uso único, é porque não é possível esterelizá-lo totalmente. Então, existe sim o risco de contaminação para esse material e, consequentemente, ao paciente”, observa o infectologista.

FRAUDE NA IMPORTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS

Três municípios do Espírito Santo foram alvos da Operação Zona Cinzenta, realizada ontem pela Polícia Federal, e que visa combater a fraude na importação de equipamentos médicos. Foram cumpridos três mandados de busca e apreensão em Linhares e Nova Venécia, Norte do Estado, e Iúna, na Região do Caparaó.

Esta é a segunda fase da Operação Equipos, que busca identificar organização criminosa que usa a aduana de Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina, para contrabando. A Polícia Federal não informou os locais onde foram feitas as buscas e nem quantos policiais da superintendência capixaba participaram. Não houve prisão.

Os alvos da operação são empresários e pessoas do ramo de exportação e importação, revendedores, clínicas, hospitais, despachante aduaneiro, além de um doleiro.

Este vídeo pode te interessar

 

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais