Irmã Ana Paula CMES
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Irmã Ana Paula

"As redes sociais são uma forma eficaz de evangelizar"

Freira capixaba virou fenômeno da música católica, arrastando multidões no Brasil e também no exterior

Irmã Ana Paula CMES
Publicado em 16/02/2020 às 13h22
Atualizado em 16/02/2020 às 13h22

Um dos grandes nomes da música católica no Brasil, a irmã Ana Paula, da Ordem das Irmãs Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo, compôs 70 músicas, tendo 50 delas gravadas. Natural de Ponto Belo, município no extremo Norte do Estado, a freira já lançou quatro discos e faz shows no Brasil e no exterior arrastando multidões com suas canções. Além de compositora, cantora e escritora, a freira ainda estuda Teologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. No ano passado, a religiosa publicou o livro “O Segredo de Ser Você”, obra que ela mesma define como antropológica, onde quer responder a grande pergunta “Quem é você?”.

Diante de todo o reconhecimento, conseguiu acumular milhares de seguidores nas redes sociais: somente no Instagram são 110 mil. Em entrevista para A Gazeta, a capixaba revela detalhes sobre toda a sua trajetória e defende a importância da música e das redes sociais como forma de evangelizar. “Tem que meter a cara e utilizar de todos os recursos para levar o nome de Jesus, desde que não afete seu testemunho”, opina irmã Ana Paula.

Irmã Ana Paula, como foi sua trajetória antes de se tornar freira?

Fui batizada na Paróquia Sagrado Coração de Jesus e cresci gostando de festa. Havia algo no meu coração que sempre me atraía para Deus, mas eu negava. Eu não gostava de ir para a igreja, a gente não nasce com vontade de ser freira. Minha mãe me educou na fé e falava para eu ir para a catequese, para a igreja, mas eu ficava rezando para acabar logo. Fui uma adolescente que nunca fiz nada de errado que afetasse a integridade da minha família e a minha, nada relacionado com drogas, mas gostava de festas, de dançar e de ter meus namorados.

Quando começou a gostar da Igreja?

Depois dos 13 anos, fiz a Primeira Comunhão, foi a partir disso que comecei realmente a me engajar mais, a participar das missas. Eu ia e não tinha mais vontade de ir embora. Ia na capela rezar à tarde sozinha. Foi nesses momentos sozinha com Deus que muitas vezes via o dia escurecer e não percebia. Meu coração foi sendo tomado, fui me apaixonando.

Como percebeu que poderia se tornar freira?

Recebi convite para fazer retiro e nele conheci um Deus que me amava absurdamente do jeito que eu era, com minhas imperfeições, meus medos. Deus começou a me fascinar. Quando percebi, já estava altamente seduzida por Ele. A palavra diz que ele escolhe os fracos para confundir os fortes, os pequenos para confundir os fortes. Uma vez eu questionei: “Senhor, por que me escolheu?”. No meu coração eu o ouvi dizendo que me conhecia e que precisava de mim sob o seu domínio.

Sua família aceitou sua decisão com alegria?

Minha mãe não se opôs apesar de deixar claro que minha ausência causaria um sofrimento grande a ela. Meu pai também disse que não era o plano que imaginou que eu iria seguir, mas aceitou. Hoje meus pais e meus irmãos são muito felizes com a minha vocação.

Como percebeu que gostava de música?

Aos 13 anos, quando entrei na catequese, não cantava e tocava pouco violão, só que eu tinha vontade de ajudar. Como não sabia cantar, consagrei minha voz a Nossa Senhora e quando percebi já estava cantando. Quando entrei no convento, eu já tocava violão e cantava. Nunca imaginei que fosse seguir carreira musical, eu cheguei ao convento para lavar banheiro, ser freira, nunca pensei em seguir carreira musical ou escrever um livro, Deus foi me conduzindo e, atualmente, faço shows no Brasil e até fora. Minha música mais conhecida é “Sopra em Nós”, que o Padre Marcelo gravou e está chegando até no Japão. Estou vendo a cada dia os milagres de Deus em minha vida.

Uma freira que canta e tem rede social foge um pouco do padrão da Igreja Católica. Não são só os padres que estão buscando esse espaço...

Eu acho que hoje tem que evangelizar e chegar com tudo, se fica para trás em como levar a palavra de Deus, ela não chega. Eu tenho a opinião que a gente tem que meter a cara e utilizar de todos os recursos para levar o nome de Jesus, desde que não afete seu testemunho. As redes sociais são formas eficazes de evangelizar e devem ser cada vez mais desbravadas.

Como que a senhora enxerga o espaço da mulher na Igreja Católica?

Ela conquistou um espaço que não tinha antes. Hoje a mulher tem sido protagonista no meio evangelizador. Antes não podia ter acesso a muitas coisas, como a celebração da palavra, atualmente já pode participar da liturgia.

Qual a principal mensagem que você quer passar no seu livro?

O livro trata do ser humano e o próprio título já evidencia que ele é um segredo. A obra procura abordar a questão do homem não somente do lado antropológico, biológico, psicológico, mas também do lado espiritual. O homem vive buscando uma certa satisfação em si ou em realidades porque anda divorciado da sua própria essência, o livro tem o objetivo de trazer o ser humano a essa essência, para isso é preciso olhar para quem o criou, entender o homem sem olhar para Deus é um engano. Sem Deus o homem é fraco e não reconhece sua essência e não satisfaz as suas intenções mais profundas. O livro fará a pessoa voltar para o interior numa redescoberta de si, redescoberta de Deus, redescoberta de como lidar com as relações. O livro é como se fosse um grito para que o homem acorde e volte a sua essência.

O livro mostra que quem não consegue lidar consigo mesmo não consegue lidar com os demais. É importante saber quem somos e onde queremos chegar?

Claro. A gente observa que as pessoas estão doentes, mas não percebem isso e, consequentemente, não conseguem se relacionar. Muitas por não terem o conhecimento interior dos seus pontos fracos se tornam agressivas, por exemplo. Ninguém agride por agredir ou nasce agressor, nós muitas vezes transbordamos o que está dentro de nós. Se estamos feridos vamos transbordar feridas. O relacionamento consigo mesmo reflete o relacionamento com outros. Numa empresa uma pessoa pode ter muita capacidade de realizar o trabalho, mas se não tem facilidade de convivência é demitido porque o relacionamento é tudo. O ser humano deve fazer o desbravamento interior, não ter medo de encarar os monstros que estão dentro dele, não ter medo de encarar os defeitos, os traumas. É necessário sempre tratar as imperfeições à luz de quem o criou porque sozinho você não é nada, Deus ajuda a sanar os problemas.

A senhora diz que as pessoas vieram do amor, mas muitas acabam seguindo caminhos contrários. As coisas externas podem determinar o interior?

O ser humano quer ser amado e nasce do amor de Deus. Todo ser humano quer ser feliz, até aquele assassino. Muitas vezes, a pessoa usa drogas ou vai atrás do prazer momentâneo para se sentir feliz, mas aquilo não consegue preencher o que busca. Ele vai se degradar até chegar ao fundo do poço. Quando chegar nesse nível pode perder o sentido da vida ou encontrar a luz no fim do túnel, um Deus que pode dar sentido para a vida. As escolhas que nós fazemos interfere no interior, os meus atos vão me levar a certas consequências, mas muitas pessoas não pensam nelas.

Uma coisa que você diz é que somente com Deus o homem é plenamente realizado. O homem não consegue ter uma vida plena sem encontrar Deus?

Eu acredito que o ser humano não pode ser plenamente realizado como corpo, alma e espírito sem Deus. O ser humano pode até ser realizado materialmente, ter tudo, mas e o interior como fica? O interior do homem foi criado por Deus e, lá no fundo, por mais que ele viva longe de Deus há um lugar que só Ele pode ocupar.

Como buscar Deus?

Deus se revela na Igreja, mas também fora do templo, pode se revelar no caminho das pessoas. Porém, isso não tira a importância de estar na comunidade vivendo a revelação de Deus. A Igreja é a depositária da fé. O próprio Deus frequentava a sinagoga, o templo. É importante estar inserido na Igreja, porém isso não limita o poder de Deus, ele vai à sarjeta, vai onde o ser humano estiver caído. Deus está em todo lugar. A forma de se manter conectado com Ele é através da oração, ela é justamente a fusão entre Deus e a alma humana.

Irmã Ana Paula CMES . Crédito: Da Chirie Produções
Irmã Ana Paula CMES . Crédito: Da Chirie Produções

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